Polícia prende diretora de UTI suspeita de praticar eutanásia em hospital de Curitiba
A diretora médica da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Evangélico, o segundo maior de Curitiba, foi presa nesta terça-feira (19) pela manhã, informoua a polícia paranaense. Virginia Helena Soares de Souza foi detida em operação que investiga a prática de eutanásia –indução de pacientes à morte a pedido ou com o consentimento deles.
Além da prisão, a ação, que envolveu cerca de uma dezena de policiais, recolheu prontuários e documentos com dados sobre internações e mortes na UTI do Evangélico. O Ministério Público do Paraná confirmou a operação, e disse que uma promotora acompanha as investigações, que correm em segredo de Justiça.
“A Promotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de Curitiba informa que acompanhou o cumprimento de mandados de busca e apreensão de prontuários médicos e outros documentos relativos a internações e mortes de pacientes do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba nesta terça-feira”, informou nota emitida pelo MP.
Diretora de UTI foi detida dentro de hospital
“[A Promotoria] Acompanhou, ainda, o cumprimento do mandado de prisão temporária de médica intensivista do hospital, com o objetivo de apurar diversos ilícitos. (…) Para não prejudicar o andamento das investigações, e tendo em vista o sigilo das informações contidas no procedimento, que inclui informações pessoais de pacientes, o Ministério Público não fornecerá, no momento, detalhes a respeito dos fatos em apuração”, afirmou o texto.
Advogado vê prisão precipitada
O advogado criminalista Elias Mattar Assad, contratado para defender Virginia, classificou a prisão como precipitada. “Visitei-a à tarde no Centro de Triagem [na Travessa da Lapa, região central de Curitiba], onde ela está detida. Encontrei uma pessoa tranquila, que me disse 'só posso estar aqui por equívoco”, disse, ao UOL.
“Virgínia me disse que jamais praticou eutanásia, que é contra a prática por convicção médica e pessoal”, falou Assad, que deverá entrar com pedido de liberdade para a médica “tão logo ultimar os estudos (sobre o caso)”. A prisão, provisória, é de 30 dias.
“Ela é médica desde 1988, sem nada contra ela, uma queixa que seja, no CRM. Sempre agiu preservando vidas dentro da ética médica e dos critérios nacionais de terapia intensiva com criteriosas discussões dos casos com médicos assistentes e famílias dos pacientes”, argumentou disse, para quem as denúncias contra Virginia, que teriam partido de funcionários do Evangélico, podem se dever à má-interpretação de jargões da medicina intensiva.
Muito sigilo e entrevista cancelada
Todo a investigação está envolta em sigilo. Uma entrevista à imprensa chegou a ser convocada para o fim da tarde desta terça, na sede do Nucrisa (Núcleo de Repressão aos Crimes contra a Saúde Pública) da Polícia Civil. Porém, ela acabou cancelada após o horário em que deveria ter começado, já com a presença de vários jornalistas no local.
Ao UOL, a assessoria de imprensa do governo do estado informou que a ordem que cancelou a entrevista partiu do secretário da Segurança Pública, Cid Vasques. Ainda segundo a assessoria, o próprio secretário deverá dar mais informações sobre o caso, em nova entrevista a ser marcada para esta quarta (20).
Em nota que confirma a prisão da médica, emitida após o cancelamento da entrevista, a polícia afirma que “poucas informações sobre a investigação podem ser repassadas à imprensa, pois o Departamento da Polícia Civil obedece às limitações do sigilo decretado judicialmente nos autos. A delegada titular Paula Brisola informa que as medidas adotadas estão respaldadas em lei e que todas as providências necessárias visando a segurança e saúde da população serão tomadas”.
Mais cedo, a Secretaria do Estado da Saúde anunciara uma comissão de sindicância para apurar o caso, que será chefiada pelo pelo auditor Mário Lobato da Costa, do Ministério da Saúde. Integrantes da prefeitura de Curitiba também devem participar da comissão. Além disso, o município pediu à direção do Evangélico a substituição de toda a equipe que atua na UTI geral – o Evangélico atende pelo SUS (Sistema Único de Saúde), que é gerido pela prefeitura.
Hospital enaltece “competência profissional” de suspeita
Também via nota oficial, a direção do Hospital Evangélico informou que, “como o inquérito corre em sigilo, não temos conhecimento adequado dos fatos para emitir qualquer juízo". Além disso, afirma que instaurou uma comissão de sindicância interna para apurar os fatos denunciados, e que, “quanto à profissional envolvida, o Hospital Evangélico reconhece a sua competência profissional, e até o momento desconhece qualquer ato técnico da mesma que tenha ferido a ética médica.”
O presidente do CRM (Conselho Regional de Medicina do Paraná), Alexandre Gustavo Bley, disse que “o momento merece toda a atenção por parte do poder público e das autoridades competentes. O CRM reitera sua posição na defesa da saúde da população e informa que as providências cabíveis para abertura de sindicância já estão sendo tomadas e assim que tiver acesso aos autos adotará as medidas necessárias".
Também procurada, a Associação Médica do Paraná preferiu não se manifestar sobre o caso.
A instituição
Inaugurado em 1959, o Evangélico é o maior hospital particular do Paraná. O prédio, localizado no Bigorrilho, bairro de classe média alta de Curitiba, tem 43.694 metros quadrados e atende a mais de um milhão de pacientes por ano, segundo o site do hospital, que é unidade de referência no atendimento a queimados.
Nos últimos anos, o Evangélico enfrenta dificuldades administrativas que levaram funcionários a paralisarem as atividades por diversas vezes – todas elas por atrasos no pagamento de salários, admitidos pela Sociedade Evangélica Beneficente de Curitiba, mantenedora do hospital. A última paralisação ocorreu na semana passada.
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