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Para representante da CNBB, Igreja Católica não vai aonde o povo está, por isso perdeu adeptos

Grupo de católicos faz procissão em Paraty (RJ); de acordo com IBGE, o percentual de católicos no Brasil passou de 73,6% em 2000 para 64,6% em 2010 - André Lobo/UOL
Grupo de católicos faz procissão em Paraty (RJ); de acordo com IBGE, o percentual de católicos no Brasil passou de 73,6% em 2000 para 64,6% em 2010 Imagem: André Lobo/UOL

Fabiana Maranhão

Do UOL, em São Paulo

01/07/2012 06h00

A redução de quase 10 pontos percentuais no número de católicos no Brasil nos últimos dez anos, de acordo com dados do Censo Demográfico 2010 divulgados nesta sexta-feira (29), surpreendeu a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Para a organização, parte da responsabilidade por essa queda é da própria Igreja Católica que não vai aonde o povo está. Já o crescimento registrado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) da quantidade de evangélicos no país foi visto com naturalidade pelos protestantes.

"Nós já esperávamos que houvesse queda no número de católicos, mas nossa expectativa era que fosse menos [que o percentual registrado]", afirma o padre Thierry Linard de Guertechin, do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento, entidade ligada à CNBB. Os dados do Censo apontam que 64,4% dos brasileiros afirmaram ser católicos, o que corresponde a 123 milhões de brasileiros. Até o ano 2000, os católicos eram 73,6% da população.

Para o padre, que também é demógrafo, a própria Igreja Católica contribuiu para essa redução. "A forma como a igreja lidou com o movimento migratório brasileiro no século passado pode explicar um pouco o que aconteceu", esclarece. Tradicionalmente mais religiosos, os nordestinos migraram primeiro para o Sudeste e depois para as regiões Norte e Centro-Oeste. "Os fiéis não encontraram a igreja aonde eles foram, seja nas periferias das metrópoles, como Rio de Janeiro e São Paulo, ou nas cidades mais distantes do país".

Enquanto a quantidade de católicos diminuiu, os brasileiros que afirmaram serem evangélico aumentaram. O percentual de desta religião passou de 15,4% para 22,2% da população, um crescimento de 6,8 pontos percentuais nos últimos dez anos. Na opinião do diretor-executivo da junta de missões da Convenção Batista Brasileira, Fernando Brandão, essa variação é resultado do trabalho que as igrejas evangélicas têm desenvolvido com ênfase na comunidade e em grupos específicos, como crianças e jovens.

"A partir da década de 80, as igrejas evangélicas passaram a intensificar as ações em comunidades carentes. Também nos preocupamos em trabalhar com crianças e adolescentes, o que não faz a Igreja Católica, que é mais voltada para os adultos", pondera Brandão. Ele acrescenta que o uso dos meios de comunicação, como rádio e TV, também foi determinante para a expansão do protestantismo no Brasil. A Convenção Batista Brasileira congrega mais de 12 mil igrejas e possui cerca de 2,5 milhões de adeptos no país.

"Acreditamos que o número de evangélicos vai continuar a crescer ao longo dos próximos dez anos", prevê com entusiasmo. O professor da pós-graduação em Ciências da Religião da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Edin Sued Abumanssur também aposta nessa tendência. "A Igreja Católica deve continuar perdendo adeptos nos próximos anos, enquanto as igrejas evangélicas vão conquistar novos seguidores".

Mas para o professor, dificilmente os percentuais vão se igualar. Ele argumenta que o catolicismo faz parte da cultura brasileira. "A religião católica está profundamente enraizada na nossa cultura e por isso vai permanecer com número de fiéis muito próximo ao de hoje", afirma Abumanssur.