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Em dia de maior repressão da PM, ato em SP termina com jornalistas feridos e mais de 240 detidos

Do UOL, em São Paulo*

13/06/2013 22h39Atualizada em 14/06/2013 10h53

Com o endurecimento da repressão por parte da Polícia Militar, o quarto ato contra o aumento das tarifas do transporte público em São Paulo, realizado na noite desta quinta-feira (13), terminou sendo o mais violento da série de manifestações ocorridas na cidade nos últimos dias.

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Segundo a delegada Victória Lobo, titular da 78º DP (Jardins), 241 pessoas foram detidas no protesto e encaminhadas para essa delegacia,  para o 1º DP (Liberdade) e para o 4º DP (Consolação).

Ao menos quatro foram autuadas (três por porte de entorpecentes e um por resistir à prisão), assinaram um termo circunstanciado e vão responder a processos em liberdade. Outras cinco foram indiciadas por formação de quadrilha e danos ao patrimônio --crimes inafiançáveis-- e vão continuar presas.

Com os manifestantes, a polícia apreendeu facas, estiletes, tesouras, martelos, coquetéis-molotóvs, machadinha, aerosol, garrafas de álcool, tinta e sprays e uma pequena quantidade de maconha. Celulares, câmeras fotográficas e uma garrafa de vinagre também foram apreendidos.

Cenas do protesto em SP

Elio Gaspari: Quem acompanhou a manifestação ao longo dos 2 km que vão do Theatro Municipal à esquina da rua da Consolação com a Maria Antônia pode assegurar: os distúrbios começaram pela ação da polícia, mais precisamente por um grupo de uns 20 homens da Tropa de Choque, que, a olho nu, chegou com esse propósito Leia mais
Existe terror em SP: "Ouvi um homem gritar 'orgulho, meu' à massa. Massa que, aliás, contou não apenas jovens, mas idosos, famílias, gente recém-saída do trabalho. A transformação da ‘micareta’ veio na subida da Consolação, onde a passeata foi recebida por bombas de gás e tiros. Na correria rumo à praça Roosevelt, era explícito o temor de que a PM, que já começava a cercar o local, a invadisse com as armas". Leia mais

Cerca de 40 pessoas foram detidas antes mesmo de o protesto começar. Antes do início do ato, manifestantes e jornalistas que carregavam vinagre --como o repórter Piero Locatelli, da “Carta Capital”– para reduzir os efeitos de bombas de gás lacrimogêneo foram detidos, sob a alegação da PM de que o produto pode ser usado para fabricar bombas caseiras.

Segundo o Movimento Passe Livre, que organizou a manifestação, pelo menos cem ficaram feridos. Entre os feridos, sete são jornalistas da Folha de S.Paulo. A repórter Giuliana Vallone, da TV Folha, foi atingida no olho por uma bala de borracha disparada por policiais militares da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar). Outro repórter da Folha, Fábio Braga, também foi atingido no rosto por disparos de bala de borracha no centro da cidade. Giuliana subia a rua Augusta registrando o protesto quando foi atingida. 

O fotógrafo Sérgio Silva, da agência Futura Press, foi atingido por uma bala de borracha no olho e corre o risco de perder a visão. Ele está internado no hospital Nove de Julho.

Antes do protesto, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) declarou que não iria tolerar atos de vandalismo. Na manifestação de hoje, a PM mobilizou grande aparato, com tanques blindados, helicópteros e até a cavalaria. Além da Tropa de Choque, policiais da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) e da Força Tática atuaram na repressão, totalizando efetivo de 900 homens.

Começo pacífico, final violento

O protesto começou por volta de 18h na praça Ramos de Azevedo, no centro, onde os manifestantes se concentravam desde 17h. De lá, o grupo, de aproximadamente 5.000 pessoas – segundo a PM –, seguiu até a praça da República. Depois, caminharam pela avenida Ipiranga e chegaram à rua da Consolação, na altura da praça Roosevelt. Até então, não havia registro de ocorrências graves.

Na altura da Roosevelt, os manifestantes foram impedidos pela polícia de seguir na Consolação até a avenida Paulista. Iniciou-se uma negociação entre o comando da PM e lideranças do movimento. Em um dado momento, por volta de 19h10, começou o confronto.

Pouco depois, o major Lidio Costa Junior, do Policiamento de Trânsito da PM, disse que o protesto, que até então transcorria pacificamente, tinha “fugido do controle”."Não nos responsabilizamos mais pelo que vai acontecer”, declarou.

A PM usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os ativistas, que responderam atirando objetos. A partir de então, o protesto se dispersou. Grupos menores prosseguiram por ruas dos bairros de Cerqueira César e Consolação na tentativa de chegar até a Paulista.

Atrás deles, a PM, com grande efetivo, disparou quantidade de balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Transeuntes que não estavam participando do protesto foram atingidos, como uma idosa de 67 anos, baleada no rosto logo após sair de uma igreja.

A avenida Paulista foi esvaziada e bloqueada pela PM com tanques blindados. Muitos manifestantes ainda tentavam chegar à avenida, mas eram impedidos pelos policiais. Por volta de 21h45, a Paulista foi liberada para os carros.

Perto das 22h, um grupo de curiosos e remanescentes da manifestação foi retirado à base de golpes de cassetete pela PM do vão do Masp (Museu de Arte de São Paulo). Cerca de 22h40, um grupo de pelo menos 40 pessoas saiu em uma minipasseata pela calçada, a uma quadra do museu, pedindo o "fim da violência". Eles foram recebidos com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo.

O fotógrafo Filipe Araújo, 33, do jornal "O Estado de S.Paulo", disse ter sido atropelado foi um carro da Força Tática quqndo fotografava a barricada feita por manifestantes no lado centro do rua Bela Cintra. Ele sofreu ferimentos no braço e nas costas.

"Os carros da PM desceram a rua atropelando o licxo que estava no caminho. Passaram por mim, mostrei minha câmera, mas me atropelaram e caí de lado, na beira da calçada. Aí desceram de um dos carros e ainda gritaram: 'levanta, levanta', sendo que eu tinha acabado de ser atropelado", disse.

Após tomar ciência da agressão a jornalistas, o secretário de Segurança Pública, Fernando Grella, pediu à Corregedoria da PM que abra investigação sobre a ação de hoje.

Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro, pelo menos 2.000 pessoas participaram do quarto protesto contra o aumento do valor das passagens de ônibus de R$ 2,75 para R$ 2,95 (desde o dia 1º de junho) na noite desta quinta-feira (13).

Durante a maior parte do tempo, o protesto foi pacífico, mas por volta das 21h houve confronto de alguns manifestantes com a Polícia Militar na avenida Presidente Vargas, no centro da cidade. Prédios foram pichados e duas pessoas foram detidas. A Tropa de Choque usou bombas de gás lacrimogêneo para conter os manifestantes, que atearam fogo a pneus e em sacos de lixos.

O estudante Philippe Brissant de Andrade Lima, 19, foi levado para o Hospital Municpal Souza Aguiar, no centro do Rio, após ser atingido por um tiro de bala de borracha no olho. Ele foi encaminhado ao centro cirúrgico do hospital. Um PM do 5º BPM também foi encaminhado ao hospital após levar uma pedrada na cabeça, mas foi liberado em seguida.

Porto Alegre

Em Porto Alegre, centenas de pessoas se reuniram em frente à prefeitura para dar início a uma caminhada pelas principais vias centrais. Por volta das 20h, eles rumaram para o Tribunal de Justiça, na avenida Borges de Medeiros, que foi cercado pela BM (Brigada Militar).
 
As pessoas que participaram do protesto colocaram fogo em containêres no meio da avenida João Pessoa, que  foi bloqueada. A Brigada Militar reagiu com bombas de gás. Pelo menos 18 pessoas foram detidas.

Maceió

Centro de Maceió, na tarde desta quinta-feira (13), para protestar contra um eventual aumento no preço da passagem dos ônibus urbanos – que não foi decredetado e até foi descartado pelo prefeito Rui Palmeira.

Os manifestantes interditaram, por alguns minutos, os principais cruzamentos da região central da cidade, deixando o trânsito lento.

Pouco antes de 18h, em horário de pico no trânsito do centro, os manifestantes bloquearam, sentando no chão, a esquina da rua do Sol com a ladeira dos Martírios, um dos pontos mais movimentados da cidade, impedindo o fluxo do trânsito entre o Centro e o Farol. A Polícia Militar acompanhava a manifestação, sem interferir. Não houve confronto.

Sorocaba

Em Sorocaba (SP), cerca de 200 estudantes com faixas e cartazes bloquearam os acessos do terminal Santo Antônio, o principal do sistema de transporte público, e interditaram a avenida Afonso Vergueiro. O bloqueio das duas pistas que interligam várias regiões da cidade travou o trânsito.

Milhares de motoristas ficaram presos num grande congestionamento. Dezenas de milhares de passageiros não puderam seguir de ônibus para os destinos.

Um grupo de manifestantes tentou forçar a entrada no terminal e foi contido pela Força Tática da Polícia Militar (PM) e integrantes da Guarda Municipal. Houve tumulto e correria. Os manifestantes arrancaram tapumes e grades.

As bilheterias do terminal foram fechadas. Por volta das 19h30, a avenida foi liberada, mas o congestionamento persistia. Os estudantes protestam contra o aumento na tarifa de ônibus, que subiu de R$ 2,95 para R$ 3,15 no dia 5.

Santos

Em Santos (SP), cerca de 300 pessoas protestaram contra o atual valor da tarifa de ônibus (R$ 2,90) em Santos, litoral de São Paulo. Diferentemente do que ocorreu em outros locais do país, não houve confronto com Polícia Militar.

Porém, os manifestantes causaram grandes transtornos no trânsito do Centro da Cidade. Eles também invadiram a sessão da Câmara dos Vereadores, que chegou a ser suspensa por alguns minutos.

 

*Com reportagem de Janaina Garcia e Marivaldo Carvalho

Protestos contra o aumento da tarifa do transporte coletivo
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