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Vingança pode ter motivado chacinas na Grande SP, diz polícia

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

24/04/2013 18h19

Um “forte conjunto de provas” composto por uma touca ninja, a foto de um traficante e munição vai subsidiar um pedido de prisão temporária contra dois policiais militares de Osasco e dois vigilantes noturnos de Carapicuíba suspeitos de participação em chacinas nas duas cidades da Grande SP.

Os dois PMs já foram presos administrativamente, e um dos vigilantes foi preso em flagrante por porte ilegal de munição.

Os pedidos de prisão temporária serão apresentados à Justiça amanhã (25) por uma força-tarefa composta pela Corregedoria da PM e pela Polícia Civil, que apura a participação direta do grupo em cinco assassinatos ocorridos nas duas cidades em fevereiro e neste mês.

Em entrevista coletiva concedida nesta quarta-feira (24), o comandante-geral da PM no Estado de São Paulo, coronel Benedito Meira, e o delegado-geral da Polícia Civil no Estado, Luiz Mauricio Souza Blazeck, responsáveis pela força-tarefa, afirmaram que foram cumpridos mandados de busca e apreensão na casa dos policiais e dos vigilantes no último sábado (20), além de buscas no Batalhão no qual os PMs --um sargento e um soldado --trabalham, em Osasco.

Na casa de um dos policiais foi encontrada a foto de um traficante investigado pela morte de um soldado. Questionado, então, se a ação do grupo poderia ser motivada por vingança, Meira admitiu que a hipótese é considerada.

Com esse mesmo policial a polícia encontrou, ainda, munição de arma calibre 22, que não é compatível com a arma registrada em nome dele. “Ele alegou que a munição era de um parente, mas esse parente não existe”, declarou o delegado-geral.

Na casa do outro policial a polícia encontrou uma touca “ninja” cuja origem não foi explicada pelo PM. “Ele nos disse que usa a touca para andar de moto, mas ele não tem moto", completou Blazeck.

Jaqueta e celular também são apreendidos

Entre as provas que a polícia espera usar para subsidiar os pedidos de prisão estão ainda celulares localizados com o grupo e a jaqueta de um dos PMs.

O comandante da PM explicou que, no caso da jaqueta, imagens de câmeras de vídeo de um dos crimes apontaram um detalhe da vestimenta que é idêntico ao de uma jaqueta localizada na casa do policial.

Já os celulares terão solicitada à Justiça a quebra de sigilo a fim de detectar se foram feitas ligações, nos dias dos crimes, próximas às localidades em que as vítimas foram baleadas.

Chefes das polícias evitam falar em "grupo de extermínio"

Tanto o chefe da PM quanto o delegado-geral refutaram a hipótese de haver grupo de extermínio agindo entre os policiais. "O que temos são ações isoladas de policiais que desviaram suas condutas na prática desses crimes”, disse Blazeck.

“Em uma corporação com cerca de 89 mil policiais é difícil acreditar que não há desvios, mas, se tivermos indícios, seremos implacáveis”, completou o comandante da PM, salientando que, uma vez comprovada a participação dos PMs nos crimes investigados, eles estarão sujeitos não só a processo na Justiça comum como a expulsão da corporação.

Entenda o caso

Dois policiais militares foram presos sob suspeita de participar de um grupo de extermínio que promoveu uma chacina em Carapicuíba e em Osasco (ambos na Grande SP) na semana passada, segundo reportagem do SBT Brasil exibida na terça-feira (23). Doze pessoas foram baleadas e quatro morreram. Nenhum dos atingidos tinha passagem pela polícia.

Os PMs foram detidos nas dependências da Corregedoria da Polícia Militar depois que foram encontradas toucas ninjas e munições compatíveis com as usadas na chacina, ocorrida entre a noite de quarta-feira (17) e a madrugada de quinta (18). Também na Grande SP, em Guarulhos, a ação de grupo com participação de policiais militares é investigada: em 9 meses, 80% dos assassinatos tiveram participação de policiais, apontam investigações.

Hoje, na entrevista coletiva, os chefes das duas polícias informaram que dois PMs foram afastados das funções em Guarulhos enquanto as 20 mortes registradas em 18 casos ocorridos entre março de 2011 e janeiro deste ano são investigadas.

Queda de mortos em confrontos com a PM

Segundo dados da SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), as mortes de suspeitos em confrontos com a polícia caíram cerca de 42% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Foram 65 casos nos três primeiros meses de 2013, contra 112 em 2012.

Investigações veem ação de grupo de extermínio em Guarulhos

No boletim de ocorrência consta que, apesar de as vítimas terem sido mortas a tiros, não foram encontrados projéteis na cena do crime. Uma força-tarefa com 12 delegados da Polícia Civil foi criada para investigar os crimes.

De acordo com a reportagem, ao menos 20 pessoas foram mortas em uma série de chacinas que teriam ocorrido com participação de grupos de extermínio desde outubro passado. Em algumas das chacinas foi comprovado o uso de balas de um lote comprado pela PM.

Mapa dos crimes indica 'efeito retaliação' após mortes de agentes do Estado (atualizado até fev.2013)

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