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Com 2.000 manifestantes, protesto no Rio tem 19 detidos e PM ferido

Pelo menos 2.000 manifestantes marcharam pelo centro do Rio de Janeiro durante o quarto protesto contra o aumento da tarifa de ônibus - Fabio Teixeira/UOL
Pelo menos 2.000 manifestantes marcharam pelo centro do Rio de Janeiro durante o quarto protesto contra o aumento da tarifa de ônibus Imagem: Fabio Teixeira/UOL

Julia Affonso

Do UOL, no Rio*

13/06/2013 18h22Atualizada em 14/06/2013 10h52

Pelo menos 2.000 pessoas participaram do quarto protesto contra o aumento do valor das passagens no Rio de Janeiro de R$ 2,75 para R$ 2,95 (desde o dia 1º de junho) na noite desta quinta-feira (13). Durante a maior parte do tempo, o protesto foi pacífico, mas por volta das 21h houve confronto de alguns manifestantes com a Polícia Militar na avenida Presidente Vargas, no centro da cidade. Prédios foram pichados e 19 pessoas foram detidas. A Tropa de Choque usou bombas de gás lacrimogêneo para conter os manifestantes, que atearam fogo a pneus e em sacos de lixos.

O estudante Philippe Brissant de Andrade Lima, 19, foi levado para o Hospital Municpal Souza Aguiar, no centro do Rio, após ser atingido por um tiro de bala de borracha no olho. Ele foi encaminhado ao centro cirúrgico do hospital. Um PM do 5º BPM também foi encaminhado ao hospital após levar uma pedrada na cabeça, mas foi liberado em seguida.

Segundo a Polícia Civil, os detidos foram encaminhads para a 5ª DP (Mem de Sá). Ao menos quatro serão autuados: dois por desacato, um por lesão corporal e um porque portava uma mochila com pedras portuguesas --para a polícia, os objetos seriam atirados nos policiais.

Por volta das 18h, os manifestantes fecharam a avenida Presidente Vargas, no centro da cidade. Para acompanhar a manifestação, cem policiais militares do 5º BPM (Praça Tiradentes) foram deslocados, e outros 120 PMs do Batalhão de Choque ficaram de prontidão no quartel.

Os manifestantes ficaram concentrados na Candelária, no cruzamento das avenidas Rio Branco e Presidente Vargas, as duas principais da região central da cidade, por cerca de uma hora. Às 18h, portando cartazes e apitos, começaram a caminhar na direção da Cinelândia, onde o protesto deve terminar. Na avenida Rio Branco, que foi totalmente fechada, a manifestação foi saudada com papéis picados jogados dos prédios. O protesto, pacífico, convidou a população a acompanhar o movimento.

Protestos contra o aumento da tarifa do transporte coletivo
Protestos contra o aumento da tarifa do transporte coletivo
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Ao chegar à Cinelândia, ponto definido como o final do protesto no Rio, os manifestantes gritavam “Se a passagem não vai baixar, o Rio vai parar”. Segundo a PM, o trajeto percorrido foi de cerca de 1 km.

Em frente ao Theatro Municipal, policiais militares fizeram um cordão de isolamento, para proteger o prédio, que é patrimônio histórico tombado. Na Cinelândia foi feita uma votação, e parte dos manifestantes optaram por continuar o protesto até o Palácio Tiradentes, sede da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). No caminho, foram pichados agências bancárias, estacionamentos, pontos de ônibus e muros. Ao chegar à casa legislativa, os manifestantes soltaram fogos e, ao ocupar as escadas do prédio, gritavam que "o Rio vai parar". Seguranças afirmaram que uma bomba foi jogada dentro do prédio.

O outro grupo seguiu de volta para a avenida Presidente Vargas e, lá, houve confronto com a PM e presença do Batalhão de Choque. manifestantes jogaram pedras e garrafas d'água nos policiais, que revidaram com balas de borracha e spray de pimenta. O Batalhão de Choque foi acionado.

A avenida Presidente Antonio Carlos permanece interditada, na altura da Almirante Barroso. Na estação Carioca do Metrô Rio, os acessos da avenida Chile e do Convento de Santo Antônio estão fechados. Já na Cinelândia, os usuários só podem descer para o metrô pela entrada localizado ao lado do Cinema Odeon. Os acessos Theatro Municipal, Santa Luzia e Pedro Lessa foram fechados.

"Queremos a revogação do aumento da passagem e a discussão de um novo preço. O transporte no Rio como um todo é um serviço caro e péssimo. O transporte público decente é um direito da população”, afirmou Tadeu Alencar, 22, integrante do Movimento Estudantil da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). “Se não revogarem o aumento, nós vamos protestar durante a Copa das Confederações, vamos tomar as ruas."

Entre os manifestantes, chamou a atenção o músico Bob Lester, que diz ter 100 anos de idade. Lester disse que se envergonha do país, onde só se pensa hoje com as Olimpíadas e a Copa do Mundo. "E o povo morre de fome e nas portas dos hospitais", ressaltou o músico. Para ele, a manifestação dos estudantes e trabalhadores é justa, mas não vai baixar o preço da passagem. "Isso só vai acontecer quando [os manifestantes] fecharem o movimento cedo, ao meio-dia, não agora, quando o pessoal quer ir para a casa.”

O estudante Vitor Alves dos Santos reclama que falta dinheiro para ele frequentar o curso pré-vestibular, pois o transporte compromete seu orçamento. “É quase impossível continuar estudando. Eu pego ônibus todos os dias para ir ao cursinho e já estou faltando há uma semana. Não está dando para continuar”, disse ele.

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Para o técnico em meio ambiente Alexandre Oliveira, o problema é o direcionamento das verbas públicas. “Estamos lutando pela redução nas passagens porque é um aumento abusivo." Segundo Oliveira, desde 2004, os aumentos somam quase 400%. "Para a gente que ganha um salário mínimo, isso aí é uma covardia com o trabalhador.”

Na região da Cinelândia, algumas empresas liberaram os funcionários mais cedo, por volta das 16h30, para que os mesmos evitassem transtornos no trânsito. A funcionária da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), que funciona em um prédio na rua Treze de Maio, Amanda Borba, 25, conta que saiu uma hora e meia mais cedo que o normal. "Geralmente saio às 18h, mas hoje fui liberada às 16h30. Nos avisaram da liberação no início da tarde e disseram que era para evitar a aglomeração do protesto", disse Amanda. "Facilitou muito a volta pra casa.”

Na última segunda-feira, dia 10, o protesto acabou em confusão e a Igreja Nossa Senhora do Carmo teve uma vidraça quebrada e o muro pichado. Houve correria e vários estabelecimentos comerciais fecharam as portas.

Além disso, todas as pistas da avenida Presidente Vargas, principal via de acesso da zona norte ao centro, foram fechadas. No total, 31 pessoas foram detidas, encaminhados para delegacia e liberadas. (Com agências)

*Colaboraram Gustavo Maia e Hanrrikson de Andrade