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'Sem clima', moradores de Santa Maria (RS) desistem de brincar o Carnaval

Fabrício Calado

Do UOL, em Santa Maria

10/02/2013 15h54

Quem ficou na cidade afirma: nesta época do ano, normalmente Santa Maria é mais movimentada. O incêndio do dia 27 de janeiro, que matou 238 pessoas, a maioria adolescentes, instaurou um clima de velório na cidade. Mesmo agora, duas semanas após a tragédia, os habitantes demonstram abatimento. Ao UOL, eles disseram que perderam o pique para festejar.

"Meu Carnaval acabou, não animo de fazer nada. Vou ficar em casa direto", afirma Thássia de Moura da Silva, 22, aluna do curso de educação física da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A faculdade perdeu 113 alunos no incêndio, entre eles, uma colega de sala de Thássia.

Segundo a estudante, os bailes de Carnaval em clubes e as festas de rua eram o forte da cidade. "Normalmente, o 'esquenta' era nas boates, e depois o pessoal ia para os clubes ou comemorava nas cidades vizinhas, que ficavam lotadas. Neste ano, nada." Mais de 30 cidades gaúchas cancelaram a festa de carnaval deste ano em luto pela tragédia. Em Santa Maria, os clubes não comemorarão neste ano.

Em Santa Maria, a tragédia afetou até o modo como os comerciantes tratam seus clientes, segundo moradores. "Quando você entra nas lojas, as pessoas te cumprimentam de um jeito diferente, menos empolgado, porque não sabem se você perdeu um amigo ou parente", diz Jéssyca Pairé, 18. Ela e o namorado, Éverson de Oliveira, 18, costumam ficar na cidade durante o carnaval, mas também mudaram seus hábitos após a tragédia.

"Normalmente, nesta época do ano iríamos ao cinema, mas deixamos de fazer até isso por achar que seria desrespeitoso", afirma a menina. O casal diz que se sentiria mal se se divertisse enquanto outros na cidade guardam luto. "Nós estudamos com pessoas que iam nos blocos de carnaval daqui e algumas que também frequentavam a boate", diz Éverson.

Desvio

A avenida Liberdade, normalmente cheia graças aos blocos de rua, amanheceu e passa os dias deserta. A avenida Rio Branco, na região central, normalmente cheia por ser próxima dos clubes, tem vagas sobrando. Pela região, o que mais se veem circulando são ônibus. Táxis, e motos de serviços de entrega de carnes e bebidas ficam parados na rua.

O único movimento visível durante o dia é na entrada da boate Kiss, na rua dos Andradas. Ainda hoje, duas semanas após a tragédia, moradores e visitantes passam em frente ao lugar. Um casal de Erechim (RS) que não quis ser identificado fez um desvio de sua viagem ao Uruguai apenas para ver o local da tragédia.

A família do pescador Paulo da Costa Silva, 40, veio de Dourados (MS) a Santa Maria para um congresso e aproveitou a visita para pendurar uma faixa de solidariedade às vítimas na porta do estabelecimento. Os moradores de imóveis vizinhos não saem às ruas. Segundo a filha de uma vizinha da boate, a maioria quer vender o imóvel e mudar da região.