Topo

Prefeito de Santa Maria classifica inquérito sobre boate Kiss como "aberração jurídica"

Lucas Azevedo

Do UOL, em Santa Maria (RS)

22/03/2013 18h42

"É uma tese ridícula, uma aberração jurídica", disse o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB), ao comentar os resultados da investigação policial sobre o incêndio na boate Kiss, nos quais os investigadores apontam indícios que podem responsabilizá-lo por homicídio culposo.

Em entrevista coletiva no final da tarde desta sexta-feira (22) na prefeitura municipal, Schirmer desqualificou a investigação que envolveu quadros da prefeitura, chamando de "manipulação política".

"Desde o início houve manifestação pública de altas autoridades estaduais incriminando a prefeitura. Já que falamos de indícios, o chefe de polícia veio a Santa Maria diversas vezes orientar o inquérito", salientou o prefeito, citando o chefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, delegado Ranolfo Vieira Júnior, nomeado pelo governador do Estado, Tarso Genro (PT).

Schirmer prosseguiu, citando falas do delegado Marcelo Arigony, que presidiu as investigações. "A única pessoa que falou em impeachment foi o delegado regional de polícia, função que não lhe autoriza sequer a opinar sobre assuntos de natureza política."

Questionado sobre o que pretende fazer em relação aos quatro secretários municipais sobre os quais foram levantados indícios de responsabilidade por homicídio culposo, segundo a polícia, o prefeito disse que aceitará suas renúncias, caso eles coloquem os cargos à disposição. "Quero desde já manifestar minha solidariedade e lealdade e, até que provem o contrário, são [os secretários] respeitáveis e dignos."

Inquérito

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul apresentou hoje a conclusão do inquérito sobre o incêndio na boate Kiss e responsabilizou 28 pessoas pela tragédia. Deste total, 16 pessoas foram indiciadas de forma direta, 10 nomes foram apontados por indícios de crime, mas não podem ser indiciados pela Polícia Civil (9 serão encaminhados à Justiça Militar e 1 ao Tribunal de Justiça) e 9 pessoas foram responsabilizadas por improbidade administrativa (alguns nomes se repetem entre as diferentes responsabilidades).

Entre os indiciados estão os sócios da boate Kiss, Elissandro Spohr, o Kiko, e Mauro Hoffman, e os integrantes da banda Gurizada Fandangueira Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos, que já estavam presos preventivamente na penitenciária estadual de Santa Maria. Os quatro são acusados de homicídio com dolo eventual triplamente qualificado.

 

Além dos sócios da boate Kiss, foram indiciados pelo mesmo crime Ângela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko, sua mãe, Marlene Callegaro, o gerente da boate, Ricardo de Castro Pasche, e os bombeiros Gilson Martins Dias e Vagner Guimarães Coelho, responsáveis pela fiscalização.

Foram indiciados por homicídio culposo (sem intenção de matar) Miguel Caetano Passini, atual secretário de Mobilidade Urbana, Luiz Alberto Carvalho Junior, secretário do Meio Ambiente, Beloyannes Orengo de Pietro Júnior, chefe da fiscalização da Secretaria de Mobilidade Urbana, e Marcus Vinicius Bittencourt Biermann, funcionário da Secretaria de Finanças que emitiu o alvará de localização da boate Kiss.

O major Gerson da Rosa Pereira e o sargento Renan Severo Berleze, ambos do Corpo de Bombeiros e acusados de incluir documentos na pasta do alvará da boate, foram indiciados por fraude processual. O ex-sócio da Kiss Eltron Cristiano Uroda foi indiciado por falso testemunho.

Segundo o inquérito, há indícios de prática de crime de homicídio culposo na conduta dos bombeiros Moisés da Silva Fuchs (comandante regional do Corpo de Bombeiros de Santa Maria), Alex da Rocha Camillo, Robson Viegas Müller, Sergio Rogério Chaves Gulart, Dilmar Antônio Pinheiro Lopes, Luciano Vargas Pontes, Eric Samir Mello de Souza, Nilton Rafael Rodrigues Bauer e Tiago Godoy de Oliveira. Os nove serão investigados pela Justiça Militar.

A polícia também apontou indícios de prática de homicídio culposo por parte do prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer. A acusação será apurada pelo Tribunal de Justiça já que o mandatário tem foro privilegiado.