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Contador diz não ter como provar que Gil Rugai desviou dinheiro da empresa do pai

Janaina Garcia e Ana Paula da Rocha

Do UOL, em São Paulo

20/02/2013 11h59

O contador Edson Tadeu de Moura disse nesta quarta-feira (20), no terceiro dia do júri do ex-seminarista Gil Rugai, que não tinha como comprovar supostos desvios feitos pelo réu na empresa do pai.

Moura foi contador na produtora de Luiz Carlos Rugai, pai de Gil Rugai, que teria sido morto pelo filho juntamente com a mulher, Alessandra de Fátima Troitini, segundo a acusação.

De acordo com a testemunha, era comum na empresa uma pessoa assinar documentos ou cheques em nome  de outra. O que, segundo Moura, é praxe entre empresas do ramo, principalmente quando há relação entre pais e filhos.

Gil Rugai é acusado de ter assassinado o casal depois de ser descoberto pelo pai em um esquema de desvios de dinheiro na produtora, onde trabalhava.

Segundo a acusação, os desvios, feitos a conta-gotas, se davam por intermédio de assinaturas falsas de Luiz Carlos feitas por Gil Rugai em folhas de cheque da vítima.

“É comum, nas empresas, as pessoas saberem fazer a assinatura o outro. É uma praxe, no meu modo de ver, e muito comum entre pai e filho”, disse.

De acordo com a testemunha, o réu não era funcionário, mas “o filho do dono”. Indagado pelo promotor do caso, Rogério Zagallo, sobre o que significava exatamente, ele respondeu: “Filho do dono é o que manda na estrutura de uma empresa familiar”.

Moura disse que soube do desligamento de Gil Rugai da empresa antes do assassinato do casal, mas que não sabe precisar quanto tempo antes do crime isso aconteceu.

Ele também disse não lembrar o nome da pessoa que assumiu as funções de Gil Rugai depois disso, relatando apenas se tratar de uma moça.

Sobre relatos colhidos à época da investigação de que Gil Rugai teria sido afastado várias vezes da empresa, o contador falou que não seria possível que isso tivesse acontecido tantas vezes sem que ele soubesse, já que tinha contato direto com o réu.

A testemunha também informou que não sabe se quem desligou Gil Rugai da empresa foi de fato o pai dele e que o réu  não era contratado formalmente na produtora.

De acordo com o contador, Luiz Carlos não costumava tomar conhecimento da parte administrativa e financeira da empresa e que apenas Gil Rugai teria o poder de cuidar das contas dos pais. 

Em relação às vítimas, Moura disse que nunca conheceu Alessandra Troitino e que só falou com Luiz Carlos em duas ocasiões, em reuniões da empresa. Por isso, diz ele, não teria como confirmar se Luiz Carlos consentia que o filho assinasse cheques no lugar dele.

O irmão deste contador, José Eugênio Moura, que exerce a mesma profissão, era uma das testemunhas arroladas pela defesa, mas foi dispensado logo após o depoimento de Edson Tadeu de Moura.

O contador é uma das dez testemunhas esperadas para hoje --entre as quais, o ex-sócio de Gil Rugai em uma agência de publicidade, Rudi Otto, o jornalista Valmir Salaro, da Rede Globo, e o irmão do réu, Léo Rugai.

Um segundo contador da empresa da vítima também será ouvido, mas foi dispensado pela defesa. 

Entenda o caso

O ex-seminarista Gil Rugai, 29, é acusado de tramar e executar a morte do pai, o empresário Luiz Carlos Rugai, 40, e da madrasta, Alessandra de Fátima Troitino, 33, em 28 de março de 2004. O casal foi encontrado morto a tiros na residência onde morava no bairro Perdizes, zona oeste de São Paulo.

Vídeo causa confusão

Segundo a acusação, o crime foi motivado pelo afastamento de Gil Rugai da empresa do pai, a Referência Filmes. O ex-seminarista estaria envolvido em um desfalque de R$ 100 mil e, por isso, teria sido demitido do departamento financeiro.

Durante as perícias do crime foram encontrados indícios que, segundo a acusação, apontam Gil Rugai como o autor do crime. Um deles foi o exame da marca de pé deixada pelo assassino numa porta ao tentar entrar na sala onde Luiz Carlos tentou se proteger.

O IC (Instituto de Criminalística) realizou exames de ressonância magnética no pé de Rugai e constatou que havia lesões compatíveis com a marca na porta.

Outra prova que será apresentada pela acusação foi uma arma encontrada, um ano e meio após o crime, no poço de armazenamento de água da chuva do prédio onde Gil Rugai tinha uma agência de publicidade. O exame de balística confirmou que as nove cápsulas encontradas junto aos corpos do empresário e da mulher partiram dessa pistola.

O sócio de Rugai afirmou que ele mantinha uma arma idêntica em uma gaveta da agência de publicidade e que não a teria visto mais lá no dia seguinte aos assassinatos. Gil Rugai chegou a ser preso duas vezes, mas foi solto por decisões da Justiça.