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"Quem foi julgado hoje foi o coronel Ubiratan", diz promotor do julgamento de Cepollina

Débora Melo

Do UOL, em São Paulo

07/11/2012 20h24

Após o júri absolver a advogada Carla Cepollina, 47, pela morte do coronel da reserva da Polícia Militar Ubiratan Guimarães, em 2006, o promotor do caso, João Carlos Calsavara, afirmou que a ré foi absolvida porque "quem foi julgado foi o coronel Ubiratan".

Ubiratan comandou a operação que ficou conhecida como "Massacre do Carandiru” , que resultou na morte de 111 presos em 1992.

"Quem foi julgado aqui hoje foi o coronel Ubiratan. O coronel é um homem estigmatizado, é um ícone de uma de uma década que foi julgado aqui. Ele assumiu todo o caso do Carandiru, ele é emblemático do Carandiru. ele foi absolvido pelo Tribunal de Justiça. Mas hoje ele foi condenado de novo", disse Calsavara.

Ubiratan chegou a ser a condenado a 632 anos de prisão pelo massacre, mas acabou sendo absolvido em um segundo julgamento.

Para o promotor, que disse que não vai recorrer da decisão do júri, a absolvição de Cepollina é um reflexo do momento do país.

"Não vou recorrer porque entendo que é o momento da vida do país, é o momento da impunidade. Eu acho que isso reflete um pensamento de que a polícia é um órgão que não é tão considerado, a ponto de que policiais são mortos a sangue frio", disse.

"Não nos resta mais nada do que aceitar a decisão que a sociedade de São Paulo quer, que é a polícia caçada nas ruas, a violência", afirmou o promotor.

Calsavara disse também que ainda acredita que foi Cepollina quem matou o coronel. "Eu tenho certeza que foi a acusada que matou o coronel, vou levar isso para mim. Peço perdão à família da vítima, fiz o meu trabalho e não vou recorrer."

Vicente Cascione, por outro lado, que era advogado do coronel Ubiratan e auxiliou o promotor na acusação, não descarta a possibilidade de recorrer da sentença. “Tenho que avaliar exatamente o que aconteceu. Há fatores que me levariam a sustentar o recurso. E eu quero ver se realmente vou fazer isso ou não”, disse.

Cascione compartilhou da opinião do promotor e disse que é comum no tribunal do júri esse tipo de decisão, em que “outras razões” são consideradas.

“Condenaram o coronel Ubiratan e julgaram a mãe que defende a filha. Mas eu respeito a decisão dos jurados, o júri faz isso. É normal. O júri às vezes abandona a prova e vota do jeito que votou. Eu disse isso no primeiro dia do julgamento, e aconteceu. Eu tenho experiência.”

Durante sua argumentação, o advogado Cascione chegou a fazer uma defesa de Ubiratan alegando que o coronel "não é um comandante de massacre”. “Ele foi absolvido de forma legítima, com base nas provas. Não interessa se, na cabeça de algum jurado, o coronel merecia morrer. A polícia, naquele dia, não matou 111, salvou 2.000 [presos]”, disse ao júri.