Pequenos caminhões crescem mais que frota total de SP e devem se tornar próximo problema do trânsito, dizem analistas
Dados do Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo) mostram que, de janeiro de 2008 a janeiro deste ano, houve diminuição no número de caminhões de grande porte e um aumento expressivo de caminhonetas na cidade de São Paulo --tendência que segue também para o restante do Estado, onde, contudo, os veículos pesados ainda estão em processo de expansão.
Para especialistas em tráfego urbano consultados pelo UOL, a situação tem relação direta com as restrições de tráfego a veículos pesados implementados na capital, desde 2007, e em breve devem se tornar um novo problema no trânsito da cidade e na região metropolitana. No início deste mês, a Prefeitura de São Paulo decidiu ampliar a restrição de fluxo dos caminhões na marginal Tietê e em outras grandes vias --o que gerou uma greve de trabalhadores do transporte de cargas e o desabastecimento de combustíveis na cidade e na Grande SP.
Conforme os dados do Detran, o número de caminhonetas --os chamados VUCs (Veículos Urbanos de Carga)-- registradas pelo órgão na capital paulista saltou cerca de 40% em janeiro deste ano, com 768.811 veículos, em comparação a janeiro de 2008 --quando eram 548.965. No restante do Estado, o número passou de 1.025.565, há quatro anos, para 1.581.021, neste --aumento de 54%.
O avanço dos caminhões de menor porte supera o crescimento da frota total na capital e nos demais municípios paulistas, onde o número total de veículos emplacados cresceu, respectivamente, 16,8% e 27,4% desde 2008. Conforme o Detran, só São Paulo detinha, em fevereiro passado, 7.207.165 veículos --quase metade dos 15.983.932 no restante do Estado.
Única categoria a diminuir nas ruas da capital, os caminhões tiveram decréscimo de 2,6% de janeiro de 2008 (158.865 veículos) para janeiro deste ano (154.643), mas cresceram nas demais cidades paulistas nos últimos quatro anos: foram 614.691, este ano, contra 468.022 em 2008, incremento de 31,3% na frota.
"Sequelas" das restrições
Para o consultor de engenharia urbana Luiz Bottura --que foi ombudsman de projetos da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) durante quatro meses em 2011--, o aumento dos VUCs na capital “é uma comprovação direta” das restrições impostas aos caminhões de carga nos horários de pico. “É a única lógica possível. Ocorre que algumas cargas não se tem como partilhar ou não tem local [para estacionar] –o resultado é que estão fazendo isso nas ruas em detrimento da população”, afirma.
“O VUC tem mais flexibilidade no trânsito, é fato, mas não resolve o problema em São Paulo. Pelo contrário: as sequelas às vezes são maiores que as restrições, pois elas vão beneficiar, no fim, automóveis particulares, quando quem transporta alimentos e combustíveis, por exemplo, são os caminhões maiores. E não tem como dividir essas cargas em tantos caminhões menores”, diz Bottura.
Para o professor José Alex Sant´Anna, doutor em engenharia de transportes pela USP (Universidade de São Paulo) e professor da Universidade Federal do ABC, em Santo André, as restrições a veículos maiores vão “apenas criar adaptações, sistemas alternativos”. “Com o rodízio em São Paulo já foi assim: as pessoas passam a ter dois, três carros. E com o transporte de cargas restrito vai ser a mesma coisa: você pode até ficar livre daquela impressão visual causada pelo caminhão pesado, mas não vai se livrar dos quatro, cinco caminhõezinhos que vão substituí-lo."
Na avaliação de Sant’anna, não são as restrições que ajudarão o trânsito a fluir nos horários de pico. “Há um problema sério de planejamento, e mesmo no transporte coletivo, um pouco mais planejado, isso ainda é tacanho. Não adianta fazer grandes viadutos se vias que precisam ser abertas ou pavimentadas não o são --o único filão a ser dar bem, no fim, será mesmo o das montadoras desses VUCs”, completa.
A reportagem pediu um balanço de resultados da última restrição aos caminhões à CET, mas foi informada de que o levantamento ainda não foi finalizado.
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