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Após reportagens, CDHU responsabiliza moradores por problemas em imóveis em SP

Em vários apartamentos do conjunto da CDHU Pari A1/A2, no centro da capital paulista, há registro de goteiras no teto, que provocam manchas escuras - Leandro Moraes/UOL
Em vários apartamentos do conjunto da CDHU Pari A1/A2, no centro da capital paulista, há registro de goteiras no teto, que provocam manchas escuras Imagem: Leandro Moraes/UOL

Do UOL, em São Paulo

19/04/2012 21h07Atualizada em 19/04/2012 22h18

Depois das reportagens publicadas pelo UOL nesta terça-feira (17) que apontam uma série de defeitos em prédios da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), a estatal responsabilizou os moradores dos residenciais pelos problemas nas partes internas e externas dos imóveis.

Segundo a reportagem, prédios inaugurados recentemente pela CDHU acumulam vários problemas, como rachaduras em colunas, infiltrações, problemas nos encanamentos que alagam os apartamentos, muros de arrimo que podem desabar a qualquer momento, barrancos completamente desprotegidos bem ao lado dos prédios, fiações expostas, falta de iluminação em áreas comuns, entre outros.

Outro texto aponta que, nos últimos meses, problemas surgiram em uma série de unidades da CDHU em todas as regiões do Estado. Em um dos casos em que aconteciam vazamentos nas pias, fissuras nas paredes e portas e janelas que não fechavam no conjunto habitacional Paulo Gomes Romeu, o então diretor da CDHU em Ribeirão Preto, Milton Vieira de Souza Leite, culpou os moradores pelos problemas, alegando que eles são “moradores da favela” e não estão “acostumados a viver em casa”. Após a repercussão negativa das declarações, o dirigente da estatal pediu demissão.

A reportagem do UOL visitou, acompanhada pelo engenheiro urbanista Vagner Landi, duas unidades da CDHU com problemas: a Brasilândia B34 e a Pari A2. A CDHU diz que os dois conjuntos foram inaugurados em “perfeitas condições” e que problemas pontuais já foram sanados.

De acordo com a estatal, a maior parte dos problemas apontados ocorreu por “falta de manutenção, de responsabilidade do condomínio, ou por fatores que não estão relacionados à qualidade da obra, executada rigorosamente de acordo com os projetos, com materiais certificados pelo Programa Estadual de Qualidade Civil.”

A estatal diz ainda que as unidades foram entregues apenas após “check list” realizado junto com cada morador. Apesar de se isentar da culpa pelos defeitos, a CDHU diz que acionou técnicos, fiscais e as construtoras para vistoriarem os prédios e realizarem os reparos necessários.

Brasilândia B34

No Brasilândia B34, que fica no Jaraguá, zona norte de São Paulo, os apartamentos foram inaugurados em janeiro de 2011. Apesar de novos, os blocos estão com a tinta gasta, pintura descascando e vários remendos de massa corrida, o que lhes dá aparência mais velha.

Sobre isso, a CDHU diz que o conjunto foi inaugurado em “perfeitas condições” e que os remendos foram feitos pelos próprios moradores --eles dizem que receberem o prédio com os remendos.

Nenhum dos quatro prédios do conjunto tem o Habite-se, documento pelo qual a prefeitura atesta que a construção está em acordo com a legislação e, portanto, pode ser habitada sem riscos.

SAIBA MAIS SOBRE OS
IMÓVEIS DA CDHU

Quem tem direito?
Os imóveis da CDHU são destinados a famílias com renda entre um e dez salários mínimos; 80% dos mutuários da CDHU possuem renda familiar de até três salários mínimos.

Quanto custa?
Os custos dos imóveis e as condições de pagamento dependem do programa adotado no atendimento às famílias e da localização do empreendimento.

Como é o financiamento?
Na maioria dos programas, o prazo de financiamento habitacional é de 300 meses, com prestações subsidiadas pelo governo do Estado e calculadas de acordo com a renda. Famílias com renda de até três salários, por exemplo, pagam 15% dos rendimentos de prestação.

Como conseguir?
As famílias são beneficiadas por meio de sorteio público ou são atendidos grupos alvos previamente definidos, como moradores de áreas de risco, favelas e cortiços. No caso do sorteio, quando há oferta de empreendimento no município, é publicado edital de abertura de inscrição.

Qual o tamanho?
Os imóveis da CDHU não seguem tamanhos padronizados. Na cidade São Paulo, a legislação limita o tamanho de habitações de interesse social a 50 m² de área construída. Em 2011, foi aprovada lei que permite o incremento de, no máximo, 30%. As unidades têm de um a três quartos, dependendo do tamanho da família.

Uma das moradoras do conjunto sofre com os constantes alagamentos no seu imóvel, provocados, segundo ela, por problemas no encanamento, que impedem que a água de apartamentos que estão acima do seu escoe. Resultado: a água volta pelo ralo da lavanderia e inunda o imóvel. Para o engenheiro que acompanhou a reportagem, algum defeito no projeto ou construção pode provocar os alagamentos.

A CDHU afirma que as tubulações foram construídas corretamente e que, em vistoria realizada anteriormente, foram encontrados objetos de pano e de plástico que estavam causando o entupimento. Procurada pelo UOL antes da publicação da reportagem, a CDHU não citou a vistoria. Segundo Anara Costa, síndica do prédio, o problema não é de entupimento, já que a tubulação foi desentupida em várias oportunidades e o problema persiste.

Em frente de cada prédio do Brasilândia B34, há barrancos de, em média, cinco metros de altura, sustentados na base por muros de arrimo. No topo de cada barranco também há uma mureta de contenção. No ano passado, uma das muretas desmoronou, mas, por sorte, ninguém ficou ferido. Em seguida, a construtora enviou operários para realizar reparos.

Um engenheiro contratado pelo condomínio para analisar o local em novembro constatou uma série de defeitos na obra que provocaram a queda, entre os quais “falta de compactação do aterro e de muros de arrimo adequados, que provocam rupturas no maciço da terra e abertura de trincas no concreto, por onde a água entra e encharca o solo”.

No laudo encaminhado à CDHU, o engenheiro diz que a “integridade física dos moradores está ameaçada” e cobrou providências para evitar o que chamou de “tragédia anunciada.”

Segundo o engenheiro Vagner Landi, rachaduras nas colunas que sustentam as muretas de proteção indicam que novos desabamentos vão ocorrer. Além disso, os muros de arrimo que seguram o barranco estão cedendo e também podem desabar.

“Para resolver o problema tem que fazer talude, cortar o barranco em um ângulo de 45º e colocar grama para segurar a terra. Isso é regra básica de engenharia”, afirma. Segundo a síndica geral, sempre que chove desce lama dos barrancos para a entrada dos prédios. “O barranco vem junto. Fica tudo alagado.”

A CDHU diz que não reconhece o parecer dos dois engenheiros e que os muros de arrimo foram executados corretamente.  Quanto aos barrancos, a companhia afirma que seguiram projetos elaborados por profissionais especialistas em fundações e geotecnia. A estatal volta a culpar os moradores pelo fato de que o barranco está cedendo, dizendo que o problema é provocado pela falta de manutenção no sistema de drenagem.

Da mesma maneira, a CDHU responsabiliza os condôminos pela queda de telhas, fios expostos e falta de iluminação, ao afirmar que os problemas são fruto da ação de terceiros. A estatal questiona o laudo da Telefônica, segundo o qual problemas na construção dos dutos telefônicos não permite a passagem do cabeamento --o que impede os moradores de ter telefones em casa-- e diz que não há falhas na construção dos dutos.

Em um dos apartamentos, uma rachadura de dois metros se estende do chão ao teto. Segundo Landi, a rachadura atinge uma coluna, o que a CDHU nega: “o problema não está localizado em uma coluna e, sim, no fechamento de gesso de um shaft para passagem de tubulações, sem nenhuma função estrutural. O restauro será executado pela construtora.”

Pari A2

Na unidade do Pari, 117 dos 160 apartamentos apresentaram algum tipo de problema, segundo a própria estatal. De acordo com a CDHU, a maioria dos defeitos são decorrentes da “falta de conservação ou de manutenção inadequada.”

HABITAÇÃO X SEGURANÇA

  • R$ 1,6 bilhão

    é o que o governo de São Paulo gastou com habitação em 2011

     

  • R$ 12,2 bilhões

    valor gasto com segurança pública no mesmo período

     

    Os moradores do conjunto no Pari receberam os imóveis sem azulejos nas paredes do banheiro e da cozinha e sem pisos. A CDHU afirma que, anteriormente, os imóveis eram entregues sem esse tipo de acabamento , mas, no manual que a estatal entregou aos moradores, afirma-se que é obrigação da empresa entregar imóveis com azulejos e piso cerâmicos em perfeito estado.

    O prédio tem uma garagem ampla, que está pronta, mas não pode ser utilizada porque não há qualquer acesso para carros. Os residentes e visitantes são obrigados a deixar seus carros na rua Canindé, onde é proibido estacionar durante o dia.

    Sem uso, a garagem virou local de desova de objetos roubados e de lixo trazido por pessoas de fora do condomínio. Isso porque o muro que separa o prédio do conjunto vizinho, que fica praticamente aberto para a rua, é baixo, permitindo o acesso de pessoas de fora.

    Por conta disso, o sindico diz que extintores, hidrantes e outros equipamentos do prédio são constantemente furtados, deixando a maioria dos andares desprotegidos de incêndios.

    A CDHU diz que o projeto previa que a unidade Pari A1 e A2 integrassem um mesmo conjunto e que a falta de acesso na garagem é decorrência de uma parede construída pelos próprios moradores para separar os residenciais. A estatal diz que os problemas de vandalismo e de acesso a pessoas estranhas ao conjunto é de responsabilidade dos moradores, e não de problemas na construção dos muros que protegem o residencial.

    “A responsabilidade do controle de entrada e saída do conjunto e dos danos por furto ou vandalismo é da organização interna do condomínio, assim como a organização do uso das vagas e da área do subsolo.”