Avós ricos reclamam bebê abandonada em varanda de casa em Campo Alegre (SC)

Os avós da menina recém-nascida abandonada pelos pais na varanda de uma casa na zona rural do Norte de Santa Catarina na noite da última terça (22) querem ficar com ela.

A Justiça vai decidir o destino dela, mas tanto avós paternos como maternos já entram na disputa em desvantagem aos demais interessados: o motivo alegado pelos pais para o abandono foi medo de contar às famílias, que eram contra o relacionamento.

A mãe, Janice Lisboa (18), foi presa na quarta, em São Bento do Sul (250 km de Florianópolis). Sua única pergunta aos policiais foi "Como está minha filha?"  Em seguida, teve um desmaio.

"Ela estava preocupada, e por isto entrou em choque", conta o escrivão Sandro Pohl, da delegacia de Campo Alegre, cidade onde aconteceu o incidente.

Pohl recolheu a criança da varanda às 14hs da quarta (23) e encontrou os pais dela em menos de 24 horas de investigação.

Os dois estão presos e aguardam decisão da Justiça sobre o enquadramento penal, já que podem ser acusados tanto por abandono de incapaz quanto por tentativa de homicídio.

Janice confessou à polícia que saiu de casa em Pien (PR), contando aos pais que iria trabalhar em Curitiba. Na verdade, ela escondia a gravidez. Foi morar em São Bento do Sul com o namorado, Edcarlos Andrade, 25, pai da menina.

Os dois tinham uma casa modesta, descrita pelo escrivão Pohl como de "classe média baixa". Ele disse que "os pais tinham tudo dentro, dava para cuidar bem de uma criança, até de seis, não eram indigentes".

A bebê nasceu de parto normal na maternidade de São Bento. Na hora da saída, uma enfermeira notou que os pais não tinham enxoval. Prevendo uma mudança de tempo, ela ofereceu ao casal um cobertorzinho  - peça que mais tarde serviria para identificar a bebê.

O casal deixou o hospital no carro do pai. Eles viajaram então cerca de 20 km, até a zona rural do município vizinho de Campo Alegre. Ali escolheram  uma varanda acolhedora, de uma casa que eles pensavam que abrigaria uma familia - na verdade, nela vivia um viúvo: Emílio Fernandes, de 77 anos.

A bebê foi largada enrolada no cobertorzinho às 19h30 da terça (22).

Fernandes ouviu o choro, mas não entendeu nada - disse depois aos jornalistas que achava que era alguém tentando atraí-lo para fora para um assalto. Ficou trancado.

A criança só foi achada 20 horas depois. Parecia estar debilitada pelo frio e pela fome. A polícia foi chamada. O escrivão Pohl e o Conselho Tutelar recolheram a menina e a entregaram no Hospital Salvatoriano São Luiz. Ali, foi aquecida e alimentada, e a informação é a de que a criança passa bem.

A recém nascida permanece no hospital nesta sexta-feira (25) "abrigada", segundo a direção, à disposição da Justiça.

Os pais deram azar ao abandonar a criança na casa de Fernandes. Ao lado, com aparência mais humilde, estava a casa de Carlos Fernandes e Daniele Cruz, ele sobrinho de Emilio: os dois tentam engravidar há anos, sem sucesso.

Na quinta, os dois decidiram entrar na luta pela guarda da recém-nascida, mas sem nenhum privilégio. A guarda da menina será decidida pela vara da infância de São Bento.

Para chegar aos pais, o escrivão perguntou para um médico do Hospital São Luiz se fora um parto caseiro. Pelo umbigo, o médico concluiu que tinha sido um serviço profissional.

Na maternidade de Campo Alegre, a busca não deu resultados. Já na unidade de São Bento, 40 bebês nasceram nos últimos 10 dias - os outros 39 foram bem recebidos neste mundo.

Uma enfermeira apareceu na conversa da polícia com os médicos, viu o cobertorzinho e matou a charada.

Depois da prisão dos pais, na quinta, os quatro avós apareceram no Conselho Tutelar de Campo Alegre em busca da criança. Segundo o conselheiro que os atendeu, são todos ricos, agricultores com terras produtivas. Nenhum deles sabia da gravidez de Janice.