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'Ela foi induzida ao erro', diz advogada de auxiliar de hospital onde morreram três

Uéber Rosário/Futura Press
Imagem: Uéber Rosário/Futura Press

Fabiana Marchezi

Do UOL, em Campinas

28/04/2013 06h00

A auxiliar de enfermagem que injetou produtos tóxicos em pacientes do hospital Vera Cruz, em Campinas (SP) foi “induzida ao erro”, segundo sua advogada, Ivânia Soares Engelberg.

“Ela tem apenas 20 anos, exercia o cargo de auxiliar de enfermagem pela primeira vez na vida e foi induzida ao erro ao não ter sido orientada sobre o reaproveitamento da embalagem de soro para armazenar o perfluorocarbono, tampouco sobre a gaveta onde a substância ficava guardada", disse a advogada.

Três pessoas morreram, em 28 de janeiro, após serem submetidas a exames de ressonância magnética no hospital particular Vera Cruz. Na última quarta-feira (24), a Polícia Civil de Campinas confirmou que as mortes foram causadas por falha humana.

O produto tóxico perfluorocarbono --uma substância química de uso externo utilizada para exames específicos-- foi injetado nos pacientes por engano, segundo fontes ligadas à investigação. Laudos da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e do IC (Instituto de Criminalística) confirmaram a presença da substância no corpo das vítimas.

A culpa, segundo a advogada, teria sido da clínica Ressonância Magnética Campinas (RMC), responsável pelos exames feitos dentro do hospital.

A auxiliar de enfermagem está afastada do trabalho, ainda de acordo com sua advogada. "Não tenho nenhuma dúvida de que a Justiça entenderá que ela não teve a mínima culpa. Qualquer um teria se confundido, o inquérito está bem claro", disse.

Com o caso praticamente encerrado, o inquérito segue para uma segunda fase, que deve levar mais 15 dias. A atribuição de responsabilidades no caso sairá a partir de novos depoimentos que serão colhidos na próxima semana pelo delegado José Carlos Fernandes, que conduz o inquérito.

Substância tóxica era armazenada em bolsas de soro reaproveitadas

As vítimas receberam na veia 10 mililitros de perfluorocarbono, uma substância industrial, que, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), "só pode ser utilizado no aparelho de ressonância, sem entrar em contato com o corpo do paciente".

O composto era armazenado pela RMC, responsável pelos exames realizados dentro do hospital, em bolsas reaproveitadas de soro fisiológico, sem identificação, motivo que, segundo a investigação policial, induziu ao erro à auxiliar de enfermagem que trabalhava no local havia dez dias.

Na corrente sanguínea, o produto industrial provocou a formação de bolhas, que causaram uma série de eventos, como parada cardiorrespiratória, e levaram os pacientes à morte por embolia gasosa.

Ministério Público do Trabalho investiga irregularidades na clínica

O Ministério Público do Trabalho (MPT) de Campinas, que investiga irregularidades trabalhistas na clínica, suspeita que a auxiliar de enfermagem em questão trabalhava sem registro em carteira. De acordo com o MPT, a lista de profissionais enviada pela clínica ao órgão não tinha registro de nenhum profissional recém-contratado, o que indica sonegação de informação.

Agora, o MPT vai pedir acesso ao inquérito à Polícia Civil e solicitar informações à Devisa e à RMC para complementar as investigações. Caso seja confirmado que a auxiliar não tinha carteira assinada, o órgão pode ajuizar uma ação civil pública pedindo indenização à empresa por dano moral coletiva.

A assessoria da clínica informou que prepara para a próxima semana uma entrevista coletiva para esclarecer os fatos. O advogado Ralph Tórtima Stenttinger, que defende a clínica, informou que está trabalhando incessantemente no caso, mas ainda não tem nada a declarar.

Anvisa emitiu alerta

Na sexta-feira (26) a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu um alerta pedindo mais rigor das vigilâncias sanitárias do país em relação às vistorias feitas nos serviços de saúde.

Embora o órgão ainda não tenha recebido o relatório final da Vigilância Sanitária de Campinas, a gravidade do caso "impõe a necessidade de destacar alguns pontos, inclusive quanto à capacitação dos funcionários, de forma a minimizar os riscos inerentes aos procedimentos e garantir a segurança dos pacientes", diz o comunicado.

No alerta, a Anvisa explicou que o perfluorocarbono não é usado na medicina e por isso não tem, nem poderia ter registro. "O produto utilizado em Campinas não tem uso médico, seu uso é em equipamento, logo não poderia ter registro na Anvisa", diz a nota.

A agência ressaltou ainda que continuará monitorando e avaliando este caso para adotar outras medidas "caso necessário".