Agredido por PMs em Cuiabá, turista argentino diz que teve três dentes quebrados
O chefe da seção jurídica da Embaixada da Argentina no Brasil, Gabriel Herrera, classificou, nesta quinta-feira (5), a agressão de dois turistas argentinos em Cuiabá (MT) como falta de preparo de policiais militares no Estado. O caso ocorreu no último sábado (31).
Um dos agredidos, o mestre em hotelaria Ignácio Augustin Luján, 25 anos, perdeu três dentes e ficou com o rosto marcados por socos desferidos pelos PMs Robson Rocha e Franco Nascimento. Ignácio estava como o irmão Luis Marcelo Luján, 28, que é engenheiro eletricista.
Outro caso
Em setembro do ano passado, dois PMs espancaram até a morte o estudante africano Toni Bernardo, de Guiné-Bissau, que era aluno da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Segundo a advogada dos argentinos, Beatriz Viana, os turistas se divertiam na boate Gerônimo, no centro de Cuiabá, com três moças. Uma delas é namorada de Rocha, que se sentindo preterido e partiu para a agressão contra Ignácio, segundo relato das vítimas.
O soldado espancou com socos o rosto do argentino. O irmão estava fora da boate e ao retornar, só viu o tumulto.
Em poucos minutos, uma equipe da PM chegou ao local e deteve os argentinos. Os policiais agressores, que também se divertiam na boate, acusaram os irmãos de furtarem a câmera. O carro dos turistas, locado em Cuiabá, foi todo revistado e o equipamento não foi encontrado.
Os argentinos foram levados para o Centro Integrado de Segurança e Cidadania (Cisc) no bairro Planalto. Depois, os PMs que teriam cometido a agressão chegaram com uma câmera.
Apesar de todas essas dúvidas, o flagrante foi lavrado e os turistas mandados para um presídio comum, sem qualquer comunicação com a Embaixada da Argentina ou com a Polícia Federal de Mato Grosso. Enviar estrangeiros não julgados para um presídio comum é vetado pelo Tratado Interamericano de Direitos Humanos.
O representante da Embaixada da Argentina também disse que os policiais foram arbitrários com os turistas e são suspeitos de falsificarem provas para incriminar os irmãos.
“Eles estão mal preparados e isso é ruim porque Cuiabá vai sediar jogos da Copa do Mundo em 2014 e, para cá e em outros Estados do Brasil, virão milhares de argentinos. Estamos preocupados com este tratamento”, disse o jurista.
Gabriel Herrera também criticou a falta de informações a respeito do caso no dia da prisão (sábado) até na segunda-feira. “A gente [Embaixada da Argentina] ligava para as autoridades e ninguém sabia da nada”, declarou.
O representante da Corte Interamericana de Direitos Humanos, o defensor público de Mato Grosso, Roberto Tadeu Vaz Curvo, também concorda com a observação do jurista argentino e acusa os policiais de agirem de forma truculenta, e até de má fé até com a própria corporação, já que montaram uma farsa para acusar os argentinos.
Gabriel Herrera disse que a primeira providência dos argentinos é provar a qualquer custo a inocência deles em relação à acusação do furto. Depois vão se posicionar a respeito de um possível processo contra o governo brasileiro.
Herrera, apesar das críticas, descarta um possível incidente diplomático. “Foi um caso isolado”, resumiu.
Outro lado
O secretário adjunto de Segurança Pública, o policial federal Alexandre Bustamante, recebeu na quarta-feira (4), o representante da Embaixada da Argentina e reconheceu a ineficiência de alguns policiais militares e civis em lidar de casos como este que ocorreu com os turistas argentinos.
Segundo Bustamante, foi aberto um procedimento na Corregedoria da Polícia Militar e os soldados devem ser afastados das atividades. Eles são lotados no pelotão em Santo Antônio de Leverger, região metropolitana de Cuiabá.
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