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Lula quer testar Facebook e Twitter para mobilizações políticas

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa de seminário sobre as relações do Brasil com a África, realizado na sede da CNI (Confederação Nacional da Indústria), em Brasília - Sergio Lima/Folhapress
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa de seminário sobre as relações do Brasil com a África, realizado na sede da CNI (Confederação Nacional da Indústria), em Brasília Imagem: Sergio Lima/Folhapress

Márcio Padrão

Do UOL, em São Paulo

28/06/2013 16h15

Agindo até o momento de forma discreta frente à onda de protestos pelo país, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva só recentemente manifestou o desejo de entender melhor as plataformas de mídias sociais como o Twitter e o Facebook, cada vez mais usadas para mobilizar a população.

De acordo com fontes ouvidas pelo "Estado de S. Paulo", Lula teria dito em uma reunião na última terça-feira (25), com representantes de movimentos sociais aliados do governo, que a organização de manifestações pela internet seria valiosa para aprovar a reforma política e que estaria empenhado em testar as redes sociais para fomentar mobilizações políticas.

Nesta sexta-feira (28), Lula usou seu perfil no Facebook para divulgar nota afirmando que não fez qualquer crítica "nem em público, nem em privado à atuação da presidenta Dilma Rousseff nos recentes episódios [de protestos em todo o país]".

Era uma resposta a uma reportagem publicada no jornal "Folha de S.Paulo" que afirma que o ex-presidente reclamou com petistas da estratégia do atual governo para dar uma resposta à onda de protestos pelo país e chamou a articulação de "barbeiragem".

Na opinião do especialista em redes sociais Augusto de Franco, criador da Escola de Redes (organização que estuda a fenomenologia das interações sociais), a declaração de Lula dá a entender que ele "não entendeu nada e entendeu tudo ao mesmo tempo".

Mapa dos protestos

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Para Franco, o ex-presidente não percebe que os atuais protestos não são um movimento político nos moldes antigos, e sim uma movimentação de pessoas insatisfeitas com o sistema. "O Lula é um cara hierárquico, e esta situação social causada pelos protestos não é hierárquica. As pessoas descobriram que as multidões podem agir e se considerar independentes de um líder, de um condutor de rebanhos."

Mesmo que o empurrão inicial tenha sido o aumento da tarifa de ônibus nas grandes cidades, o estudioso acredita que a multiplicidade de reivindicações revela muito sobre a natureza dos protestos. "Aqui [em São Paulo] foi por causa do ônibus, mas em Brasília, por exemplo, não foi. Cada um tinha seus próprios motivos. Não se trata da inteligência do indivíduo, mas de um cérebro coletivo, um sistema nervoso fractal da sociedade. É como se os protestos aumentaram essas sinapses trilhões de vezes", teoriza. "Em suma, foi um movimento para o povo dizer: 'Não estamos satisfeitos. Não estamos sendo representados por esse sistema'."

Porém, na visão de Franco, Lula também "entendeu tudo" porque teria percebido que nenhum político possui hoje o monopólio sobre um movimento de massas. "Ele notou que agora as pessoas podem se manifestar sem a intermediação do partido político, do sindicato, do governo. A sociedade agora é altamente conectada e descentralizada. No pronunciamento oficial, a presidente Dilma Rousseff afirmou: 'Quero conversar com os líderes do movimento'; ela não entendeu ainda que não há líder algum. O Movimento Passe Livre (MPL) foi só  o fator desencadeador", completou o especialista.

Sobre o MPL, Lula falou na reunião de terça que a defesa do movimento para o transporte era "justa" e que, na sua opinião, o cenário era otimista. Para o petista, as reações de vandalismo dos protestos subsequentes ocorreram por causa dos ataques da Polícia Militar de São Paulo aos participantes de uma das passeatas, no dia 13 de junho.