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No verão, 64 praias ficam impróprias no Brasil; 46 estão no Rio de Janeiro

A Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, é uma das regiões que está sendo revitalizada - Angelo Antonio Duarte
A Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, é uma das regiões que está sendo revitalizada Imagem: Angelo Antonio Duarte

Priscila Tieppo*

Do UOL, em São Paulo

28/03/2013 07h00

Ao longo deste verão, 64 praias permaneceram impróprias de acordo com relatórios emitidos pelos órgãos que fazem a medição de poluição das águas nos Estados brasileiros.

Praias impróprias durante o verão

EstadoCidadePraias
RJAngra dos ReisAnil, Bonfim, Camorim, Frade, Itinga, Jacuecanga e Vila Velha
RJAraruamaCentro
RJCabo FrioPassagem
RJCasimiro de AbreuPontal
RJMagéAnil, Ipiranga, Luz, Mauá e Piedade
RJMangaratibaMuriqui
RJMaricáAraçatiba
RJNiteróiCharitas, Gracoatã, Icaraí, Jurujuba e São Francisco
RJParatyCorumbê, Tarituba e Terra Nova
RJRio de JaneiroB. Capanema, Bandeira, Bica, Botafogo, Cardo, Catimbau, Engenhoca, Flamengo, Galeão, Grossa, Guanabara, Jardim Guanabara, Moreninha, Pelônias, Pitangueiras, Quebra-Marat, Ramos, Recôncavo, São Bento e Sepetiba
RJSão Pedro da AldeiaAldeia
SCBarra VelhaLagoa de Barra Velha
SCFlorianópolisPraia da Beira, Balneário, Bom Abrigo e Jardim Atlântico
ESVila VelhaFoz do Rio Jucu e Prainha
ESVitóriaCanal da Passagem, Praia do Canto e Santo Antônio
SPGuarujáPerequê
SPSão VicenteMilionários e Prainha
BASalvadorPedra Furada
PEOlindaFarol
PRAntoninaPonta da Pita
CEFortalezaPraia do Farol
PBCabedeloPraia do Jacaré

Destas, 46 estão no Estado do Rio de Janeiro (39 na capital), cinco no Espírito Santo (três em Vitória), cinco em Santa Catarina (quatro em Florianópolis), três em São Paulo, uma na Paraíba, uma no Ceará, uma no Paraná, uma em Pernambuco e uma na Bahia.

Porém, não é só no verão que as praias ficam impróprias. E a medição realizada pelos órgãos responsáveis é feita durante o ano todo. Entre os fatores que prejudicam a balneabilidade durante o verão estão o aumento das chuvas, o desague de esgotos no mar e o aumento de pessoas nas praias.

No Espírito Santo, o problema maior é a falta de um sistema regular de esgoto para fazer a coleta adequada. Nas cinco praias, este motivo foi apresentado como justificativa pela Prefeitura de Vitória, que monitora as praias da região, e pela Cesan (Companhia Espírito Santense de Saneamento), que cuida do resto do Estado.

Além disso, segundo Márcia Soares (técnica da Secretaria Municipal do Meio Ambiente), a movimentação constante nas praias também piorou a qualidade da água. “Para melhorar essas condições, existe o programa Águas Limpas da Cesan, que visa instalar redes de esgoto e fiscalizar essas regiões. Já nas praias, é feita a conscientização da população para não sujar os locais”, explicou.

Em Santa Catarina, o Fatma (Fundação do Meio Ambiente) monitora as praias do Estado e afirmou que a situação mais complicada é na praia Lagoa de Barra Velha, em Barra Velha. “Está morta, ninguém toma banho nela. Vamos começar a estudar uma ação ainda este mês”, disse Haroldo Elias, gerente do Laboratório de Análises.

As outras citadas no relatório também passam por problemas com a rede de esgoto. Balneário, Jardim Atlântico e Bom Abrigo, todas em Florianópolis, já estão recebendo melhorias no esgotamento e fiscalização, de acordo com a fundação.

Em São Paulo, a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) afirma que as praias consideradas poluídas assim estão por conta dos mesmos problemas relatados pelos outros Estados. No caso das duas praias de São Vicente (a 65 km da capital), alguns bairros próximos não possuem rede de esgoto e, além disso, a baía por ser pequena não consegue fazer a renovação da água.

Segundo a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), que coordena o programa Ondas Limpas, houve uma melhora na qualidade das praias considerando dados de 2011 em relação ao ano passado.  O programa começou em 2007 e pretende melhorar as condições de mais de 230 praias do litoral paulista com investimento em saneamento básico.

Cidade em destaque

Além de ser uma das cidades-sede da Copa do Mundo de 2014, o Rio de Janeiro também receberá os Jogos Olímpicos de 2016. Com o Comitê Olímpico, o Estado assinou um compromisso que lista várias melhorias que devem acontecer na cidade, entre elas, a condição das praias.

Visando esta meta, o governo do Estado e a Prefeitura do Rio pretendem despoluir seis praias localizadas na zona sul da capital e na Ilha do Governador em um projeto chamado Sena Limpa, iniciado em 2012, com previsão de término em meados de 2015, de acordo com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente, que coordena o programa.

Em etapas diferenciadas de conclusão, já foram iniciadas as obras de recuperação das praias de São Conrado, Leblon, Ipanema, Leme e Urca, na zona sul, e da Bica, na Ilha do Governador. Serão investidos R$ 150 milhões para melhoria e ampliação da coleta de esgoto e readequações de galerias pluviais.

A escolha das praias foi feita com base nas medições realizadas pelo Inea (Instituto Estadual do Ambiente) durante o ano de 2011. As que apresentaram altos índices de má qualidade da água foram priorizadas, de acordo com a Secretaria.

Das praias que apresentaram os piores índices neste verão apenas a da Bica está no programa. De acordo com Gelson Serva, gestor executivo do Sena Limpa, outras praias devem entrar nas próximas edições. “Claro que existem outras praias com piores condições, mas priorizamos estas e, depois, elencaremos mais seis. Será sempre de seis em seis praias”, explicou.

As mudanças na Urca devem, segundo Seva, melhorar as condições das praias do Botafogo e Flamengo, que ficaram impróprias de acordo com os dados do Inea.

Além deste projeto, há outro para despoluição da Baía de Guanabara que pretende, até as Olímpiadas de 2016, tratar 16 mil litros de esgoto por segundo para melhorar as condições da região. Até lá, devem ser investidos, de acordo com o Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos), R$ 2 bilhões em esgotamento sanitário.

Além da falta de coleta de esgoto, outro fator que pode piorar as condições nas praias são as chuvas. De acordo com o Inea, a questão das chuvas se relaciona diretamente com os resultados de balneabilidade das praias em áreas urbanas, como são os casos de Niterói e da cidade do Rio de Janeiro. O instituto monitora 45 praias no município do Rio de Janeiro e 116 no restante do Estado.

Condições das praias no litoral brasileiro

  • Arte/UOL

Medição

Apesar do controle das águas das praias ser feito o ano todo, alguns fatores podem piorar as condições de balneabilidade. Durante o verão, o nível de chuvas aumenta e a “limpeza” que a água faz na região desemboca facilmente no mar em cidades litorâneas.  Além disso, a falta de rede regulamentada de esgoto em alguns locais facilita a poluição.
Bairros próximos às praias sem coleta de esgoto podem piorar o índice de coliformes fecais nas águas marinhas.

Para medir este índice, são retiradas cinco amostragens das águas da praia a ser monitorada. O limite permitido na contagem feita em laboratório é de 100 unidades de partículas poluentes (coliformes ou enterococos, presentes no intestino humano) em 100 ml de água. A partir daí, o órgão responsável, com base na lei do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), classifica a água como própria ou imprópria.

Cuidados com a saúde

Praias com condições impróprias para banho se utilizadas podem causar doenças aos frequentadores. De acordo com Maria Cláudia Stokler, médica infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo, o contato com águas contaminadas por coliformes fecais pode causar infecções no estômago e no intestino, chamadas de gastroenterites.

Esse quadro é preocupante para bebês e idosos, já que causam desidratação. Os sintomas mais comuns são diarreia aguda, vômito, febre, mal-estar e dores pelo corpo.

Stockler alerta para o caso de desidratação com desmaios. "É um quadro preocupante. E se a pessoa tiver diarreia por mais de três dias também deve se preocupar", disse.

Nos cuidados com a alimentação durante este período, a médica afirma que é necessário evitar tomar leite, pois durante a infecção o paciente perde a enzima que digere este líquido. "É importante comer alimentos de fácil digestão e dar preferências aos carboidratos. Maçã, batata e arroz são bem-vindos", orientou.
 

*Colaborou Renan Antunes de Oliveira, do UOL, em Florianópolis.