Topo

Legista não confirma relação entre lesão de Gil Rugai e marcas de pé na cena do crime

Perito Ricardo Molina (esq.) e e os advogados Thiago Anastácio (centro) e Marcelo Feller (dir.), defensores do ex-seminarista Gil Rugai, participam de julgamento - Leonardo Soares/UOL
Perito Ricardo Molina (esq.) e e os advogados Thiago Anastácio (centro) e Marcelo Feller (dir.), defensores do ex-seminarista Gil Rugai, participam de julgamento Imagem: Leonardo Soares/UOL

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

18/02/2013 18h40Atualizada em 18/02/2013 19h49

O médico legista Daniel Romero Munhoz, da faculdade de medicina legal da USP, disse em depoimento nesta segunda-feira (18) que não há "um nexo de causalidade" entre uma lesão encontrada no pé do ex-seminarista Gil Rugai, 29, e marcas que estavam na porta do cômodo onde foi assassinado Luiz Carlos Rugai, pai do jovem.

A polícia apontou que o assassino abriu a porta da sala onde as vítimas tentaram se proteger com o pé. Durante as investigações, a conclusão do IC (Instituto de Criminalística) se valeu de laudo médico assinado por Munhoz para afirmar que as marcas de pé na porta da sala onde o empresário foi encontrado morto eram compatíveis com a do filho. Além de Luiz Carlos, foi assassinada também a mulher dele, Alessandra Troitino, mas em outro cômodo da casa do casal no bairro de Perdizes, zona oeste de SP. O crime foi no dia 28 de março de 2004.

Interrogada durante cerca de uma hora, a testemunha falou sobre o exame que fez no réu dias depois do assassinato das vítimas. Segundo ele, o então investigado e principal suspeito compareceu ao exame acompanhado de policiais e de dois advogados.

Ainda conforme o médico-legista, arrolado como testemunha pela acusação, Gil Rugai possuía um edema ósseo no pé direito, do tipo agudo, típico de uma situação de trauma.

Segundo o especialista, esse tipo de contusão pode ser detectada por meio de ressonância magnética até várias semanas após o trauma, e nem sempre com dor relatada pelo paciente.

Indagado pelo promotor do caso, Rogério Zagallo, se Rugai havia relatado algum tipo de trauma nos últimos meses na época do crime, o perito negou.

"Não tinha porta para examinar", ironiza legista

Tanto nas inquirições feitas pela acusação e pela defesa, Munhoz afirmou que seu trabalho, de natureza essencialmente médica, não poderia tirar conclusões sobre a origem do trauma. Ao promotor, disse, sobre isso, que procura “não ir além do que me foi solicitado”. Aos advogados Marcelo Feller e Thiago Anastácio, da defesa, também sobre a compatibilidade da lesão, arrancou risos dos jurados e da plateia ao responder, taxativo: “eu não tinha porta nenhuma para examinar”.

Após insistir às duas partes que não poderia estabelecer o nexo entre o trauma de Gil Rugai e o arrombamento na porta, a testemunha admitiu que, se assim o fosse solicitado pela Justiça, teria feito --o que acabou sendo realizado pelo IC. “Se me pedissem para realizar o exame que comprovasse esse nexo, estaria à disposição. Sou necessário para isso? Acho que não, o IC faz isso todo dia”, concluiu.

 

Testemunhas e jurados

O perito é uma das cinco testemunhas arroladas pela acusação para o julgamento de Gil Rugai --além dele, há também um segundo perito, o delegado que investigou o caso pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), um vigia que teria visto o ex-seminarista deixar a cena do crime e um aviador que era amigo do empresário assassinado.

Pela defesa, são nove testemunhas --tais como o irmão do réu, Leo Rugai, e dois contadores da empresa da vítima--, além de uma arrolada pelo juiz. A previsão é que o júri se estenda por, no mínimo, três dias.

Os sete jurados sorteados para decidir se o ex-seminarista é culpado ou inocente são cinco homens e duas mulheres. Após a decisão, caso o decidam culpado, o juiz dará início à dosimetria da pena. O Ministério Público pede pena máxima de 30 anos a cada homicídio pelo qual o réu é acusado.

Entenda o caso

O ex-seminarista Gil Rugai, 29, é acusado de tramar e executar a morte do pai, o empresário Luiz Carlos Rugai, 40, e da madrasta, Alessandra de Fátima Troitino, 33. O casal foi encontrado morto a tiros na residência onde morava no bairro Perdizes, zona oeste de São Paulo.

Segundo a acusação, o crime foi motivado pelo afastamento de Gil Rugai da empresa do pai, a Referência Filmes. O ex-seminarista estaria envolvido em um desfalque de R$ 100 mil e, por isso, teria sido demitido do departamento financeiro.

Durante as perícias do crime foram encontrados indícios que, segundo a acusação, apontam Gil Rugai como o autor do crime. 

Uma das provas que será apresentada pela acusação foi uma arma encontrada, um ano e meio após o crime, no poço de armazenamento de água da chuva do prédio onde Gil Rugai tinha uma agência de publicidade.

O exame de balística confirmou que as nove cápsulas encontradas junto aos corpos do empresário e da mulher partiram dessa pistola.

O sócio de Rugai afirmou que ele mantinha uma arma idêntica em uma gaveta da agência de publicidade e que não a teria visto mais lá no dia seguinte aos assassinatos.

Gil Rugai chegou a ser preso duas vezes, mas foi solto por decisões da Justiça.