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Repórter da Globo diz que fonte o informou sobre ação criminosa de policiais contra testemunha do caso Gil Rugai

O ex-seminarista Gil Rugai (à esq.) chega ao Fórum Criminal da Barra Funda - Fernando Donasci/UOL
O ex-seminarista Gil Rugai (à esq.) chega ao Fórum Criminal da Barra Funda Imagem: Fernando Donasci/UOL

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

20/02/2013 16h43Atualizada em 20/02/2013 17h26

O jornalista Valmir Salaro, da Rede Globo, disse nesta quarta-feira (20) durante julgamento do ex-seminarista Gil Rugai, 29, que uma autoridade de segurança pública deu a ele a informação de que policiais do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) teriam posto fogo na guarita de um vigia na rua Traipu, em 2004.

O vigia é a única testemunha a relacionar a presença de Gil Rugai ao local em que o empresário Luiz Carlos Rugai e a mulher, Alessandra de Fátima Troitino, foram mortos.

Salaro invocou o sigilo da fonte, previsto na Constituição Federal, para não dizer o nome de quem informou a ele que policiais do DHPP poderiam ter incendiado a guarita do vigia --considerado testemunha-chave no caso tanto por acusação quanto por defesa.

A revelação, seguida da informação de que o caso era inclusive investigado pela Corregedoria da Polícia Civil, deu origem a uma reportagem de Salaro nos programas “Fantástico” e “Jornal Nacional”, à época.

De acordo com Salaro, a própria Corregedoria da Polícia Civil confirmou que investigava a denúncia de suposta participação dos policiais no episódio. “O senhor teve resposta sobre isso?”, perguntou à testemunha o advogado de defesa Marcelo Feller. “Até hoje, não”, respondeu Salaro.

A defesa exibiu no telão aos jurados e à plateia um trecho da reportagem. A testemunha secreta do jornalista teria anotado a placa do carro onde estavam as pessoas que colocaram fogo na guarita --e que seria de um carro do DHPP.

Associação com caso Escola Base

O advogado de defesa Thiago Anastácio também questionou a testemunha sobre reportagem feita por ele que resultou na investigação de seis pessoas ligadas à Escola Base, em São Paulo, na década de 1990. O caso foi amplamente divulgado na imprensa em 1994, ano em que o repórter recebeu a denúncia de pais de alunos que desconfiavam que integrantes da escola estariam abusando de crianças. Na época, um exame médico mostrou que um ferimento em uma das crianças poderia ter sido causado por violência sexual.

Ao fim da investigação, se concluiu que não houve violência física e que os seis acusados eram inocentes. O jornalista admitiu erro em relação à forma como conduziu o assunto: “Admito que errei em ter acreditado fielmente na investigação da polícia, no laudo do IML [Instituto Médico Legal] e em mim mesmo”, declarou.

 

Jornalista nega que produtora se passou por policial

Ao promotor do caso, Rogério Zagallo, Salaro disse ser inverídica a suposição da acusação sobre outro aspecto questionado na reportagem: o de que uma produtora da TV Globo teria ligado à mulher do vigia e se passado por membro da corregedoria da Polícia Civil.

Nessa entrevista, a mulher do vigia alega que o marido não tinha visto Rugai no local do crime, e que essa versão só foi apresentada sob pressão policial. Em outro depoimento, após a exibição da reportagem, ela deu a versão oposta: a de que o vigia havia dito a ela, no dia seguinte ao crime, que vira, sim, o jovem saindo da residência do casal.

“Nossa produtora procurou a esposa do vigia, sim, mas como jornalista interessada em conseguir uma entrevista. Ela nos disse aquilo e temos tudo gravado. Seria um desrespeito e uma afronta dizer que uma jornalista nossa ligaria em nome da polícia, como seria dizer que a polícia faria isso se passando por um jornalista”, encerrou.