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Irmão de Mércia chora, bate-boca com advogado e diz que Mizael se 'transformou'

Thiago Varella

Do UOL, em Guarulhos (SP)

11/03/2013 14h55Atualizada em 11/03/2013 17h28

Em quase quatro horas de depoimento no fórum de Guarulhos (região metropolitana de São Paulo), Márcio Nakashima, irmão da advogada Mércia Nakashima, chorou, discutiu com o advogado do policial reformado Mizael Bispo de Souza e acusou o réu de ter se "transformado" no segundo ano de namoro com a advogada.

Márcio foi a primeira testemunha ouvida no julgamento de Mizael, ex-namorado de Mércia que começou a ser julgado nesta segunda-feira (11) pela morte dela, em 2010. Durante o depoimento, ele chorou ao relembrar a última vez que viu Mércia.

Segundo o irmão da vítima, a partir do segundo ano do relacionamento de sua irmã, Mizael "se transformou". "Mizael era muito ciumento, possessivo e se transformou. Ele ligava várias vezes para a Mercia", afirmou.

O irmão da advogada contou que, ao contrário do que a defesa alega, Mizael, que foi o único namorado de Mércia, foi muito bem recebido pela família Nakashima.

"Eu jogava bola com ele. Mizael dizia que nunca tinha tido uma festa de aniversário. Organizamos uma na casa da minha vó", disse. Márcio chegou a chorar ao dizer que ajudou a montar o escritório em que Mizael e Mercia trabalhavam juntos.

"Posso dizer que eu incentivei os dois", contou, aos prantos. O irmão de Mércia também disse que a sociedade terminou antes do relacionamento.

"A Mércia cobrava honorários dele. Isso ajudou para o fim da relação entre os dois", explicou. Para Márcio, era Mizael quem hostilizava a própria família. "Ele sempre dizia que os irmãos deles eram vagabundos", falou.

O irmão de Mercia acabou brigando com Mizael e deixou de falar com ele em um incidente ocorrido na casa de praia e Márcio. O réu teria deixado um revólver sobre uma mesinha.

"Meu filho pequeno estava lá e eu não gostei. Mizael disse que o menino mexeria se fosse enxerido", falou.

Alegando medo, Márcio pediu para que Mizael fosse retirado do plenário durante o depoimento. Como é advogado e trabalha em sua própria defesa, o réu pediu para continuar na sala, mas o juiz negou.

"Mizael queria ficar não para constranger, mas para nos auxiliar nas perguntas", disse o advogado Samir Haddad Jr. Mizael saiu escoltado por policiais militares.

Achei que fosse sequestro

Em outro momento do depoimento, Márcio Nakashima  afirmou que procurou Mizael quando sua irmã desapareceu, já que acreditava que se tratava de um sequestro.

Márcio é a primeira testemunha a ser ouvida no julgamento de Mizael, acusado de ter assassinado Mércia em 2010.

"Mizael não me atendeu, mas achei isso normal já que estávamos brigados", disse.

Até o momento em que o corpo de Mércia foi encontrado em uma represa na cidade de Nazaré Paulista, na Grande São Paulo, Márcio tinha certeza de que acharia a irmã ainda viva. Segundo o irmão da advogada morta, a família ainda não cogitava a participação de Mizael.

"Achamos outras coisas estranhas. Um tio meu, advogado e amigo do Mizael, também foi atrás dele, mas ele mandou dizer que não estava", contou. "Fizemos cartazes e nós vimos Mizael retirando estes cartazes. Achei isso estranho, mas não achava que ele tinha matado ela."

Outro fato estranho, segundo Márcio, foi o fato de Mizael ter dito a um amigo que estaria sendo considerado suspeito em um boletim de ocorrência feito pela família após o desaparecimento de Mércia.

Durante todo o depoimento de Márcio, a mãe de Mércia, Janete Nakashima, balançou a cabeça, chorou e chegou a fechar os olhos e apertar as mãos, como se fizesse uma oração.

 

Discussão

No momento mais tenso do júri popular do ex-policial militar Mizael Bispo da Silva, nesta segunda-feira (11), em Guarulhos (Grande SP), o irmão de Mercia Nakashima, Márcio Nakashima, bateu boca com o advogado de Mizael Bispo de Souza, Ivon Ribeiro.

Segundo Márcio, o advogado tentou denegrir a honra de Mércia ao questionar um colchonete que foi encontrado dentro do carro da advogada. Ribeiro tomou a palavra e disse parar Márcio provar o que estava dizendo.

"Traga provas. Me processa", disse o advogado. O irmão de Mércia ficou ainda mais nervoso e começou a fazer mais acusações --citou inclusive insinuações de que o advogado chamara Mércia de "garota de programa".

O juiz Leandro Jorge Bittencourt Cano interrompeu a discussão, pediu silêncio aos advogados de defesa e advertiu Marcio. "Creio que seja muito difícil para o senhor estar aqui, mas peço para não denegrir a imagem de ninguém", falou.

Cano também ordenou a interrupção momentânea da transmissão ao vivo. Após cerca de cinco minutos, a sessão foi retomada.

Durante todo o depoimento de Márcio, a mãe de Mércia, Janete Nakashima, balançou a cabeça, chorou e chegou a fechar os olhos e apertar as mãos, como se fizesse uma oração.

Júri de cinco mulheres e dois homens

O júri do julgamento do ex-policial é composto por cinco mulheres e dois homens. A defesa do  acusado recusou outras três mulheres, sem justificativa. A acusação não recusou ninguém.

Antes da escolha dos jurados, o juiz Leandro Jorge Bittencourt Cano pediu para que os jurados fossem imparciais durante todo o julgamento.

"O caso tomou uma repercussão monstruosa, e meu temor era de que isso influenciasse os jurados. Mas, aqueles que se sentarem ao meu lado, serão os mais imparciais", disse.

Por pedido dos próprios jurados, os rostos dos sete escolhidos não serão mostrados durante toda a transmissão ao vivo.