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MPT investiga em Pernambuco suposto esquema de tráfico humano para o Oriente Médio

Bahrein é um pequeno Estado do Golfo Pérsico - Arte UOL
Bahrein é um pequeno Estado do Golfo Pérsico Imagem: Arte UOL

Do UOL, no Recife

23/10/2012 16h53

O Ministério Público do Trabalho (MPT), em parceria com o Núcleo Estadual de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, investiga um suposto esquema de tráfico humano em Pernambuco.

Segundo a coordenadora do núcleo, Jeanne Aguiar, a fraude foi descoberta quando um grupo de 58 recifenses já estava com viagem marcada para o Bahrein, no Oriente Médio, onde seriam contratados para trabalhar como cabeleireiros, eletricistas, encanadores e ajudantes de serviços gerais.

A oferta, oferecida por um site de empregos estrangeiro, chamou a atenção de um dos concorrentes às vagas por conta dos benefícios – os interessados pagariam US$ 200 por todo o pacote. Apenas a passagem do Recife ao Bahrein custa cerca de 12 vezes esse valor. "Assim que recebi a denúncia, encaminhei à Polícia Federal, que logo se demonstrou surpresa com a quantidade de vistos solicitados para aquele país", afirmou Jeanne.

De acordo com a procuradora do Trabalho Débora Tito, um dos principais indícios do tráfico humano seriam, além dos valores da viagem, os cargos oferecidos. "Geralmente as empresas que contratam trabalhadores de outros países buscam engenheiros da construção civil, não cabeleireiros ou auxiliares de limpeza. Além disso, no Bahrein não há Embaixada do Brasil, o que dificultaria a defesa desses brasileiros."

A primeira denúncia foi feita em fevereiro deste ano, quando o contato pela internet com os trabalhadores interessados já estava em estágio avançado. Para a procuradora, o caso também pode ser tratado como de estelionato, já que a empresa contratante pediu os documentos das vítimas para a suposta confecção do visto. "Pedimos que a empresa suspeita nos enviasse uma lista de documentos para comprovar sua idoneidade, mas até agora não tivemos retorno", disse Débora.

Representação diplomática

"Se as pessoas se conscientizassem da importância de denunciar, as estatísticas seriam bem maiores", afirmou Jeanne. Para não cair nesse tipo de golpe, a coordenadora do Núcleo recomenda não acreditar em promessas de altos salários e boas condições de vida, pesquisar histórico da empresa e verificar se o país de destino tem representação diplomática brasileira.

Atraído pelo emprego de ferreiro armador, F.M. diz se sentir "frustrado" com a descoberta. "Estava contente, pensando que ira ganhar bem, que poderia ajudar minha família, mas agora a única coisa que ganhei foi uma dívida, já que o dinheiro com que paguei a inscrição foi emprestado e até hoje não consegui pagar."

Segundo o Ministério da Justiça, em sete anos, 475 brasileiros foram vítimas de tráfico humano para várias partes do mundo.