Topo

"Impossível motorista estar em alta velocidade", diz sindicato sobre acidente no Rio

Felipe Martins

Do UOL, no Rio

04/04/2013 13h14

O vice-presidente do Sintraturb (Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus do Rio de Janeiro), Sebastião José da Silva, disse considerar “impossível” o motorista do ônibus da linha 328 (Castelo – Bananal) estar em alta velocidade no momento do acidente que ocasionou a morte de sete pessoas na tarde de terça-feira (2) no Rio. 

“Do ponto de ônibus onde ele parou até o local do acidente ele rodou cerca de 200, 300 metros. Considerando que era a subida de um viaduto e um carro pesado, posso afirmar como profissional com 32 anos de carteira que ele devia estar no máximo a 35, 40 km/h”, disse. “Não existe a possibilidade de ele estar em alta velocidade.”

Segundo a Secretaria Municipal de Transportes, a velocidade máxima permitida para um ônibus é de 60 km/h em qualquer via da cidade. 

Veja o local onde o ônibus caiu

  • Arte/UOL

Ainda segundo Silva, se a causa do acidente fosse a velocidade, o veículo teria permanecido na pista, e não caído sobre a avenida Brasil, como o ocorrido.  “Se o ônibus estivesse em alta velocidade, teria capotado na pista. Na nossa opinião, está descartada essa hipótese”, afirmou.

Na quarta-feira (3), o titular do distrito policial de Bonsucesso (21ª DP), José Pedro Costa da Silva, afirmou que vai indiciar o motorista do ônibus e o jovem suspeito de tê-lo agredido antes do acidente por homicídio doloso -- com intenção de matar. Ele também pretende pedir a prisão preventiva dos dois.

Segundo o delegado, o estudante de engenharia Rodrigo dos Santos Freire, 25, foi reconhecido presencialmente e por foto por duas testemunhas como o agressor do motorista André Luiz da Silva Oliveira, 33. Já o motorista será indiciado por ter incitado a briga e porque, segundo o delegado, dirigia em alta velocidade.

A Rio Ônibus (Sindicato das Empresas de Ônibus) informa que foram ministrados na empresa de ônibus cursos de direção defensiva, primeiros socorros e relações interpessoais para 275 motoristas. Se considerado todo o consórcio Internorte, que abrange empresas de ônibus que atuam em bairros da zona norte da cidade, este número alcança 3.142 profissionais.

Segundo o sindicato, o curso não é obrigatório. A Paranapuan não informou se o motorista participou das aulas. 

Pressão

O representante do Sintraturb afirmou também que recebe denúncias de motoristas da empresa sobre pressão pelo cumprimento do horário, que acabaria obrigando os condutores a aumentar a velocidade no trânsito urbano. "Nós recebemos dessa e de outras empresas de ônibus esse tipo de denúncia. Nós procuramos orientar os motoristas a não cumprir esse tipo de ordem. Não apenas essa, como também a de não permitir o embarque de estudantes e de idosos. A nossa recomendação é que não se cumpram essas determinações”, afirmou.

O vice-presidente do sindicato lembrou que, em janeiro, foi organizada uma paralisação de funcionários da Viação Paranapuan contra o exercício da dupla função dos motoristas. “A maioria dos ônibus da Paranapuan não tem cobrador. Nessa linha [a 328], nenhum ônibus tem cobrador, o que é um absurdo. O motorista tem que se preocupar apenas com o trânsito”, disse.

No Hospital Getúlio Vargas, onde o marido está internado, a mulher do motorista o definiu como uma pessoa calma e disse que ele costumava acumular as funções de motorista e cobrador.

"Como ele era novo na empresa [Paranapuan], raramente dirigia com um cobrador. Quase sempre fazia as duas funções. Ele não era explorado, mas sempre fazia hora extra", afirmou Francilene dos Santos, 40. "Às vezes, somava tanto tempo que ele ficava uma semana em casa."

Em nota, a Rio Ônibus informou que a cobrança de passagens por motoristas é uma função prevista em acordo coletivo com a categoria dos rodoviários desde 2003, reconhecida pelo Ministério do Trabalho. Ainda de acordo com o sindicato patronal, as empresas entendem que não há risco à segurança, desde que o profissional permaneça com o veículo parado enquanto faz o troco, o que é uma orientação reiterada pelas gerências de operação de cada empresa e nos treinamentos ministrados. 

A nota prossegue afirmando que o Rio de Janeiro não é um caso isolado e que há outras cidades brasileiras e estrangeiras há profissionais que também fazem a cobrança da passagem, sem citar nenhuma em específico.