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Após prisões, chefe da Polícia Civil de SP anuncia reestruturação do Denarc

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

15/07/2013 16h47Atualizada em 16/07/2013 06h52

O delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Luiz Maurício Blazek, anunciou na tarde desta segunda-feira (15) uma reestruturação no Denarc (Departamento de Narcóticos), órgão responsável pela investigação do tráfico de drogas no Estado.

O anúncio foi feito em entrevista coletiva horas depois de uma operação para o cumprimento de 13 mandados de prisão contra policiais ligados ao Denarc, da ativa ou não, tanto de São Paulo (11) quanto de Campinas (94 km de São Paulo, dois) –entre os quais, o diretor técnico do Serviço de Inteligência e Informações do Denarc, Clemente Calvo Castilhone Junior.

Blazek admitiu que as prisões estão entre as motivações para a reestruturação, cujos procedimentos não foram detalhados, mas atribuiu a medida também à necessidade de “modernização” do departamento, que tem 25 anos e pouco mais de 400 funcionários.

“Falei com o diretor do Denarc hoje no sentido de verificarmos a reestruturação e modernização do departamento. Foi criado há 25 anos, e seus procedimentos e atribuições serão revistos, e não só diante desse fato”, afirmou.  “Há a necessidade de ajustes de estruturas e de filosofia de trabalho”, disse.

Segundo o Ministério Público,  os policiais do Denarc e da Polícia Civil de Campinas foram flagrados pelas investigações do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) quando começaram a sequestrar e extorquir traficantes, no início de 2013, devido a atrasos em supostos pagamentos de propina.
 
Conforme a investigação, investigadores e delegados são suspeitos de cobrar uma anuidade entre R$ 200 mil e R$ 300 mil dos traficantes do bairro São Fernando para facilitar o tráfico, além de uma mensalidade cujo valor ainda não foi divulgado. Alguns deles teriam ainda alertado os criminosos sobre operações da polícia.
 
A operação de hoje teve as investigações iniciadas em outubro do ano passado e foi realizada entre a Corregedoria da Polícia Civil e o Ministério Público, por meio do Gaeco de Campinas.

Até o início da noite, sete dos 13 mandados de prisão haviam sido cumpridos –dois em Campinas, e cinco na capital paulista.

"Vários outros policiais" são investigados, diz promotor do Gaeco

Presente à entrevista pouco antes de sair para o que chamou de “nova etapa da operação”, o promotor do Gaeco Amauri Silveira Filho afirmou haver indicativo “de que há vários outros policiais envolvidos” nas condutas investigadas, além dos 13 que são alvo de mandados de prisão temporária.

“Temos a necessidade de identificar muito rápido esses outros policiais, pois houve vários tipos de vazamento de informação [supostamente por policiais, durante a investigação de tráfico] desde que isso começou a ser apurado –não apenas por pessoas ligadas como estranhas aos fatos”, afirmou.

Indagado sobre as situações em que teriam se evidenciado os vazamentos feitos por policiais nas investigações do Gaeco e da polícia contra traficantes, o promotor não entrou em detalhes alegando necessidade de resguardar a operação, ainda em andamento.

“Mas as informações circularam de uma maneira rápida”, concluiu. “E forjar evidências e constranger vítimas e testemunhas justificam as medidas judiciais [prisões]”, disse.

Entre os crimes investigados contra os policiais, estão roubo, tortura, corrupção, formação de quadrilha armada e extorsão mediante sequestro.

“Porém, há que se inferir o que cada um fez para, na acusação formal, eles respondam pelo que fizeram. As medidas de hoje são de investigação e necessárias para a continuação do trabalho, mas há policiais que foram submetidos a elas que podem ter uma parcela de participação muito pequena, e outros, uma muito maior. Provavelmente nem todos continuarão custodiados”, disse o promotor.

Andinho

A investigação apontou que os policiais teriam elo com a quadrilha de Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, condenado a pelo menos 400 anos de cadeia por sequestros, homicídios e tráfico de drogas. Ele está preso na Penitenciária de Presidente Venceslau (611 km de São Paulo) desde 2002.
 
Andinho também é suspeito da morte do prefeito de Campinas Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT. Apesar de admitir sequestros e homicídios, ele nega ter assassinado o prefeito. O crime ocorreu em 10 de setembro de 2001.
 
Andinho seria um dos líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital).  No início da tarde, um homem apontado pelo Gaeco como sócio dele foi preso em Ribeirão Preto.

Policiais presos já tinham antecedentes na Corregedoria

A SSP-SP (Secretaria de Segruança Pública de São Paulo) informou que os presos estão custodiados no prédio da Corregedoria da Polícia Civil, na capital. O chefe do órgão, Nestor Sampaio Penteado, informou que pode ser aberto processo disciplinar e instaurado processo administrativo disciplinar contra eles --medidas que podem resultar em demissão do serviço público.

Questionado se os policiais alvo da operação já tinham antecedentes por infração disciplinar ou criminal na Corregedoria, Penteado admitiu que sim. "Alguns", resumiu. Sobre a prisão do número um da inteligência do Denarc, o corregedor disse que não faria "juízo de valor", uma vez que o preso não fora julgado, tampouco o julgamento ainda "transitado em julgado".