PF investiga aposentado após apreender obras de arte supostamente falsas na zona sul do Rio

A Polícia Federal investiga um oficial de Justiça aposentado de 82 anos pelos crimes de estelionato e receptação de bens ilícitos. Na noite de terça-feira (11), a PF apreendeu, na casa do oficial, em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, cinco obras de artes supostamente falsas que seriam vendidas a um agente disfarçado.

"Eu fui até a casa dele e nós negociamos o quadro mestre [Peter Paul] Rubens. Ele queria US$ 100 milhões, eu ofereci US$ 10 milhões e ele aceitou. Ofereceu violinos que ele dizia ser Stradivarius por US$ 3,5 milhões”, contou Fábio Scliar, delegado da Delegacia de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente e o Patrimônio Histórico. “Ele não é senil, sabia exatamente o que estava fazendo.”

A PF chegou até o oficial por meio de um anúncio na editoria de Economia do jornal “O Globo”, na semana passada. O endereço do apartamento onde mora o aposentado e o valor do quadro no exterior, avaliado em dezenas de milhões de euros, chamaram a atenção da polícia.

Segundo Scliar, o dono das obras não foi preso, pois não houve flagrante, e prestará depoimento na próxima quarta-feira. Se comprovadas as falsificações, o oficial pode pegar até nove anos de prisão.

"Nós fizemos uma simulação de compra e venda, e por isso não pudemos prender. Acredito que estamos diante de um estelionatário e procuramos alguma ligação com ateliês de falsificação. Infelizmente, o mercado negro de obras de arte no Rio é aquecido", explicou Scliar, sobre as obras que ainda não passaram pela perícia. "Ele alega que tem notas e certificados para tudo e apresentou um teste feito com Carbono 14 para o quadro. O problema é que o papel diz que a obra pertence a um período entre 1700 até 1960. Isso não é razoável".

Na casa do oficial, foram encontrados mais de mil objetos de arte, além de moldes e ferramentas para falsificar violinos. De acordo com a PF, o oficial disse que os dois violinos, dois quadros e dois postais, atribuídos a Pierre-Auguste Renoir, que foram apreendidos estão avaliados em US$ 200 milhões, caso sejam originais.

"A perícia vai avaliar e dizer se as peças são falsas. Se elas não forem, nós vamos investigar como uma obra dessa magnitude foi parar na mão de um servidor público", afirmou o delegado. "Especialistas me disseram que existem 650 Stradivarius no mundo. É bem difícil que dois estejam com ele".

Os dois violinos encontrados na casa do oficial são da marca Stradivarius, uma das mais famosas marcas de instrumentos de corda do mundo, criada pelo construtor, Antonio Stradivari (1644-1737). Já os postais supostamente seriam do pintor francês Pierre-Auguste Renoir (1841-1919), um dos maiores nomes do Impressionismo. O quadro que o aposentado diz valer US$ 100 milhões é do pintor flamengo Peter Paul Rubens (1577-1640), representante do movimento barroco.