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Após greve, abastecimento ainda é irregular em São Paulo; sindicato fala em 40% de postos abastecidos

Fabrício Calado

Do UOL, em São Paulo

09/03/2012 11h02Atualizada em 09/03/2012 12h58

Na manhã desta sexta-feira (9) a reportagem do UOL percorreu 15 postos de combustível das regiões central, norte, leste e oeste de São Paulo e constatou que na zona oeste o abastecimento parece regularizado, enquanto na zona norte alguns estabelecimentos continuam sem combustível desde terça-feira (6).

O fornecimento foi interrompido na segunda-feira (5) por uma paralisação dos caminhoneiros que abastecem a Grande São Paulo --eles protestam contra a proibição de circular pela marginal Tietê nos horários de maior movimento de tráfego. A greve terminou na noite de quarta-feira (7), mas o serviço só deve ser normalizado no começo da semana que vem, segundo cálculos dos sindicatos da categoria. Os caminhoneiros e distribuidoras vão trabalhar em regime especial, inclusive no fim de semana.

"Desde ontem eu fiquei sem álcool. Mas desde terça estou sem gasolina", afirma André Marra, 35, dono de dois postos nas regiões norte e central da capital. Segundo ele, no posto do centro, que é independente, o abastecimento foi regularizado hoje; no da zona norte, que é bandeira, ainda não.

O empresário estima que seu prejuízo até agora seja de R$ 4.000 por dia. Apesar disso, ele se diz favorável às reivindicações dos caminhoneiros. "Acho que eles estão certos, porque antes faziam quatro viagens por dia e, agora, no máximo duas. O problema é que com a prefeitura só dá pra falar com a faca no pescoço."

Perto dali, também na zona norte, em um posto na avenida Brás Leme, os funcionários estão com os braços cruzados desde as 18h de ontem. O único movimento no posto --fora os desavisados que querem abastecer e vão embora frustrados-- é de motoristas que abastecem seus veículos com Gás Natural Veicular (GNV). "Como o posto é 24 horas, veio gente aqui trabalhar de madrugada, mas ficaram fazendo nada", diz o frentista Valdir Veloso de Souza, 37.

Ele considera a paralisação justa, mas acha que ninguém deveria ser prejudicado por ela.  "Tinha de ter rodízio por placa, como é com os carros pequenos, e faixa exclusiva para caminhão, como é com os ônibus", sugere.

Sindicato fala em 40% de postos abastecidos

Para o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo (Sincopetro), entre 35% e 40% dos postos da capital paulista já têm combustível disponível nas bombas. O presidente do Sincopetro, José Alberto Gouveia, disse que, no máximo, até terça-feira (13) a situação já estará normalizada. “Até lá, o que pode ocorrer é o consumidor ter que procurar o combustível em mais de um posto, mas ele vai encontrar.”

Durante a paralisação dos caminhoneiros contra à restrição, a Polícia Militar fez escoltas para garantir o fornecimento de combustível a serviços essenciais, como aeroportos, polícia e limpeza urbana. No total foram feitas 127 escoltas para 277 caminhões. De acordo com a PM, a operação permitiu o transporte de 10 milhões de litros de combustível, volume equivalente a cerca de 20% da demanda diária da capital paulista. Desde ontem (8) de manhã, os caminhões já operam sem a necessidade de acompanhamento policial.

Motoristas contra e abuso nos preços

A mesma tolerância demonstrada por funcionários de postos não é encontrada em alguns motoristas. "Já é a segunda vez que tento colocar gasolina. Para mim, essa greve não tem razão de existir. Eles tem horários alternativos para circular", afirma o aposentado Vandocir de Camargo, 67.

Além de ser contra a paralisação, ele considera que restringir a circulação dos caminhõs melhorou a fluidez do trânsito. "O caminho que antes eu demorava uma hora para percorrer, do Itaim à zona norte, agora leva 40 minutos."

Outro motorista que se diz prejudicado é o técnico de informática Roberto Martins, 33, morador de Barueri, na Grande São Paulo. "Tive que percorrer quatro postos  até achar gasolina, pois só encontrava álcool", afirma ele, cujo carro não é flex.

Para Martins, o problema da paralisação é que "sempre sobra para o consumidor, inclusive no preço". Ele disse que viu postos que se aproveitaram da situação para inflar o preço do combustível. "Eu não paguei mais caro, mas vi posto cobrando R$ 4,00 pela gasolina, quando o normal naquela região é de R$ 2,79 o litro".

Na zona leste, um motorista afirma que há fila de espera nos poucos postos que contém combustível. "Tive de rodar quatro postos hoje, da zona leste até aqui [zona norte] para abastecer", diz o gerente de vendas Alex Sandro da Silva, 37, morador do bairro de Ermelino Matarazzo, e cujo carro não é flex. "Ontem, às 23h, tive de esperar meia hora no posto para abastecer por causa de fila".

Segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo), o preço da gasolina em São Paulo deve variar entre 2,390 e 2,899. Já o álcool deve ficar entre 1,590 e 2,099. A especulação por meio da cobrança indevida  é vedada pela lei 1.521/51.


Denúncias e prisões

A Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) contabiliza mais de 200 denúncias feitas contra postos de combustíveis desde a segunda-feira (5), quando teve início a greve. Com a falta do serviço, alguns postos cobraram preços abusivos nas bombas –o litro de gasolina chegou a ser encontrado por R$ 4,99 na zona norte. O órgão afirmou que vai autuar ao menos 18 postos.

O Procon esclarece que, de acordo com o Código de Defesa do Consumidor, é considerada como prática abusiva “elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços”.

“É muito importante que o consumidor exija a nota fiscal e denuncie. Na capital a denúncia pode ser feita pelo telefone 151”, afirma o Procon. O diretor executivo, Paulo Arthur Góes, informa que as denúncias serão investigadas pelo órgão e “se confirmada a conduta, o posto será multado e o caso encaminhado ao Ministério Público, para análise da questão criminal”. O valor da multa varia entre R$ 400 a R$ 6 milhões.

Na noite de ontem, a Delegacia para Crimes contra o Consumidor de São Paulo afirmou que vai indiciar 11 donos e gerentes de postos de combustíveis de São Paulo que cobraram preços abusivos. 

“Ficou provado que os indiciados tiveram ou tentaram obter ganho ilícito se aproveitando da falta de combustível gerada pela paralisação”, afirmou o delegado Archimedes Cassão Veras Jr. “Pela manhã [de ontem] investigadores foram às ruas e não encontraram cobrança abusiva”, relatou.

(Com Agência Brasil)