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Defesa usa quebra de sigilo telefônico de Gil Rugai para desmontar versão sobre briga entre pai e filho

Ana Paula Rocha e Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

21/02/2013 20h36Atualizada em 21/02/2013 21h02

Durou cerca de quatro horas e meia o interrogatório de Gil Rugai, 29, nesta quinta-feira (21), no Tribunal do Júri de São Paulo. A defesa do estudante, que é acusado de matar o pai e a madrasta em 28 de março de 2004, expôs parte do sigilo telefônico do réu quebrado durante as investigações para mostrar que, na semana que antecedeu o crime, o réu conversou ao menos sete vezes com o pai, Luiz Carlos Rugai, e desmontar a tese de que eles teriam brigado.

Em depoimentos à Polícia Civil, testemunhas ligadas à empresa de Luiz Carlos, a Referência Filmes, e um assistente pessoal da vítima relataram que pai e filho teriam brigado na noite do dia 23 de março. A suposta briga também foi relatada pelo instrutor de voo Antonio Bazaia Neto, que relatou ter ouvido sobre o assunto com ele no dia 24 de março de 2004.

Os advogados mostraram pontos do sigilo que subsidiariam a versão de que, no dia 23, dia da briga relatada no processo, pai e filho teriam jantado juntos no restaurante América da avenida Paulista. Nesse dia e nos seguintes, uma série de ligações do número do réu para a produtora, e mesmo para o celular do pai, seriam a prova, para a defesa, de que a vítima e Gil Rugai não estariam brigados.

O motivo da discussão, segundo consta nos autos do processo, seria a suposta descoberta do empresário de que o filho teria desfalcado a empresa de forma criminosa e o expulsado de casa.

Gil Rugai afirma que não havia sido expulso, e que deixara a produtora por decisão própria em janeiro daquele ano --ou seja, mais de dois meses antes dos assassinatos de Luiz Carlos e da mulher.

"A gente não brigou na terça, a gente não se encontrou na Referência, e sobre as chaves, papai já tinha me dito que queria trocar", disse o réu.

O réu se mostrou surpreso e bastante sorridente quando seu advogado, Thiago Anastácio, exibiu em um telão a página com as ligações feitas na semana anterior aos crimes. "Eu estou bem feliz. Você tinha me dito que ia trazer uma coisa boa, no dia do julgamento, mas devia ter me mostrado antes. Eu ficaria aliviado", afirmou ao defensor. Anastácio retribuiu o agradecimento com dois tapinhas nos ombro do cliente.

 

Entenda o caso

Gil Rugai é acusado de tramar e executar a morte do pai, o empresário Luiz Carlos Rugai, 40, e da madrasta, Alessandra de Fátima Troitino, 33, em 28 de março de 2004. O casal foi encontrado morto a tiros na residência onde morava no bairro Perdizes, na zona oeste de São Paulo.

Segundo a acusação, o crime foi motivado pelo afastamento de Gil Rugai da empresa do pai, a Referência Filmes. O ex-seminarista estaria envolvido em um desfalque de R$ 100 mil e, por isso, teria sido demitido do departamento financeiro.

Durante as perícias do crime foram encontrados indícios que, segundo a acusação, apontam Gil Rugai como o autor do crime. Um deles foi o exame da marca de pé deixada pelo assassino numa porta ao tentar entrar na sala onde Luiz Carlos tentou se proteger.

O IC (Instituto de Criminalística) realizou exames de ressonância magnética no pé de Rugai e constatou que havia lesões compatíveis com a marca na porta.

Outra prova que será apresentada pela acusação foi uma arma encontrada, um ano e meio após o crime, no poço de armazenamento de água da chuva do prédio onde Gil Rugai tinha uma agência de publicidade. O exame de balística confirmou que as nove cápsulas encontradas junto aos corpos do empresário e da mulher partiram dessa pistola.

O sócio de Rugai afirmou que ele mantinha uma arma idêntica em uma gaveta da agência de publicidade e que não a teria visto mais lá no dia seguinte aos assassinatos. Gil Rugai chegou a ser preso duas vezes, mas foi solto por decisões da Justiça.