Familiares de vítimas da boate Kiss bloqueiam estrada contra soltura de réus
Cerca de 150 pessoas interrompem parcialmente o trânsito na BR-287, em Santa Maria (RS), entre 17h e 18h desta quarta-feira (5) chamando a atenção contra a soltura de quatro réus do processo sobre a tragédia da boate Kiss. O incêndio na casa noturna, ocorrido no dia 27 de janeiro, matou 242 pessoas.
A manifestação, acompanhada de um carro de som, fez um percurso de aproximadamente 500 metros e causou um congestionamento com cerca de 1 km na rodovia, de acordo com a Brigada Militar. Em um microfone, Hildo Toniolo, pai de Leandra, vítima da tragédia, explicava as razões do protesto e pedia oração aos 242 “filhos” em diversos momentos. “Vou lutar até que a Justiça seja feita. E se eu morrer antes disso, meus filhos continuarão esse legado, lutando até a morte”, disse. Toniolo ainda tem três filhos.
Aos motoristas foram distribuídos panfletos e pedido que buzinassem. A população colaborou fazendo barulho e foi aplaudida pelos manifestantes.
No final do percurso, os manifestantes deitaram-se, interrompendo totalmente o trânsito na estrada. Uma avó passou mal e foi atendida pela ambulância da Cruz Vermelha que acompanhava o ato.
Os participantes elogiam o papel da Polícia Civil, responsável pelo inquérito, e condenam o TJ-RS (Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul). "Queremos mostrar que existe comoção [na cidade], já que o desembargador disse que não havia mais", afirma Aderbhal Ferreira, presidente da AVTSM (Associação dos Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria), um dos líderes da marcha.
Ele faz referência à decisão dos desembargadores do tribunal que, no dia 29 de maio, concederam liberdade provisória aos sócios da boate Kiss e aos dois membros da banda Gurizada Fandangueira.
"Se, em razão do intenso abalo social provocado pela tragédia que resultou em tantos mortos e feridos, justificava-se a prisão preventiva dos supostos responsáveis no momento em que foi decretada, como garantia da ordem pública, a verdade é que, passados quatro meses desde o infausto acontecimento, já não se fazem mais presentes os aspectos da ordem pública ressaltados pelo magistrado no decreto prisional: o clamor público e a necessidade de resguardar-se a credibilidade da justiça", escreveram os desembargadores na decisão.
"O que fizeram conosco foi muito jogo baixo. Estão julgando [o caso] como crime comum, mas é crime hediondo. Queremos mostrar nossa insatisfação para Brasília, porque esse processo vai pra lá", completa Ferreira.
Nessa terça-feira (4), o MP-RS (Ministério Público do Rio Grande do Sul) afirmou ao UOL que entrará com dois recursos para reverter a decisão do TJ-RS, um no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e outro no STF (Supremo Tribunal Federal). "Precisamos convencer da necessidade da prisão e de que o TJ estava errado", afirmou o coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal do MP, promotor David Medina.
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