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Ex-coordenador do Samu diz ao MP que sabia de fraude de digitais em SP

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Ferraz de Vasconcelos

26/03/2013 16h25

O ex-coordenador do Samu de Ferraz de Vasconcelos Jorge Cury prestou depoimento ao MP (Ministério Público) da cidade na manhã desta terça-feira (26). Segundo nota divulgada pela Promotoria, o médico confirmou que sabia das próteses de silicone usadas para burlar o sistema de controle de presença no relógio de ponto da instituição e permitia que ela acontecesse, mas negou que tenha se beneficiado do esquema. Ele afirmou ainda que os cofres públicos não foram prejudicados, já que os plantões eram feitos, sendo apenas os horários flexibilizados.

Cury deixou o prédio do MP sem falar com a imprensa. Ele é acusado, juntamente com a médica Thauane Ferreira, de participar de um esquema que fraudava ponto de profissionais da área da saúde que trabalhavam no Samu com o auxílio de dedos de silicone.

Procurado, o promotor público Daniel Magalhães Albuquerque Silva, que cuida do caso, disse apenas que a instituição se pronunciaria através de nota oficial. Cury havia sido convocado para depor em 15 de maio, mas faltou ao compromisso alegando problema de saúde. Desde que o caso foi descoberto, em 10 de março, ele se pronunciou apenas uma vez.

“Isso é um absurdo! Sou funcionário da prefeitura há 25 anos. Eu nunca soube disso”, disse ele, na ocasião. Desde então, ele já foi procurado pelo UOL em seis diferentes oportunidades, mas nunca atendeu nem retornou às ligações.

A prefeitura abriu uma sindicância para apurar o caso e a Polícia Civil abriu dois inquéritos – um contra Thauane, por falsificação de documento, e outro para apurar suposto crime de formação de quadrilha no funcionamento do esquema. O Ministério da Saúde informou que está fazendo uma auditoria no Samu de Ferraz de Vasconcelos.

Quebra de sigilo

A Câmara de Ferraz de Vasconcelos vai pedir a quebra do sigilo telefônico dos médicos. A informação é do vereador Roberto Antunes de Souza (PMDB), que preside a CEI (Comissão Especial de Inquérito). “O pedido deve ser feito nesta quarta-feira”, comentou o parlamentar, para quem a quebra de sigilo será importante para determinar o funcionamento do sistema de fraude.

Thauane prestou depoimento à CEI hoje de manhã e, segundo Souza, confirmou a existência do esquema, ressaltando que ele começou a funcionar em fevereiro de 2012. Além disso, ela disse que seis médicos, incluindo ela, participavam da fraude, que seria comandada por Cury.

Médicos são afastados após fraude ser descoberta

Ela teria dito ainda que Jorge Cury era o mentor do esquema e foi ele quem providenciou os dedos de silicone, cujos moldes foram feitos dentro do Samu. A médica afirmou que participava do esquema para não perder o emprego.

A reportagem tentou contato com Thauane, mas ela não atendeu às ligações telefônicas. Seu advogado também foi procurado, mas o contato não foi possível até o fechamento da matéria.

Esquema

Segundo a denúncia que está em apuração no MP, Cury é acusado de liderar um esquema de fraude ao ponto de médicos e profissionais que prestavam serviço no Samu. A cada plantão não cumprido, Cury receberia R$ 1.200 por médico.

A prefeitura de Ferraz de Vasconcelos afastou sete profissionais e determinou apuração interna. Se as denúncias forem comprovadas, eles serão exonerados do serviço público. Os médicos serão ouvidos e devem apresentar suas defesas.

A sindicância tem prazo máximo de 120 dias – que vence em junho – para terminar. Nesse período, os afastados recebem normalmente seus proventos. Cada médico ganha R$ 5.700 por 24 horas semanais de trabalho.

Na primeira semana de março, a Guarda Municipal de Ferraz de Vasconcelos recebeu uma denúncia de que servidores do Samu estariam tendo o ponto batido por colegas sem que fossem trabalhar. A partir de então, a guarda procurou o Ministério Público, que autorizou a captação de imagens do esquema como forma de provar a irregularidade.

Em 10 de março, uma equipe de guardas se deslocou para a prefeitura, onde os servidores do Samu batem o ponto e, por volta das 7h, flagrou Thauane marcando o ponto eletrônico para colegas.

Com ela, foram apreendidos seis dedos de silicone, utilizados para fraudar o ponto, e comprovantes impressos no nome dele e de outros três colegas de trabalho, que não estavam presentes, pelo equipamento que controla o horário dos funcionários.

Depois de presa, Thauane admitiu que batia o ponto para os colegas e afirmou, segundo versão registrada no Boletim de Ocorrência. No mesmo dia, a Justiça concedeu um habeas corpus e ela foi solta.