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Polícia Militar ocupa favelas mais perigosas do Rio de Janeiro

Policiais do Batalhão de Choque abordam motociclistas e motoristas de carros e caminhões na entrada<br>das favelas de Manguinhos, no Rio de Janeiro (RJ) - Guto Maia /Frame/Folhapress
Policiais do Batalhão de Choque abordam motociclistas e motoristas de carros e caminhões na entrada<br>das favelas de Manguinhos, no Rio de Janeiro (RJ) Imagem: Guto Maia /Frame/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

14/10/2012 03h44Atualizada em 14/10/2012 10h32

Em apenas dez minutos, policiais militares ocuparam, na madrugada deste domingo (14), as favelas de Manguinhos, Mandela e Varginha, na zona norte do Rio de Janeiro (RJ), para dar início a instalação de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) na região.

As comunidades, que compõem o chamado Complexo de Manguinhos, no subúrbio carioca, são alguns dos principais redutos do tráfico de drogas do Estado, também consideradas polos da chamada "epidemia do crack" no Rio e devem receber a 29º UPP do Rio de Janeiro nos próximos meses, segundo a PM. 

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado, 165 agentes das tropas da Polícia Civil participaram de uma operação paralela na favela do Jacarezinho –comunidade vizinha-- em apoio à ocupação das demais comunidades. Dois helicópteros auxiliaram os policiais.

"A situação é de absoluta tranquilidade, não há incidentes. Mas estamos preparados para qualquer cenário", disse o coronel Federico Caldas, relações públicas da PM do Rio, que garantiu que ninguém foi detido na operação. "Agora segue um processo meticuloso de busca de drogas, de armas e a prisão de criminosos", completou.

O esquema montado para a ocupação das favelas -- redutos da facção criminosa Comando Vermelho-- contou com o apoio de cerca de 900 policiais da Polícia Militar, incluindo os Batalhões de Operações Policiais Especiais (Bope), de Choque (BPChq), de Ação com Cães (BAC) e o Grupamento Aéreo-Marítimo (GAM), com apoio de efetivos e blindados dos Fuzileiros Navais. No total, 177 fuzileiros navais e cerca de 100 agentes e um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal completaram o efetivo.

Ainda de acordo com a PM, mais 400 policiais militares operaram simultaneamente na Baixada Fluminense e nas zonas norte e oeste, no cerco e na busca de armas, drogas e criminosos em ruas e comunidades. A PM utiliza 11 veículos blindados --cinco deles no Complexo de Manguinhos-- e três helicópteros.

Por causa da ocupação, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) implantou bloqueios de tráfego nas avenidas Dom Helder Câmara, na altura da Ademar Bebiano; na Dom Helder Câmara, na altura da Leopoldo Bulhões ; na Leopoldo Bulhões, na altura da Linha Amarela; na Largo de Benfica; na Estrada Velha da Pavuna, na altura da rua Francisco Medeiros; e na rua Danke de Matos, na altura da Manoel Fontenele.

O cronograma da Seseg prevê que o processo de pacificação nos complexos de Manguinhos e do Jacarezinho deve ser concluído até o fim do ano. Até 2014, ano em que o Rio de Janeiro será uma das principais cidades-sede da Copa do Mundo --a cidade será o palco da final da competição--, o planejamento do governo estadual prevê um total de 40 Unidades de Polícia Pacificadora em toda a região metropolitana.

Denúncias de moradores

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública pede que os moradores das comunidades que serão ocupadas colaborem com o trabalho dos policiais, apresentando documentos, quando solicitados.

Denúncias que levem a polícia a localizar criminosos e esconderijos de drogas, armas e objetos roubados podem ser feitas através do Disque-Denúncia, 2253-1177, e para o 190 da Polícia Militar.

Ações de inteligência da Polícia Civil já estão em curso para localizar e prender os traficantes que gerenciam o crime organizado nas comunidades. A lista é puxada pelo chefe do narcotráfico em Manguinhos, Marcelo Fernando Pinheiro Veiga, o "Marcelo Piloto", seguido de seus aliados Davi Moraes de Sá, o "Davi Paraíba", Wallace Carlos da Conceição, o "Churrasquinho", e Diego de Souza Feitosa, o "DG".

A Cidade da Polícia, quartel-general que vai concentrar as unidades especializadas das polícias do Rio, será inaugurada na região do Jacarezinho, mas a data ainda não foi definida; já Manguinhos está situada em ponto estratégico da avenida Brasil, uma das vias mais importantes da cidade.

Revistas antes da ocupação

Nos dias que antecederam a ocupação do Complexo de Manguinhos, as Polícias Militar e Civil realizaram várias operações de cerco e de busca e apreensão em diferentes comunidades – como Juramento, Chapadão e Antares – para inviabilizar possíveis rotas e locais de fuga dos traficantes da mesma facção que dominava os Complexos de Manguinhos e Jacarezinho.

Na sexta-feira (12), policiais do Batalhão de Choque abordaram motociclistas e motoristas de carros e caminhões para verificar a documentação e inspecionarem os veículos, em busca de armas, em pontos como a rua Leopoldo Bulhões e a descida do Viaduto de Benfica. Duas patrulhas do batalhão fizeram pequenas incursões nos acessos ao Jacarezinho, por volta das 14h30 de sexta-feira.

A Secretaria Municipal de Assistência Social realizou uma ação para recolher moradores de rua em torno da Cracolândia de Manguinhos. Dez adultos e um adolescente foram recolhidos pelas equipes da prefeitura.

Durante essa ação preliminar, a Polícia Militar deteve 33 suspeitos e apreendeu três fuzis, 14 pistolas, dois revólveres, uma metralhadora, uma escopeta e cinco granadas. Também foram apreendidas 2.545 pedras e 1.174 gramas de crack; 86 frascos de cheirinho da loló; 9.373 pedras, 720 sacolés, 7.866 cápsulas e 40 kg de cocaína; e 10.954 trouxinhas, 51 tabletes e 4 kg de maconha.

Na fevala do Jacarezinho, a Polícia Civil apreendeu ainda mil cápsulas e 30 kg de cocaína, além de 230 munições de 9 mm. Um suspeito foi detido e um menor apreendido. Também foram apreendidos 21 veículos e outros 3 recuperados. Já na Nova Holanda, os policiais civis também prenderam dois suspeitos e apreenderam 4 máquinas caça-níqueis, 27 placas de computador, 32 noteiros, uma pistola e carregadores. Outro suspeito foi preso em Cabo Frio e mais três no Rio, um deles o traficante conhecido como “Big Big”, irmão do DG - que foi resgatado da 25ª DP.

Resgate

O processo de pacificação dos complexos de Manguinhos e do Jacarezinho foi acelerado depois que criminosos fortemente armados invadiram, no dia 3 de julho, o distrito policial do Enegenho Novo (25ª DP) e resgataram o acusado de tráfico de drogas Diego de Souza Feitosa, o DG, apontado como um dos líderes do crime organizado na região.

O suspeito havia sido preso horas antes, após sofrer um acidente de moto em um dos acessos à favela de Manguinhos. Ele tentou furar uma blitz policial em alta velocidade, na contramão, e acabou batendo contra um automóvel.

Ao ser socorrido por policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e do Batalhão de Choque, o acusado de tráfico de drogas foi reconhecido, preso e posteriormente encaminhado para a delegacia do Engenho Novo.

Em nota, a Polícia Civil esclareceu que DG foi resgatado quando ocupava uma cela da 25ª DP, justamente no momento em que homens da Coinpol (Corregedoria Interna da Polícia Civil) realizavam uma diligência no distrito. DG é considerado homem de confiança do traficante Marcelo Fernando Pinheiro Veiga, o Marcelo Piloto, acusado de gerenciar as bocas de fumo em todo o Complexo de Manguinhos.

Marcelo Piloto

Marcelo Fernando Pinheiro Veiga, vulgo “Marcelo Piloto" ou "Celo", é um dos criminosos que integram a cúpula da facção criminosa CV e atualmente é o responsável por comandar o tráfico de drogas nas comunidades Mandela 1, 2 e 3, no Complexo de Manguinhos.

Sempre armado com pistolas e fuzis, e cercado de seguranças, o traficante costuma promover bailes funk nas comunidades, impulsionados pela venda de drogas, e circular com veículos roubados, de acordo com informações do Disque-Denúncia. Ele também é considerado foragido do Instituto Penal Edgard Costa, em Niterói.

Piloto possui antecedentes criminais por tráfico de drogas e roubo, e seus processos tramitam na 21ª e 30ª Varas Criminais da Capital. Além da acusação por tráfico de drogas, Veiga é suspeito de envolvimento em um esquema de venda de casas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e de ser um grande comprador de armas e munições.

Após a prisão do presidente da Associação de Moradores da Favela do Mandela, a Polícia Civil descobriu que o esquema de venda de casas do PAC seria comandado pelo traficante, e que 12 residências foram entregues aos familiares de Marcelo Piloto.

Em junho de 2010, o acusado de chefiar o narcotráfico em Manguinhos foi flagrado em uma escuta telefônica feita pela polícia enquanto comprava munição para fuzil. De acordo com a polícia, exatamente um ano depois, Piloto participou e liderou os arrastões ocorridos na avenida Pastor Martin Luther King Jr., e nas saídas cinco e oito da Linha Amarela, por volta das 7h20. Em relatos na 21ª DP e na 44ª DP, vítimas o identificaram e contaram que os assaltos foram rápidos, não passando de dois minutos cada. (Com Efe, AFP e Agência Brasil)

*Colaborou Hanrrikson de Andrade, no Rio.