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'Se tentarem nos tirar, vai haver 2ª tragédia', diz manifestante que ocupa Câmara de Santa Maria (RS)

Melina Guterres

Do UOL, em Santa Maria (RS)

28/06/2013 15h42

O presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia em Santa Maria (AVTSM), Aderbal Ferreira, disse nesta sexta-feira (28) ao UOL que não pretende deixar a Câmara da cidade, ocupada há três dias por manifestantes.

Os personagens da tragédia

Os donos
Mauro Hoffmann, 47, e Elissandro Spohr, o Kiko, 29, são os donos da casa noturna Kiss, onde aconteceu o incêndio que matou até agora 237 pessoas no dia 27 de janeiro. Eles são suspeitos de manter a boate sem plano contra incêndio adequado, com saídas de emergência insuficientes e equipamento, como extintores, defasados. Também é possível que o local estivesse superlotado. Ambos estão presos
A banda
A Gurizada Fandangueira se apresentava na boate na hora da tragédia. A suspeita para o início do incêndio é o uso de um sinalizador, inapropriado para um show fechado, durante a apresentação. A banda diz que sempre utilizou esse tipo de pirotecnia e alegam pane elétrica como causadora do fogo. O vocalista, Marcelo Santos, e o produtor Luciano Bonilha Leão estão presos. O gaiteiro Danilo Jaques, 30, morreu no incêndio
O delegado
O delegado regional Marcelo Arigony chefia a investigação. Ele, que também é professor de direito e perdeu alunos e uma prima de 18 anos na tragédia, já afirmou que a espuma usada como isolamento acústico na boate foi a grande vilã do incêndio e que a casa havia feito reformas "ao arrepio de qualquer fiscalização, por conta e risco dos proprietários"
Responsável pelo primeiro alvará
O então major Daniel da Silva Adriano, do Corpo de Bombeiros, assinou, em 2009, o alvará de prevenção e proteção contra incêndio da boate, válido por um ano. Foi esse documento que permitiu a abertura da casa
Responsável pela renovação do alvará
O capitão Alex da Rocha Camillo assinou a renovação do documento, em 2011. Segundo o registro, o local "foi inspecionado e aprovado, de acordo com a legislação vigente"
O prefeito
Cezar Schirmer (PMDB) foi reeleito prefeito de Santa Maria em 2012. O político vive um embate com o governo estadual, do petista Tarso Genro, responsável pelos bombeiros. O prefeito afirma que a prefeitura local não tem culpa pela tragédia e a aponta os bombeiros como responsáveis pela falta de fiscalização do sistema de combate a incêndios

“Se eles quiserem nos tirar daqui à força, vai ser a segunda maior tragédia de Santa Maria”, disse Ferreira, referindo-se ao incêndio na boate Kiss ocorrido em 27 de janeiro deste ano em que perdeu sua filha e outras 241 pessoas morreram.

Os manifestantes que ocuparam a Câmara pedem a dissolução da comissão da CPI da Kiss, exoneração do procurador jurídico Robson Zinn e formação de uma comissão para a cassação dos vereadores Maria de Lourdes Castro (PMDB), Tavares Fernandes (DEM) e Sandra Rebelato (PP).

A decisão de ocupar a casa legislativa começou após a divulgação de uma gravação em que os vereadores afirmam estar “jogando” para não atingir o prefeito. Parentes das vítimas seguiram então, na última terça-feira (25), à Câmara para protestar em sessão da CPI da Kiss.

242 no asfalto

Flávio da Silva, presidente do Movimento do SM Luto à Luta, de familiares de vítimas e sobreviventes da tragédia na boate Kiss, afirma que não houve invasão. “Nós viemos terça às 15h para sessão da CPI da Kiss e permanecemos desde então. A Câmara estava de portas abertas.”

Mais tarde manifestantes que faziam protesto pela redução da tarifa do transporte público se uniram na luta dos familiares. Nessa quinta (27), vereadores da oposição estiveram no local e, junto com manifestantes, aguardavam posicionamento do presidente da Câmara, Marcelo Bisogno (PDT), que não compareceu.

Manifestantes se revezam para manter a Câmara ocupada. Ontem, quando completaram-se cinco meses da tragédia, o grupo se organizou para manter a ocupação e também poder comparecer à caminhada de protesto onde 242 pessoas deitaram-se no asfalto de uma das ruas mais movimentas das cidade.

Comissões

De acordo com Alex Monair, coordenador do DCE da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), o grupo se organizou criando cinco comissões: de limpeza, saúde, segurança, alimentação e comunicação.

“Há muitas doações. As pessoas param aqui na frente e deixam alimentos, água.” Para ele, o momento mostra que o movimento “toma consciência dos seus direitos e se organiza para lutar por eles”, disse Monair.

Marília Ribeiro, do movimento SM Luto à Luta, prima de uma das vítimas, é uma das pessoas que há três dias dormem no local. Ela diz lutar pelas reivindicações relacionadas à tragédia e pela redução da tarifa. “Sou brasileira, estou aqui desde o dia 27 de janeiro de 2013”, diz Marília.

Flávio da Silva ainda afirmou que a Câmara será entregue “Melhor do que quando a gente entrou. Estamos mantendo limpa e onde há pichações, será pintada”, disse.