Topo

Gari acha cheque em branco assinado e devolve ao dono no Rio Grande do Sul

Além do cheque em branco, Darson Pereira achou outro, também assinado, no valor de R$ 150 - Arquivo pessoal
Além do cheque em branco, Darson Pereira achou outro, também assinado, no valor de R$ 150 Imagem: Arquivo pessoal

Lucas Azevedo

Do UOL, em Porto Alegre

08/08/2012 10h35

Um gari, que recebe menos de dois salários mínimos para trabalhar oito horas por dia, seis dias por semana, deu uma prova de honestidade e nobreza. Enquanto varria as ruas de Uruguaiana (649 km de Porto Alegre), na fronteira oeste do Rio Grande do Sul, ele achou um cheque, em branco e assinado. Mais que depressa, o rapaz de 25 anos, pai de dois filhos, fez o que deveria ser natural a qualquer pessoa: devolveu ao dono.

A tarde da última segunda-feira (6) já chegava ao fim, quando Darson Pereira, um jovem pai de família, que sustenta a mulher, 24, e o casal de filhos, de três e cinco anos, contava as horas para ir pra casa. Como faz de segunda a sábado, ele acorda cedo para ir ao trabalho.

Onde fica Uruguaiana

  • Arte UOL

    Uruguaiana está a 649 km de Porto Alegre

Às 7h em ponto, de vassoura na mão, inicia a extenuante jornada de varredor de rua, trabalho pouco valorizado pelos outros, e admirado menos ainda. Enquanto juntava o lixo deixado pelos pedestres no centro da cidade, perto do camelódromo, por curiosidade resolveu abrir dois papéis dobrados que lhe chamaram a atenção. Além do cheque em branco havia outro, também assinado e preenchido, com o valor de R$ 150. Desconfiado, arrumou os papéis, olhou para os lados e os guardou no bolso.

Só mais tarde, depois das 18h, de volta à empresa para a qual trabalha, é que Pereira pegou novamente os cheques e entregou nas mãos de seu supervisor. Na frente do gari, Márcio Grassi estudou o material e puxou o celular para comunicar o escritório da Secretaria Estadual da Educação na cidade, que poderia entrar em contato com o dono dos cheques, uma escola.

Pereira já teve outros empregos. Diz que é gari por “bênção de Deus” – lida que completou onze meses nessa terça-feira (7). Religioso, disse ter pedido aos céus uma oportunidade melhor do que a de servente de pedreiro, último trabalho que exerceu.

O gari diz que a fama revelada no início desta semana pelos meios de comunicação locais fez com que ele descobrisse amigos que nunca imaginou ter. “Agora as pessoas passam por mim e me dão oi.”

Outro caso

Em três dias, foi a segunda vez que um gari agiu da mesma forma em Uruguaiana. Na última sexta-feira (3), Rafael Silva, 28, varria a calçada de uma agência do Banco do Brasil quando viu uma senhora deixar uma casa lotérica com pressa, levando três crianças.

Ao deixar a agência, ela não percebeu que os R$ 300 recém-sacados com o cartão do Bolsa Família havia ficado para trás. Na hora, Silva, pai de quatro filhos pequenos, juntou o dinheiro, correu e alcançou a dona para devolvê-lo a ela.