Topo

Consumo de cocaína e crack aumenta no Brasil, estima ONU

Uso de cocaína cresceu no País em 2010 em relação a anos anteriores - Reuters
Uso de cocaína cresceu no País em 2010 em relação a anos anteriores Imagem: Reuters

Fabiana Maranhão

Do UOL, em São Paulo

26/06/2012 12h15Atualizada em 26/06/2012 12h29

O uso da cocaína, principal matéria-prima do crack, aumentou nos últimos anos no Brasil. A tendência segue na contra-mão da estabilidade do consumo da droga no mundo e da queda registrada na América do Norte e em alguns países da América do Sul. A conclusão faz parte de um relatório do Escritório da Organização das Nações Unidas (ONU) contra Drogas e Crime, divulgado nesta terça-feira (26).

Especialistas apontam que o uso da cocaína cresceu no país em 2010 em relação a anos anteriores, mas não sabem precisar de quanto foi o aumento, já que desde 2005 o Brasil não realiza pesquisa para saber quantos usuários de drogas existem no país. No entanto, dois fatores importantes levaram a ONU a concluir que houve esse crescimento: o aumento em três vezes da quantidade de cocaína apreendida pela polícia entre 2004 e 2010 e a preocupação do governo brasileiro com o problema da dependência de drogas. Em dezembro do ano passado, a presidente Dilma Rouseff lançou um programa nacional de combate ao crack e outras drogas com orçamento previsto de R$4 bilhões.

No mundo, o número de usuários de cocaína se manteve estável. De acordo com o relatório, entre 13 milhões e 19,5 milhões de pessoas com idades entre 15 e 64 anos utilizam a droga, o que corresponde a menos de 0,5% da população nessa faixa etária.

Última pesquisa feita no Brasil sobre a quantidade de usuários de drogas no país revelou que, em 2005, 870 mil pessoas consumiam cocaína, 0,7% da população brasileira entre 12 e 65 anos.

O levantamento, feito todos os anos com 194 países, constatou ainda queda no uso de cocaína nos Estados Unidos, Canadá e México e especialmente na Argentina e no Chile. Já do outro lado do planeta, na Austrália e na Nova Zelândia, foi registrado acréscimo do número de usuários que correspondem a quase 2% da população daqueles países.

Calcula-se que cerca de 230 milhões de pessoas - 5% da população mundial - tenha usado uma droga ilícita pelo menos uma vez durante o ano de 2010. A estimativa é que uma em cada 200 pessoas seja considerada dependente química (em torno de 27 milhões). O documento releva ainda que a cocaína e outras drogas, como heroína, matam 200 mil pessoas por ano em todo o mundo.  

  • Julie Jacobson/AP
  • Plantação de ópio no Afeganistação. Cultivo tem aumentado no país, segundo relatório da ONU

Aumento de produção de ópio preocupa ONU

No relatório deste ano, o Escritório da ONU contra Drogas e Crime se mostra preocupado especialmente com o aumento da produção do ópio no mundo que alcançou 7.000 toneladas em 2011. Mais de 80% da droga é produzida no Afeganistão. 

Embora não existam dados concretos, acredita-se que o consumo de ópio também tenha crescido, principalmente em países da África e da Ásia.

O documento explica que o preço da droga também aumentou, atraindo agricultores para o cultivo das diversas variedades de flor da papoula que dão origem ao ópio. Na Ásia Suloriental, o cultivo aumentou 16% entre 2010 e 2011 e duplicou desde 2006. 

Já a maconha é a droga ilícita mais usada no mundo, aponta informe. Cálculos indicam que existem entre 119 milhões e 224 milhões de usuários da droga ao redor do globo.

Uso indevido de remédios

O consumo irregular de remédios é outro problema que preocupa a ONU. Segundo o relatório, o Brasil ocupa o terceiro lugar na lista dos países americanos onde o consumo de estimulantes superou a média mundial entre os anos de 2007 e 2009. Os Estados Unidos lideram o ranking.

O documento alerta para os perigos do uso indevido de estimulantes que são geralmente prescritos pelos médicos para tratamento de transtornos de déficit de atenção e de distúrbios do sono. "Além do risco de dependência, o uso não medicinal de estimulantes pode causar irregularidades no batimento cardíaco, elevada temperatura corporal ou até insuficiência cardiovascular e convulsões", revela.

Outro dado preocupante é a constatação de que o consumo de tranquilizantes e calmantes é maior entre as mulheres, "podendo converter-se em hábito crônico entre a população feminina", destaca o relatório.

Problema das drogas ainda é desafio

Na edição deste ano do relatório, o organismo elogia os esforços que têm sido feitos pelos países para combater o tráfico e o uso de drogas, mas ressalta que o problema ainda é um desafio para o mundo, principalmente para os países em desenvolvimentos onde o consumo tem crescido.

"Os governos precisam estar atentos à tendência de deslocamento do consumo dos países desenvolvidos para as nações em desenvolvimento. Esses países estão menos preparados para lidar com o problema", sugere o informe.

De acordo com o documento, as razões desse crescimento são a explosão demográfica, a rápida urbanização e a prenominância de jovens entre a população.

O objetivo do documento divulgado todos os anos pelo Escritório da ONU contra Drogas e Crime é servir de referência para políticas públicas que devem ser implementadas pelos governos. Para o organismo, as drogas ilícitas "prejudicam o desenvolvimento econômico e social e contribuem para o crime, a instabilidade, a insegurança e a disseminação do HIV".