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Barulho influencia no aumento da violência urbana das grandes cidades, diz fonoaudióloga

Gabriela Fujita

Do UOL, em São Paulo

01/05/2012 06h00

O barulho em São Paulo é constante e pode alterar o comportamento das pessoas e aumentar a violência urbana. Essa é a opinião da fonoaudióloga Alice Penna de Azevedo Bernardi, da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. "Em uma cidade como São Paulo você tem aumento da violência e da agressividade por conta dessa exposição continuada”, diz.
 
O transporte público, o trânsito e os locais de lazer acabam sendo fontes de ruído acima do recomendável pela prefeitura e pelas leis trabalhistas. Ônibus e motos em aceleração, por exemplo, ultrapassam os limites recomendados. Para se ter ideia, em uma rápida medição na rua, Alice verificou índices próximos a 90 decibéis produzidos por motores de ônibus, e superiores a isso no caso de buzinas de motos. Uma balada com música pode representar um “ataque” aos ouvidos entre 110 e 115 decibéis. “Não é à toa que a gente percebe até um problema de comportamento, as pessoas estão mais estressadas", diz.

De acordo com informações da prefeitura de São Paulo, os limites de ruído são definidos pela Lei de Zoneamento, e variam nestas categorias: área residencial (50 decibéis entre 7h e 22h), área mista (de 55 a 65 dB entre 7h e 22h) e área industrial (de 65 a 70 dB entre 7h e 22h).

O Ministério do Trabalho determina desde 1978, pela Norma Reguladora (NR) 15, que os excessos devem ser avaliados a partir da quantidade de decibéis e da duração da exposição ao barulho. Em uma jornada de oito horas, o trabalhador passa a ter uma condição insalubre se o ruído estiver acima de 85 decibéis. A cada cinco decibéis a mais, o tempo de exposição deve ser reduzido à metade, chegando ao limite máximo de 115 decibéis, por sete minutos e meio.

Quando a exposição ao ruído é contínua, é natural perder a referência individual do limite de barulho que o corpo suporta sem se incomodar. As pessoas acabam se acostumando aos ruídos e não é incomum que passem a falar mais alto, a assistir programas na TV ou no computador em volume mais alto, a subir o volume do rádio do carro ou do tocador de MP3; e isso não quer dizer que não estejam sendo lesadas pelo barulho em excesso.

Busca diária por silêncio

Uma atividade que exige leitura e concentração, por exemplo, passa a ser prejudicada quando o ruído fica acima de 65 decibéis. Se não é possível escapar, o recomendado é não piorar a situação. Para quem tem o hábito de usar fones para ouvir música, a fonoaudióloga Alice Penna indica perguntar para quem estiver ao lado se é possível escutar o som. Se a resposta for positiva, significa que há excesso de ruído e possível risco à audição.  

Em casa, a dica é mudar a rotina: não ligue a televisão ou o rádio se não for prestar atenção; muitas pessoas precisam desse tipo de barulho para realizar outras atividades ou até mesmo para encobrir ruídos que vêm da rua. “É preciso ter alguns minutos diários de silêncio para que a gente possa descansar, relaxar o organismo e esvaziar a mente”, diz Alice.

Ônibus e motos são vilões do ruído no trânsito de São Paulo

Até mesmo as opções de lazer devem ser escolhidas considerando o perigo que representam. Jovens e adolescentes não devem deixar de frequentar locais com música alta, até mesmo porque a batida e o ritmo podem ser prazerosos, mas o ideal seria fazer pausas de 15 a 20 minutos, em ambientes mais silenciosos, após uma hora de exposição ao ruído. “Isso precisa deixar de estar na moda, e para isso vai ser necessário ter legislações mais duras. Mas, antes de elas aparecerem, a gente vai precisar ter uma consciência social do quanto isso é prejudicial para a saúde de todos”, diz a fonoaudióloga.

O programa Psiu, da prefeitura, fiscaliza estabelecimentos comerciais e obras em São Paulo. De 2010 para 2011, o número de reclamações caiu cerca de 4% e o número de atendimentos teve redução por volta de 2%. Já o número de bares lacrados e multados por funcionarem após a 1h -- o que não é permitido -- ou por emitirem ruído acima do previsto em lei cresceu quase 10% (de 603 bares, em 2010, para 661 bares, em 2011). Em 2012, até o mês de fevereiro, o programa recebeu 4.879 reclamações, realizou 5.426 atendimentos, lacrou e multou 94 bares e autuou outros sete.