Topo

Teleférico é enfeite, diz morador da Rocinha sobre anúncio de Dilma

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

14/06/2013 14h22Atualizada em 14/06/2013 16h38

A visita da presidente da República, Dilma Rousseff, à favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, nesta sexta-feira (14), atraiu manifestações de moradores insatisfeitos com a estrutura de saneamento básico da comunidade. Para o lojista Márcio Neves, 42, o dinheiro que será gasto com o teleférico da Rocinha, cujas obras fazem parte da segunda fase do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), deveria ser usado para “fechar os valões” da favela, além de melhorar o sistema de distribuição de água e esgoto.

“Na Rocinha, existem centenas de valões com esgoto a céu aberto. São muitos casos de crianças que pegaram doenças por brincar nesses valões. Queremos que o PAC 2 traga melhorias de verdade, e não apenas uma maquiagem para os gringos”, disse. “Não adianta ter o teleférico, que é um enfeite, assim como foi no Complexo do Alemão.” O governos federal e do Rio de Janeiro estão investindo um total de R$ 2,8 bilhões a Rocinha e nos complexos do Lins e do Jacarezinho, sendo R$ 1,6 bilhão na primeira.

A presença de Dilma na maior favela da América Latina também fez com que os moradores de outras comunidades do Rio acordassem cedo para protestar. No Complexo Esportivo da Rocinha, onde a presidente participou de um evento para divulgar o PAC 2, o presidente de uma das associações de moradores do Andaraí (zona norte), André Santana, exibiu um cartaz pedido obras em sua comunidade, até ser repreendido pela segurança da Presidência.

“Em 2010, quando o presidente Lula foi no Cantagalo, ele prometeu que as favelas do Complexo do Andaraí estariam no PAC 2. Estamos aqui para cobrar isso da Dilma e saber por que eles colocaram o Borel e a Formiga e pularam direto para o Lins. Sendo que é um maciço só”, afirmou. “Temos 500 famílias morando em áreas de risco.”

Uma dessas famílias é a de Jane Calixto da Silva, que mora com seis filhos em uma casa condenada há dois anos pela Defesa Civil, em uma comunidade conhecida como Sá Viana, no Andaraí. “Eu não durmo em casa quando chove, porque é mais água dentro do que fora. Parece um pesadelo. Em cima da minha casa, tem uma pedra que ameaça cair há dois anos”, disse. “Eles [Secretaria Municipal de Habitação] falam que é para a gente procurar um abrigo, mas nem cracudo quer ficar em abrigo.”

De acordo com a Secretaria Estadual de Obras, as obras do PAC 2 vão beneficiar cerca de cem mil pessoas --população estimada da favela da Rocinha, que receberá novos sistemas de macrodrenagem, redes de esgoto, água e iluminação. Ainda segundo o governo, serão instaladas redes coletoras de lixo e vias importantes como as ruas 1 e 2, no alto da comunidade, serão alargadas e modernizadas.

Pezão, "pai do PAC"

Durante a cerimônia de anúncio de investimentos em infraestrutura urbana e equipamentos sociais nas comunidades, Dilma lembrou que o vice-governador do Estado, Luiz Fernando Pezão (PMDB), foi chamado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de "pai do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] da Rocinha".

Veja o vídeo

O momento a que Dilma se refere foi em 2008, em cerimônias em Manguinhos e na Rocinha, durante o lançamento de obras do PAC. No mesmo dia, horas antes, Lula havia usado pela primeira vez a expressão "mãe do PAC" para se referir à então ministra-chefe da Casa Civil. "Quero que vocês olhem bem na cara deles", disse Lula à época. "Esse homem e essa mulher são os chefes que vão olhar a cada dia, a cada semana, a cada mês, as obras do PAC."

No evento de hoje, minutos antes do início do discurso de Dilma e em clima de troca de elogios, o governador Sérgio Cabral (PMDB) disse que a parceria entre governos estadual e federal no Rio é "amor". "Tentam nos dividir, mas não vão conseguir. No pasará", afirmou Cabral.

Terrorismo e conto do vigário

A presidente Dilma disse também que a economia do Brasil vai bem e considerar o contrário é "terrorismo informativo" e "conto do vigário". Ela reclamou das análises sobre a volta da inflação.

"Nós jamais deixaremos que a inflação volte a esse país. Hoje ela está sob controle. Ontem ela estava sob controle e ela continuará sob controle. Críticas todo mundo tem que ter a humildade de aceitar. Agora, terrorismo não."

Dilma não citou nomes, mas parecia se referir à oposição. "Eu estou falando, por exemplo, que eles diziam que o Brasil ia ter racionamento. Agora não falam nada, porque está claro não só que o Brasil tem energia suficiente, como conseguimos reduzir a tarifa de energia."