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"Experiente" em visitas de papas, idosa quer ir a Copacabana para ver Francisco de perto

Papa Francisco abençoa os fiéis em frente a sua residência de verão em Castel Gandolfo, a 40 km de Roma - Andreas Solaro/Reuters
Papa Francisco abençoa os fiéis em frente a sua residência de verão em Castel Gandolfo, a 40 km de Roma Imagem: Andreas Solaro/Reuters

Carolina Farias

Do UOL, no Rio

16/07/2013 06h00

Aos 78 anos, a paraibana Josefa Anastácio Pereira espera eufórica pela visita do papa Francisco ao Rio de Janeiro, a partir do dia 22 deste mês. Ela mora na cidade há 55 anos e, em 1997, acompanhou a visita de João Paulo 2º à cidade e o viu três vezes. Neste ano, ela quer se juntar à multidão que vai celebrar as boas vindas ao papa argentino em Copacabana, zona sul da cidade.

"No sábado, fui na Penha, em uma celebração para ele [o papa], e foi lindo! Quero ir em Copacabana sim e se estiver muito cheio, a gente fica de longe", disse Josefa. O papa Francisco participará de dois eventos nja praia de Copacabana: na quinta-feira (25), fará um discurso e abençoará os jovens na Festa da Acolhida; na sexta (26), assistirá à Via Sacra e fará uma oração.

Josefa conta que, quando viu João Paulo 2º, acordou de madrugada e conseguiu ver sua chegada ao aeroporto. Na mesma visita, ela o viu na cidade e ainda quando foi embora. Agora, ela acha que a tecnologia vai ajudá-la. "Antes eu vi no papamóvel, agora acho que vou ver no telão, né?".

Passeio e bolso vazio

A neta de Josefa, a bióloga Camila Vietas, 24, mora em Brasília e chegou ao Rio para visitar a família e também participar da Jornada Mundial da Juventude, evento católico que vai receber o papa.

Ela está entre os cerca de 2,5 milhões de jovens que devem "invadir" o Rio de Janeiro neste mês para participarem do evento e também dos acontecimentos de preparação para a visita do pontífice. 

Com sua maioria formada principalmente de participantes de atividades na igreja, grande parte desses jovens vão ao evento em grupo. Camila deixou o grupo de sua igreja em Brasília, mas vai encontrá-los na semana do evento.

Ela preferiu ficar na casa da avó, para não ter de pagar hospedagem. Na última segunda-feira (15), ela foi até o Sambódromo do Rio, onde é possível fazer inscrição. "Achei o preço muito salgado, não é 'em conta' não".

Quando se juntar aos amigos da cidade, além dos compromissos com a Jornada, ela já sabe o que quer fazer com o grupo. "Vamos à praia, com certeza".

Diferentemente do público que lota a cidade em eventos como o Carnaval ou o Ano-Novo, os peregrinos vêm com pouco dinheiro. Em comum com todos os tipos de visitantes, eles querem aproveitar a paisagem carioca e fazer amigos. A jornada acontece em julho por ser o período de férias escolares no Brasil.

Assim como Camila, a auxiliar de administração Marcela Cristina Vidal Maciel, 23, também aguardava para fazer a inscrição e deixaria um item de fora para poder pagar menos. "Vou pegar o kit com a semana toda, mas sem a alimentação. Acho que vou ficar de jejum", brincou. 

A jovem, que mora em Itaguaí, na região metropolitana do Rio, também vai aproveitar para conhecer melhor a capital. "Hoje já conheci o Sambódromo. Quero andar bastante, ir às exposições de artes, no Jardim Botânico. Não são só os shows [programados para o evento] que quero ver”, disse Marcela. “Mas quero conhecer lugares novos, sou jovem, né!"

A dupla de professores chilenos Jorge Valdez, 32, e Juan Tapia, 23, que veio com mais dez jovens para a Jornada, também quer aproveitar o que a cidade tem a oferecer. Quando questionados sobre o que queriam fazer, além das atividades do evento, eles não hesitaram: "Queremos ir às praias e ver o Cristo Redentor".

Cerca de 300 mil se inscreveram para a Jornada, que acontece entre os dias 23 e 28 de julho, de acordo com a organização. O maior número de peregrinos é do Brasil, seguido da Argentina, Estados Unidos, França, Venezuela, Itália, Chile, Equador, Paraguai e Peru.

Todos pagaram  por pacotes que se dividem em três grupos: semana completa, fim de semana ou vigília - este último é o evento que ocorrerá no Campus Fidei, em Pedra de Guaratiba, na zona oeste, com missa celebrada pelo novo papa.  

O pacote mais caro para a semana toda custa R$ 608 e inclui alojamento, alimentação, transporte, seguro e kit peregrino (mochila, camiseta, boné, garrafa, guia do peregrino, livro litúrgico). O mais barato para todos os dias sai por R$ 288 - somente com seguro, transporte e o kit, comum em todos os pacotes.

A organização diz que os valores são variados por causa dos trabalhos de logística, orientação e informatização, pois a hospedagem é gratuita. Os jovens peregrinos vão ser hospedados em casas de voluntários, escolas e paróquias. Para o transporte, os participantes vão receber um Bilhete Único, com o qual poderão andar de ônibus e metrô.

Para entreter os participantes, a organização do evento vai realizar o Festival da Juventude entre os dias 22 e 26 de julho. Do grafite à arte sacra, além de shows de música, cinema, dança e exposições, além de atos religiosos e culturais que acontecerão em vários espaços espalhados pelo Rio e também por Niterói.

"O Rio é mais quente"

Veterano em Jornadas, o designer Filipe Teixeira, 28, é português e já participou de cinco --Roma (2000), Toronto (2002), Colônia (2005), Sidney (2008) e Madri (2011)-- e está no Rio para participar como voluntário e também como peregrino.

O rapaz está hospedado na casa de uma família em Botafogo, na zona sul. Pela sua participação em outros eventos, diz acreditar que o clima do lugar onde o evento acontece interfere no entusiasmo dos participantes. 

"Pela minha experiência, vi que depende muito do clima do local, o Rio é mais quente. Vai depender muito de como vai estar na semana do evento. Já estive em jornadas mais interessantes que outras”, contou o peregrino. “Em Roma o transporte foi muito difícil e estava muito calor. Em Toronto, tinha menos gente, dava para ficar mais à vontade."

Como bom conhecedor da Jornada, Filipe diz que os jovens que vão até o evento se dividem em vários tipos, assim como qualquer outro tipo de grande acontecimento que atrai jovens. Tem aqueles que vão pela influência dos amigos, de namorados, por "empolgação", mas a maioria, define ele, é por causa da participação em atividades nas paróquias onde moram.

"Já vi de tudo. Gente que nem imaginava e foi para a JMJ. Uma jovem que foi porque o namorado foi, gente que junta dinheiro para poder ir, gente que é motivado por outros”, disse Filipe. “Mas a maioria é do pessoal que participa da igreja."

Além de participar das atividades em sua paróquia, em São José dos Campos (SP), a empresária Claudilene Oliveira, 24, organiza uma caravana para trazer peregrinos de sua cidade para a Jornada.

Além da viagem, ela prepara eventos em sua paróquia para chamar atenção dos jovens para a Jornada e também para arrecadar dinheiro para aqueles que não têm condições de bancar o pacote de participação, mas querem ir ao encontro do papa.

"Para a ida fizemos diversos eventos paroquiais para mobilização e divulgação da JMJ, como a 'noite da pizza' e venda de pastéis, mas também tivemos eventos espirituais de preparação como novena de Natal, luau, momentos de adoração e missas mensais. A cada evento vemos ainda mais a participação de nossa juventude e com isso conseguimos resgatar o rosto jovem, que por vezes passa despercebido em momentos da correria do dia a dia", diz Claudilene.

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Ela e seus amigos de paróquia e de toda diocese também se preparam para a pré-jornada: algumas cidades brasileiras vão receber grupos de peregrinos estrangeiros que vão conhecer de perto a realidade brasileira. A cidade paulista vai receber 2.000 peregrinos de Angola, Argentina, Colômbia, Estados Unidos, Filipinas, França, Gabão, Itália, Paraguai e Venezuela.

Claudilene, assim como seu grupo, vai chegar ao Rio dois dias antes do início da Jornada para que seus amigos que nunca estiveram na cidade conheçam aos menos os pontos turísticos mais famosos. Como compraram o pacote no qual vão ter acesso a quase tudo que precisam, a jovem diz acreditar que os peregrinos devem gastar pouco. 

"Como no nosso pacote já está incluso tudo, fica por conta de cada peregrino decidir a quantia que leva para comprar souvenirs. A maioria dos jovens trabalha e estuda, por isso que a JMJ acontece na época de férias de cada país que é escolhido. Mas a JMJ também tem o grupo que é só para o fim de semana, ou até mesmo só para a vigília, facilitando para os jovens participarem desse momento único", disse a empresária.