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Após três trocas de advogados, Bruno vai a júri a partir desta segunda; ex também será julgada

Guilherme Balza e Rayder Bragon

Do UOL, em São Paulo e em Belo Horizonte

03/03/2013 06h00

Quase três anos após a morte da modelo Eliza Samudio, o goleiro Bruno Fernandes irá a júri popular a partir dessa segunda-feira (4), no Fórum Doutor Pedro Aleixo, em Contagem (região metropolitana de Belo Horizonte). O ex-atleta do Flamengo é acusado de ser o mandante do crime, que envolveu uma série de amigos do atleta em uma trama complexa que chocou o país.

Dayanne Souza, ex-mulher do jogador, também será julgada, acusada de ter ajudado no sequestro de Bruninho Samudio, filho de Bruno com Eliza --acusação que também recai sobre o goleiro, também acusado de ter ocultado o cadáver da vítima. Com apenas quatro meses em junho de 2010, quando o crime ocorreu, o bebê teria motivado a morte da modelo, que exigia do goleiro o pagamento de pensão alimentícia, o que Bruno não admitiria.

  • Arte UOL

Bruno está preso desde julho de 2010 na penitenciária de segurança máxima Nelson Hungria, em Contagem, assim como Luiz Henrique Romão, o Macarrão, e Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, também acusado pela morte de Eliza. O goleiro, que recentemente passou a coordenar a faxina do presídio, está preocupado com “fatores externos” ao julgamento, segundo sua defesa.

Dayanne chegou a ficar presa por mais de cinco meses, entre julho e dezembro de 2010. Desde então, aguarda o julgamento em liberdade.

Desmembramento

O goleiro deveria ter sido julgado em novembro passado, junto com Macarrão, condenado pelo júri a 15 anos pelo sequestro de Eliza e do bebê e por participação na morte da modelo. Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada de Bruno, também foi condenada, a cinco anos, pelos sequestros de Eliza e Bruninho. Em seu depoimento no júri, Macarrão admitiu participação no crime, mas, pela primeira vez, apontou Bruno como o mandante da morte de Eliza.

Bruno só não foi julgado com Macarrão porque, no meio do júri, dispensou o advogado Rui Pimenta, com o argumento de que não se sentia seguro com o defensor. O goleiro nomeou Lúcio Adolfo da Silva para o lugar de Pimenta, mas pediu que seu julgamento fosse adiado para que o novo defensor pudesse tomar conhecimento dos autos. A manobra do goleiro provocou também o desmembramento do júri de Dayanne, cujo advogado, Francisco Simim, também compunha a defesa de Bruno. 

Além da troca durante a primeira tentativa de julgamento, o goleiro já destituiu outros dois defensores: o primeiro deles foi Ercio Quaresma, que acompanhou Bruno durante toda a fase de inquérito do processo. O advogado foi destituído pelo goleiro em novembro de 2010, depois de ter sido detido usando crack.

O paranaense Cláudio Dalledone, que na época defendia Macarrão, assumiu a defesa. Um ano depois, o defensor renunciou por considerar “infantil” e “retórica” a tese defendida por Bruno e por advogados dos outros acusados de que, como corpo de Eliza não foi encontrado, não houve crime --mesma tese mantida por Pimenta.

TESTEMUNHAS

DA ACUSAÇÃO
Jorge Luiz Lisboa - primo do Bruno, participou do sequestro
Ana Maria - uma das delegadas do caso
João Batista Guimarães - caseiro do sítio de Bruno
Jailson Alves de Oliveira - detento, diz conhecer os envolvidos no crime
Renata Garcia da Costa
DA DEFESA DE BRNUO
Célia Aparecida Rosa Sales - tia de Bruno
Jorge Luiz Lisboa
Maria de Fátima Santos
Anastácio Martins Barbosa
Amir Borges Matos
DA DEFESA DE DAYANNE
Saiver Júnior Calixto
Célia Aparecida Rosa Sales
Lucy Gama
Paulo César Batista dos Santos
Maria de Fátima Santos

O atual advogado do goleiro, que diz ter participado de pelo menos mil júris, tem no currículo a defesa do traficante Fernandinho Beira-Mar em processos ocorridos em Minas Gerais. Adolfo da Silva afirma ter se “enfronhado” nas 16 mil páginas do processo desde o desmembramento do júri de Bruno e tentará convencer jurados de que Macarrão ordenou a morte de Eliza.

Além da delação de Macarrão, pesa contra Bruno o fato de que, após a condenação do ex-amigo e de Fernanda Gomes de Castro, a morte de Eliza foi legalmente reconhecida.

Já a acusação tem certeza que o goleiro será condenado e promete apresentar uma testemunha que “sabe de tudo”, conforme disse o advogado-assistente da acusação José Arteiro de Almeida, que auxiliará o promotor Henry Wagner de Castro.

Delator do crime será testemunha

No total, 15 testemunhas foram arroladas pela acusação e defesa. Um dos depoimentos mais aguardados no julgamento será de Jorge Luís Rosa, 19, primo de Bruno que admitiu ter participado do sequestro e da morte de Samudio. Menor à época do sumiço da moça, Rosa foi o delator e principal testemunha dos crimes. Ele foi arrolado como testemunha tanto pela acusação como pela defesa do goleiro.

Ao longo do processo, Rosa por diversas vezes mudou a sua versão para o crime, entrando em contradição mais de uma vez. No último domingo (24), em entrevista ao "Fantástico", da "TV Globo", acusou Macarrão de ter planejado a morte de Eliza. Inicialmente, na entrevista, disse que Bruno não sabia da intenção de matar a modelo. Minutos depois, voltou atrás e afirmou que era impossível que o goleiro não soubesse do plano para matá-la.