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Polícia prende diretora de UTI suspeita de praticar eutanásia em hospital de Curitiba

 Virginia Helena Soares de Souza, medica chefe da UTI do hospital Evangélico de Curitiba (PR), durante sua prisão - Henry Milléo/Gazeta do Povo/Futura Press
Virginia Helena Soares de Souza, medica chefe da UTI do hospital Evangélico de Curitiba (PR), durante sua prisão Imagem: Henry Milléo/Gazeta do Povo/Futura Press

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

19/02/2013 15h01Atualizada em 19/02/2013 20h43

A diretora médica da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Evangélico, o segundo maior de Curitiba, foi presa nesta terça-feira (19) pela manhã, informoua a polícia paranaense. Virginia Helena Soares de Souza foi detida em operação que investiga a prática de eutanásia –indução de pacientes à morte a pedido ou com o consentimento deles.

Além da prisão, a ação, que envolveu cerca de uma dezena de policiais, recolheu prontuários e documentos com dados sobre internações e mortes na UTI do Evangélico. O Ministério Público do Paraná confirmou a operação, e disse que uma promotora acompanha as investigações, que correm em segredo de Justiça.

“A Promotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de Curitiba informa que acompanhou o cumprimento de mandados de busca e apreensão de prontuários médicos e outros documentos relativos a internações e mortes de pacientes do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba nesta terça-feira”, informou nota emitida pelo MP.

Diretora de UTI foi detida dentro de hospital

“[A Promotoria] Acompanhou, ainda, o cumprimento do mandado de prisão temporária de médica intensivista do hospital, com o objetivo de apurar diversos ilícitos. (…) Para não prejudicar o andamento das investigações, e tendo em vista o sigilo das informações contidas no procedimento, que inclui informações pessoais de pacientes, o Ministério Público não fornecerá, no momento, detalhes a respeito dos fatos em apuração”, afirmou o texto.

Advogado vê prisão precipitada

O advogado criminalista Elias Mattar Assad, contratado para defender Virginia, classificou a prisão como precipitada. “Visitei-a à tarde no Centro de Triagem [na Travessa da Lapa, região central de Curitiba], onde ela está detida. Encontrei uma pessoa tranquila, que me disse 'só posso estar aqui por equívoco”, disse, ao UOL.

“Virgínia me disse que jamais praticou eutanásia, que é contra a prática por convicção médica e pessoal”, falou Assad, que deverá entrar com pedido de liberdade para a médica “tão logo ultimar os estudos (sobre o caso)”. A prisão, provisória, é de 30 dias.

“Ela é médica desde 1988, sem nada contra ela, uma queixa que seja, no CRM. Sempre agiu preservando vidas dentro da ética médica e dos critérios nacionais de terapia intensiva com criteriosas discussões dos casos com médicos assistentes e famílias dos pacientes”, argumentou disse, para quem as denúncias contra Virginia, que teriam partido de funcionários do Evangélico, podem se dever à má-interpretação de jargões da medicina intensiva.

Muito sigilo e entrevista cancelada

Todo a investigação está envolta em sigilo. Uma entrevista à imprensa chegou a ser convocada para o fim da tarde desta terça, na sede do Nucrisa (Núcleo de Repressão aos Crimes contra a Saúde Pública) da Polícia Civil. Porém, ela acabou cancelada após o horário em que deveria ter começado, já com a presença de vários jornalistas no local.

Ao UOL, a assessoria de imprensa do governo do estado informou que a ordem que cancelou a entrevista partiu do secretário da Segurança Pública, Cid Vasques. Ainda segundo a assessoria, o próprio secretário deverá dar mais informações sobre o caso, em nova entrevista a ser marcada para esta quarta (20).

Em nota que confirma a prisão da médica, emitida após o cancelamento da entrevista, a polícia afirma que “poucas informações sobre a investigação podem ser repassadas à imprensa, pois o Departamento da Polícia Civil obedece às limitações do sigilo decretado judicialmente nos autos. A delegada titular Paula Brisola informa que as medidas adotadas estão respaldadas em lei e que todas as providências necessárias visando a segurança e saúde da população serão tomadas”.

Mais cedo, a Secretaria do Estado da Saúde anunciara uma comissão de sindicância para apurar o caso, que será chefiada pelo pelo auditor Mário Lobato da Costa, do Ministério da Saúde. Integrantes da prefeitura de Curitiba também devem participar da comissão. Além disso, o município pediu à direção do Evangélico a substituição de toda a equipe que atua na UTI geral – o Evangélico atende pelo SUS (Sistema Único de Saúde), que é gerido pela prefeitura.

Hospital enaltece “competência profissional” de suspeita

Também via nota oficial, a direção do Hospital Evangélico informou que, “como o inquérito corre em sigilo, não temos conhecimento adequado dos fatos para emitir qualquer juízo". Além disso, afirma que instaurou uma comissão de sindicância interna para apurar os fatos denunciados, e que, “quanto à profissional envolvida, o Hospital Evangélico reconhece a sua competência profissional, e até o momento desconhece qualquer ato técnico da mesma que tenha ferido a ética médica.”

O presidente do CRM (Conselho Regional de Medicina do Paraná), Alexandre Gustavo Bley, disse que “o momento merece toda a atenção por parte do poder público e das autoridades competentes. O CRM reitera sua posição na defesa da saúde da população e informa que as providências cabíveis para abertura de sindicância já estão sendo tomadas e assim que tiver acesso aos autos adotará as medidas necessárias".

Também procurada, a Associação Médica do Paraná preferiu não se manifestar sobre o caso.

A instituição

Inaugurado em 1959, o Evangélico é o maior hospital particular do Paraná. O prédio, localizado no Bigorrilho, bairro de classe média alta de Curitiba, tem 43.694 metros quadrados e atende a mais de um milhão de pacientes por ano, segundo o site do hospital, que é unidade de referência no atendimento a queimados.

Nos últimos anos, o Evangélico enfrenta dificuldades administrativas que levaram funcionários a paralisarem as atividades por diversas vezes – todas elas por atrasos no pagamento de salários, admitidos pela Sociedade Evangélica Beneficente de Curitiba, mantenedora do hospital. A última paralisação ocorreu na semana passada.