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Rio+20: Índios recebem comida estragada e ficam sem almoçar na Cúpula dos Povos

Índio pataxó tapa o nariz, reclamando do cheiro da comida distribuída durante a Cúpula dos Povos, na Rio+20. A comida estaria estragada - Marlene Bergamo/Folhapress
Índio pataxó tapa o nariz, reclamando do cheiro da comida distribuída durante a Cúpula dos Povos, na Rio+20. A comida estaria estragada Imagem: Marlene Bergamo/Folhapress

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

17/06/2012 19h38

Indígenas que participam da Cúpula dos Povos, evento paralelo à Conferência Rio+20, receberam neste domingo (17) "quentinhas" (recipientes com comida)  estragadas de uma empresa –cujo nome não foi divulgado—contratada pela organização do Movimento Terra Livre (grupo que reúne indígenas de diversas etnias). Pelo menos quatro pessoas passaram mal e receberam atendimento médico no posto instalado no Aterro do Flamengo, na zona sul do Rio de Janeiro, local que sedia a cúpula. Revoltados com a situação, alguns integrantes das tribos pataxó e guajajara fizeram dois protestos durante os debates desta tarde.

“Ninguém comeu até agora. A verdade é que não existe uma estrutura básica de alimentação, locomoção, banheiro, e os índios foram amontoados lá no Sambódromo. Muita gente passou mal em função da comida”, disse Arão da Providência Araújo Filho, que é relator do texto-base sobre a questão indígena que será enviado para os chefes de Estado que participam da Rio+20.

Araújo Filho, que também é membro da comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), afirmou que muitos índios também estão insatisfeitos com a proibição da Vigilância Sanitária, que não emitiu atestado liberatório para que eles instalassem cozinhas nos acampamentos.

A líder da Associação dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara, argumentou que a situação poderia ser resolvida caso os índios tivessem a possibilidade de preparar a própria comida.

“Eles não permitiram, e jogaram para cima da gente a responsabilidade de contratar uma empresa terceirizada para fornecer a alimentação”, afirmou ela. A verba para a aquisição do serviço foi disponibilizada pelo governo federal, já que as delegações indígenas viajaram ao Rio com mais integrantes do que fora informado previamente. Na versão da organização da Cúpula dos Povos, todos os que participam das atividades da conferência recebem um vale-alimentação no valor de R$ 24.

“Veio muito mais gente do que o esperado. Fizemos uma reunião com as lideranças indígenas para resolver esse problema, e já estão sendo repassados vales a mais. Muitos viajaram nas mais diversas condições, e nem todos se alimentam direito”, afirmou a diretora de produção da Cúpula dos Povos, Suzana Crescente.

Um dos líderes dos pataxós, identificado apenas como Ubirani, afirmou à reportagem do UOL que essa não fora a primeira vez em que os membros da tribo receberam quentinhas estragadas desde o começo da Cúpula dos Povos. “Isso já tinha acontecido e eles não explicaram nada para a gente. Não sabemos nem o nome da empresa”, afirmou ele.