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Defesa de Bola deu "tiro no pé", diz promotor; advogado fala em "dia fantástico"

Carlos Eduardo Cherem e Rayder Bragon

Do UOL, em Contagem (MG)

23/04/2013 01h50

A estratégia da defesa de Marcos Aparecido Santos, o Bola --réu sob as acusações de ter matado e escondido o corpo de Eliza Samudio, em 2010-- no primeiro dia de julgamento, nesta segunda-feira (22), no Fórum Doutor Pedro Aleixo, em Contagem (MG), foi “um tiro no pé”

Essa é a avaliação do promotor do caso, Henry Vasconcelos, numa referência à atuação dos advogados de Bola durante o depoimento da delegada Ana Maria Santos, ouvida como informante durante mais de seis horas. A defesa do acusado tenta desqualificar o inquérito policial que apurou o desaparecimento e morte de Eliza Samudio --ex-amante do goleiro Bruno Fernandes, já condenado pelo crime a 22 anos de prisão.

Veja como foi o julgamento do goleiro Bruno 

Washington Alves/UOL

O promotor acredita que a delonga dos defensores nos questionamentos feitos à policial, com perguntas repetidas e argumentações contra o trabalho de investigação da polícia mineira no caso acabou favorecendo o trabalho da acusação.

"Entendo que deva ser feita com plenitude a defesa. Ela deve trabalhar no plenário, prestando seus serviços ao cliente que a constitui. Entretanto, o modo maçante como a defesa trabalhou em plenário hoje foi um tiro no pé", afirmou Vasconcelos. 

Para o promotor, a situação criou uma "antipatia" à defesa de Bola e acabou favorecendo a acusação.

"Houve uma percepção, por parte dos jurados, de que as perguntas dirigidas à delegada Ana Maria tiveram um viés estritamente argumentativo. Ou seja, propósito de antecipação de argumentos próprios para o momento dos debates entre defesa e acusação. É óbvio que isso enjoa os jurados e desperta uma antipatia em torno dessa defesa tão pouco sábia", afirmou o promotor, após o encerramento do primeiro dia do júri popular --o terceiro do caso.

Complexidade do caso

Segundo Vasconcelos, o detalhamento acabou por favorecer teses da acusação, já que permitiu maior conhecimento pelos jurados da complexidade do processo. 

"O dia foi muito produtivo. Esse depoimento da delegada foi de grande relevância para conhecimento dos jurados da causa. Na exata medida, a informante --uma autoridade policial muito atuante no curso das investigações-- foi a pessoa responsável pela colheita mais significativa do processo: o depoimento mais detalhado de um informante visceral para a causa, que se trata do ex-menor Jorge Luis Lisboa Rosa, que presenciou o assassinato de Eliza Samudio na casa do executor Bola , na noite de 10 de junho de 2010", afirmou o promotor. 

Segundo Vasconcelos, o detalhamento do depoimento da delegada Ana Maria trouxe, "não somente os detalhes do desenvolvimento do crime, mas, sobretudo, o desenvolvimento das complexas investigações que levaram ao deslinde da co-autoria desse sujeito (Bola) no assassinato".

"Dia fantástico”

Já o advogado assistente de defesa de Bola, Fernando Magalhães, afirmou ao final do primeiro dia de julgamento que a sessão trouxe um "dia fantástico para a defesa".

"O depoimento da delegada Ana Maria desmerece o Ministério Público. Ela mostrou categoricamente que não existe qualquer vestígio, qualquer prova, de que Eliza Samudio teve sua vida ceifada na casa do Marcos Aparecido dos Santos, o Bola. Sobretudo os cruzamentos das ligações telefônicas que revelaram que ele não estava no dia em casa, apontado como o local do crime", disse Magalhães.

"Mostramos, através (sic) de provas, que essa investigação foi ungida claramente e modificada com a intenção de incriminar o Marcos Aparecido e excluir outras pessoas", disse o advogado de defesa. 

Na tarde desta segunda-feira, Magalhães acusou o ex-chefe do Departamento de Investigações da Polícia Civil de Minas Gerais, Edson Moreira, de ser inimigo pessoal do ex-policial Bola, sugerindo que o delegado incriminou o réu por motivo pessoal.