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Nordeste é região que mais se desenvolve no país, aponta índice Firjan; Norte é a mais atrasada

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

03/12/2012 15h17

O Nordeste é a região do país que mais se desenvolveu no Brasil entre 2000 e 2010. Essa é a conclusão do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), divulgado nesta segunda-feira (3) e que leva em conta dados de emprego, renda, educação e saúde. Para chegar aos dados, a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) utiliza apenas estatísticas públicas oficiais.

O levantamento aponta que, na última década, 97,8% dos municípios nordestinos apresentaram crescimento do IFDM. “Esse movimento refletiu, sobretudo, a melhoria dos indicadores de saúde e educação”, mostra o estudo. Na média nacional, 93% dos municípios registraram crescimento no indicador. Apesar disso, o estudo deixa claro que o país reduz ainda a passos lentos as desigualdades regionais.

Na análise dos Estados nordestinos, Ceará e Pernambuco se destacam pelo bom índice de desenvolvimento, ocupando a 10ª e 11ª posições do ranking, respectivamente. Os demais Estados também registraram alta no desenvolvimento.

Na questão emprego e renda, por exemplo, um município nordestino se destacou: Ipojuca, na região metropolitana do Recife, onde está instalado o complexo industrial de Suape. Ao lado de Araucária (PR), o município recebeu nota máxima (um).

Na contramão do Nordeste, a região Norte “destoou das demais regiões do país”, apontou o estudo. Segundo o IFDM, os municípios nortistas pouco se desenvolveram e se caracterizam pela “lenta evolução ao longo da década”. “É a região mais atrasada do país: 77% dos municípios ainda têm desenvolvimento regular ou baixo.”

Desigualdades permanecem

Apesar do avanço, os dados mostram que as desigualdades regionais ainda são uma marca a ser superada no país. Segundo o índice Firjan, as duas regiões ainda concentram a grande maioria dos municípios com menores índices de desenvolvimento. Alagoas, por exemplo, é o Estado menos desenvolvido do país, segundo o Índice Firjan 2012.

“A leitura dos resultados regionais evidencia as diversidades que caracterizam o Brasil. Por um lado, as regiões Sul e Sudeste — que juntas possuem 51% dos municípios brasileiros — mantiveram maciça predominância entre os 500 maiores IFDMs com 91,2% de participação em 2010”, diz a pesquisa.

“Por outro lado, Norte e Nordeste — onde estão 40% dos municípios brasileiros — permaneceram dominantes entre os 500 menores, tendo aumentado ainda mais a participação para 96,4 % dos municípios nessa faixa do ranking em 2010.”

Os seis municípios que ainda possuem índice de “baixo desenvolvimento” estão no Norte e no Nordeste: Jordão (AC), São Paulo de Olivença (AM), Tremedal (BA), Bagres (PA), Porto de Moz (PA) e Fernando Falcão (MA).

A pesquisa aponta que as seis cidades não desenvolveram o mercado de trabalho. “Dessa forma, no ?nal da década somavam pouco mais de 3,.200 postos formais de trabalho para uma população de mais de 120 mil habitantes. Para se ter uma ideia, o que gerou mais postos de trabalho em 2010 gerou três — Bagres (PA). Mais do que isso, em cinco dos seis municípios houve redução do salário médio frente a 2009”, afirma o estudo.

O Sul se apresenta-se como a região com menor desigualdade entre seus municípios Na última década, a região Sul se consolidou como a mais desenvolvida do Brasil, com 97,2% classi?cados com desenvolvimento “moderado a alto.” Apesar da boa média, o Sudeste ainda é a região que concentra 86 das 100 cidades mais desenvolvidas do país.

Aumento de serviços e renda

Segundo o professor de economia da Ufal (Universidade Federal de Alagoas) Cícero Péricles, a pesquisa mostra que o Nordeste acelerou consideravelmente o crescimento social e econômico na primeira década do século.

“O ritmo de crescimento dos estados está sendo muito influenciado por um conjunto de fatores. Essa mudança é resultado, primeiro, da ampliação da rede de assistência na área de saúde e a na escolarização no período fundamental. O SUS [Sistema Único de Saúde] está presente em todos os municípios nordestinos, principalmente com suas equipes de PSF [Programa de Saúde da Família], e o ensino fundamental é praticamente universalizado”, disse.

Outro fator apontado como motor do desenvolvimento nordestino é o pagamento de aposentadorias e benefícios sociais pelo governo federal.“O Nordeste possui 17,3 milhões de famílias. A previdência social paga benefícios mensais a 8,2 milhões de nordestinos. Já o programa Bolsa Família inclui 7 milhões de famílias nordestinas. Esses recursos cobrem praticamente todas as famílias de baixa renda da região”, informou Péricles.

O aumento do salário mínimo acima da inflação também ajudou a impulsionar a economia regional. “Nos últimos anos, esse salário vem recuperando seu poder de compra e dos R$200, em 2003, chegou hoje a R$ 622 --um crescimento real de 60%. Isso impacta decisivamente na economia local e no cotidiano da vida municipal”, disse.