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Promotor acusa Bruno de ameaçar testemunha; defesa critica advogados que deixaram o caso

Carlos Eduardo Cherem e Rayder Bragon

Do UOL, em Contagem (MG)

20/11/2012 10h39

O promotor de Justiça Henry Wagner de Castro, que atua na acusação no julgamento do ex-goleiro Bruno Fernandes e outras cinco pessoas que teriam envolvimento com o sumiço e morte de Eliza Samudio, acusou nesta terça-feira (20) que o jogador de ameaçar uma das testemunhas, o Jaílson Alves de Oliveira, que denunciou um suposto plano que ouviu de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, para matar a juíza Marixa Fabiane e outras pessoas envolvidas no caso.

"Jaílson, você está falando demais. Peixe morre é pela boca", teria dito Bruno à testemunha, segundo o promotor.

Jaílson, que está preso na penitenciária de segurança máxima Nelson Hungria junto com Bruno, fez a denúncia ontem no Fórum Pedro Aleixo, em Contagem (Grande Belo Horizonte), que foi documentada e formalizada pelos funcionários do local que ouviram a história.

Segundo Castro, caso fique provado que Bruno fez a ameça, o réu pode ser responsabilizado por coação no processo. A ameaça teria sido feita poucos dias antes de o julgamento começar. O promotor espera que o Jaílson relate essa ameaça no plenário do júri, nesta terça-feira, quando será ouvido.

"Primeiro, precisamos conferir se houve isso mesmo. Só pelo fato de ele, o promotor, ter dito isso, não quer dizer que seja verdade", rebateu o advogado de Bruno, Rui Pimenta, ao saber das acusações.

Pimenta disse que não tratou do assunto com o goleiro por considerá-lo irrelevante. Segundo ele, Bruno está apreensivo com o segundo dia de julgamento e espera sair o mais rápido possível do fórum, em liberdade.

Advogados afastados do caso

O outro advogado do goleiro, Francisco Simim, que também defende a ex-mulher do jogador Dayanne de Souza, criticou os advogados Ércio Quaresma e Zanone de Oliveira Júnior, que defendem o Bola, por deixarem a defesa do réu, nesta segunda-feira (19). Eles alegaram que a juíza, que presidente o julgamento, teria cerceado o trabalho de defesa.

"Doutora Marixa é uma juíza de pulso forte. Ela é muito justa. Uma dama de ferro", afirmou Simim. "Eles vão ter de provar [a alegação contra Marixa]. Se as decisões dela não forem corretas, cabe o caminho certo para reclamar, que não é o plenário." 

Logo após a declaração, o goleiro pediu destituição dos seus dois advogados Rui Pimenta e Francisco Simim. Ele disse à juíza Marixa Fabiane que queria dispensar Pimenta por "insegurança" e Simim por não querer atrapalhar o julgamento da ex-mulher. A juíza, porém, avaliou que a manobra era uma tentativa para adiar o júri e aceitou apenas uma dispensa.

Especula-se que exista um "pacto" entre os advogados de defesa para, em bloco, abandonarem o julgamento, como forma de adiar os trabalhos.


Primeiro dia

O primeiro dia do julgamento do caso Eliza Samudio, no acanhado Fórum Pedro Aleixo, em Contagem (Grande Belo Horizonte), foi marcado por tumulto, abandono de defesa por parte dos advogados de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola. Arrolado pela acusação, Cleiton foi a primeira e única testemunha a depor.

Logo no início do julgamento, os advogados de Bruno, Rui Pimenta, e de Bola, Ércio Quaresma brigaram por causa de um lugar no plenário do júri. Quaresma chegou a dar tapinhas dos ombros de Pimenta, que revidou com um leve empurrão.

Em seguida, Quaresma implicou com a falta de estrutura do Fórum de Contagem, reclamando não haver extensões suficientes para ligar os computadores e não ter espaço para os familiares dos réus acompanharem o júri.

Durante o sorteio dos jurados, a juíza dispensou sete jurados que participaram de outro júri de Marcos Aparecido, ocorrido no início do mês, no qual ele foi inocentado pela morte de um agente penitenciário. A decisão irritou Quaresma, que só se conformou após os próprios jurados pedirem dispensa do julgamento.

O defensor também questionou o fato de, segundo ele, não ter tido acesso às gravações de interrogatórios das testemunhas.

Após Quaresma rebater seus argumentos, a juíza Marixa Fabiane se irritou e disse que o advogado de Bola poderia ter feito os questionamentos quanto ao acesso às mídias anteriormente. "Tem dois anos que esse processo está em curso", disse. "Não é o juiz que vai determinar a hora que vou examinar as provas", respondeu Quaresma. "A palavra do senhor está cassada", replicou a magistrada.

O auge da confusão ocorreu quando as defesas dos acusados questionaram o tempo, de 20 minutos, concedido pela magistrada para que cada advogado apresentasse os requerimentos preliminares. Após Marixa não ceder mais tempo, Ercio Quaresma anunciou que abandonaria a tribuna, o que fez algumas horas depois, após mais tumulto.

“Não temos a menor condição de trabalhar num julgamento em que prova da defesa é cerceada já no prólogo, que dirá no epílogo”, afirmou Quaresma.

Fernando Diniz, advogado do Luiz Henrique Romão, o Macarrão, também ameaçou abandonar a defesa, mas voltou atrás. Bola não aceitou que um defensor público fosse constituído para a sua defesa, e agora seu julgamento deverá ocorrer em outra data, caso não haja nenhuma reviravolta de seus advogados.

O julgamento prosseguiu com a presença de Bruno, que disse à juíza estar “tranquilo quanto à realização do júri, Dayanne de Souza, ex-mulher do jogador, e Fernanda Castro, ex-amante do atleta, que acompanharam o júri sem algemas. Macarrão alegou não estar se sentindo bem e foi levado de volta ao presídio Nelson Hungria, após ficar alguns minutos no salão do júri.

Sorteio do júri

Também nesta segunda-feira foram definidos os sete jurados que decidirão o futuro dos réus. O corpo de jurados ficou definido com seis mulheres e um homem. Enquanto a defesa procurou, sem sucesso, descartar a maioria das juradas, a acusação tentou evitar a participação de homens no júri.

VEJA O O QUE SERÁ APRESENTADO NO JULGAMENTO DOS ACUSADOS

RÉUACUSAÇÃOO QUE DIZ O MPO QUE DIZ A DEFESA
BRUNOResponde pelos crimes de sequestro e cárcere privado, homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáverMentor e mandante da morte de Eliza, ameaçou-a de morte durante a gravidez. O goleiro determinou que Eliza fosse sequestrada e levada a sua casa, no Rio de Janeiro. Acompanhou o deslocamento de Eliza, já sequestrada e ferida na cabeça após receber coronhadas, para MinasNega a existência do crime. Eliza não foi morta porque não há corpo. Anteriormente, havia reconhecido a morte de Eliza, mas sem a participação, concordância ou o conhecimento do goleiro. A atribuição do crime havia sido dada a Macarrão, insinuando que o ex-braço direito nutria um “amor homossexual” pelo jogador
MACARRÃOResponde pelos crimes de sequestro e cárcere privado, homicídio triplamente qualificado, e ocultação de cadáverTambém ameaçou Eliza durante a gravidez e foi o responsável pelo sequestro da moça no Rio de Janeiro. Foi o motorista do carro, com Eliza e o filho, na viagem para Minas Gerais. Dirigiu o veículo que transportou a moça até a casa de Bola. Amarrou as mãos de Eliza e desferiu chutes nas pernas da moçaNão existem provas materiais do crime de homicídio. Ele declarou que, Para evitar “especulações”, não adianta detalhes da estratégia de defesa a ser adotada
BOLA*Responde pelos crimes de homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáverExecutor de Eliza, estrangulou a jovem dentro de casa, em Vespasiano. Esquartejou o corpo da mulher e atirou uma das mãos a cães rottweiler. Foi incumbido de desaparecer com o corpoNega as acusações e afirma que apresentará “prova cabal” aos jurados, durante o julgamento, da inocência de Bola
DAYANNEResponde pelos crimes de sequestro e cárcere privado da criançaParticipou da “vigilância” feita sobre Eliza e o filho no sítio do goleiro em Esmeraldas, apontado pela polícia como o cativeiro de Eliza antes de sua morte. Sabia do plano para matar a ex-amante do jogador. Tentou desaparecer com o filho de Eliza, localizado posteriormente pela polícia em Ribeirão das NevesNega que Dayanne soubesse do plano para matar Eliza, ela apenas cuidou da criança depois de um pedido do ex-marido. Sobrevivência do filho de Eliza se deu graças a Dayanne
FERNANDAResponde pelos crimes de sequestro e cárcere privado de Eliza e do filho delaOutra ex-amante de Bruno, auxiliou Macarrão a manter Eliza dentro da casa do goleiro no Rio antes da viagem para Minas. Cuidou do filho de Eliza nesse período e acompanhou Bruno e Macarrão na ida para Minas. Sabia da intenção do grupo de matar ElizaÉ inocente, não sabia de nenhum plano para matar Eliza. Não presenciou um cenário que remetesse ao crime atribuído a ela. A viagem a Minas Gerais com o goleiro havia sido programada um mês antes do crime. Não notou ferimentos em Eliza
  • * Os advogados do acusado abandonaram o julgamento. Como Bola recusou a indicação de um defensor público, ele deverá ser julgado em outro momento