PMs receberiam até R$ 200 para acobertar traficantes no Rio; 21 são presos
Uma parceria entre a Corregedoria da Polícia Militar, Polícia Civil e Subsecretaria de Inteligência da Segurança Pública do Rio identificou que 49 policiais militares recebiam propina para acobertar traficantes no entorno do Morro da Providência, a zona portuária da capital.
A Operação Fortaleza prendeu até o início da tarde desta sexta-feira (8) 21 PMs, além de 25 suspeitos de tráfico e três adolescentes foram apreendidos. De acordo com a inteligência, cada guarnição (viatura da PM com até quatro policiais) recebia entre R$ 100 e R$ 200 por dia de "trabalho".
Durante a investigação, o setor de inteligência contou com a colaboração da própria PM para obter escalas de trabalho, movimentação de viaturas e também flagrou, por fotos e vídeos, os policiais recebendo dinheiro dos traficantes. A droga, segundo a Polícia Civil, vinha do Morro da Providência, favela que tem uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora).
O porta-voz da PM, coronel Frederico Caldas, disse que os PMs podem ser expulsos da corporação em até 21 dias - em 15 dias a PM vai averiguar o material da investigação e eles terão mais seis dias para entrar com recurso. "Essa conduta é inaceitável. Não temos tolerância e damos a resposta necessária", afirmou Caldas. Ele informou que 143 policiais foram expulsos da corporação em 2011 e que esse número saltou para 317 em 2012. "Não há constrangimento [em apresentar esse número], apesar de ser duro. Mas, não posso deixar de destacar a intolerância e intransigência com essa conduta", disse o porta-voz.
Acertos
O subsecretário de Inteligência, delegado Fábio Galvão, disse que em uma noite até cinco viaturas faziam o acerto com os traficantes. De acordo com a denúncia do Ministério Público, os policiais recebiam o dinheiro de Carlos Henrique de Araújo Martins, o Careca, apontado nas investigações como responsável pela venda da droga fora do morro. O "ponto" onde os PMs encontravam com o traficante para receber a droga era um bar na Praça Mauá, no fim da rua Sacadura Cabral.
Segundo Galvão, o esquema dos policiais era desorganizado, porém, a forma como recebiam o dinheiro das mãos do traficante dificultou a constatação da corrupção. "Eles dissimulavam a maneira de obter o dinheiro. Eles repassavam em apertos de mão, em locais escuros", explicou o delegado.
Entre os suspeitos de tráfico presos está Andreia Vieira de Oliveira, uma das chefes do tráfico na Providência. Ela foi presa na Rodoviária Novo Rio quando voltava à cidade de uma viagem, segundo a delegada-titular da DPCA (Delegacia de Proteção á Criança e ao Adolescente).
Segundo a delegada, ela controla toda a endolação (processo de divisão e embalamento da droga) e distribuição. O entorpecente, segundo Bárbara, chega pronto ao morro, vindo de outras comunidades dominadas pela mesma facção criminosa que a Providência.
De maneira estratégica, os traficantes desciam com a droga do morro sem chamar atenção dos PMs da UPP. "Eles se preocupavam em driblar os policiais, usavam pessoas para não evidenciar o transporte da droga no morro. O tráfico é de forma velada, não há bocas, não há grupos de pessoas, gente em escadaria. É uma nova forma e bem interessante de agir", afirmou a delegada.
O entorpecente era vendido na região da Providência - rua Sacadura Cabral, Morro da Conceição, Saúde, Morro do Pinto e Praça Mauá. Para repassar a droga, os criminosos aliciavam adolescentes. Na operação desta sexta, três foram apreendidos, mas Bárbara diz acreditar que há mais menores envolvidos. "Eles passavam a droga em estabelecimentos nessa região, mas de forma precária, itinerante, nada fixo. Os jovens são aliciados porque falta perspectiva, instrução, são mais influenciáveis", afirmou.
A Operação Fortaleza ganhou esse nome, segundo os delegados, porque a quadrilha utilizava um casarão invadido por famílias carentes para o tráfico de drogas. Segundo a delelegada, os moradores eram coagidos pelos traficantes e praticamente trancafiados no lugar, com portas de ferro que se assemelhavam a uma prisão. Eles só podiam sair do imóvel com a autorização dos criminosos.
A investigação foi desencadeada há dez meses pela DPCA, após a apreensão de dois adolescentes. A especializada levantava informações sobre a venda de crack no morro da Providência e descobriu que policiais militares facilitavam o comércio na comunidade e nos bairros da zona portuária. Após a suspeita da participação dos PMs, a Subsecretária de Inteligência e a Corregedoria da PM foram acionadas.
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