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Grupo organiza "beijaço LGBT" durante primeiro discurso do papa na Jornada

Julia Affonso

Do UOL, no Rio

18/07/2013 06h00

No dia em que chegar ao Rio de Janeiro para dar início à Jornada Mundial da Juventude --a segunda-feira (22)--, o papa Francisco terá uma cerimônia oficial de boas-vindas no Palácio Guanabara, sede do governo estadual. Mas também terá de enfrentar um protesto contra a homofobia.

No compromisso oficial, o papa terá um encontro com a presidente Dilma Rousseff, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, o prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes, o arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani João Tempesta e o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Raymundo Damasceno Assis, entre outros convidados, e fará seu primeiro discurso no Brasil.

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Do lado de fora do Palácio, um grupo está programando um "beijaço LGBT" durante as primeiras palavras de saudação do papa para os peregrinos da Jornada. Segundo a organização da manifestação, o protesto será realizado em função do crescimento da homofobia e do fundamentalismo religioso no Brasil.

"O protesto foi pensado a partir do ano passado, quando o antigo papa Bento 16 fez o discurso de final de ano e disse que a família homoafetiva é uma ameaça ao mundo, que somos o mal do mundo", explica um dos líderes da organização do Beijaço, que prefere não se identificar por medo de "ataques de fundamentalistas religiosos".

"Desde o início, o Beijaço foi pensado para a semana da JMJ. (...) Em termos estratégicos é imprescindível demarcarmos a legitimidade das nossas sexualidades nesse momento", afirma outra líder do movimento. "A própria reação dos religiosos na página do evento [no Facebook] demonstra como o imaginário e o conservadorismo católico e cristão se traduzem em atitudes e discursos violentos e intolerantes contra as sexualidades não-normativas".

A concentração do ato será feita no Largo do Machado, zona sul da cidade, às 14h, a menos de 1,5 km da sede do governo. De lá, os manifestantes seguirão em direção ao Palácio Guanabara, onde pretendem chegar às 17h. Até a quarta-feira (17), cerca de 1.500 pessoas haviam confirmado presença pelo Facebook.

"O beijo - expressão de amor ou prazer - será a nossa forma de protestar dessa vez. Chega desse falacioso discurso moral e do atropelo de nossos direitos fundamentais! Vocês vão ter que nos engolir! Toda forma de amor vale a pena!", diz a organização do protesto.

O grupo afirma que não pretende se reunir com o papa e sim "dar visibilidade à opressão que a população LGBT sofre nas ruas, alertando para o perigo de discursos religiosos fundamentalistas".

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"Não há nenhum interesse de reunião com o papa, não temos o que reivindicar à Igreja. Não queremos e não precisamos que nenhuma religião legitime nossas sexualidades, queremos apenas que elas sejam respeitadas. (...) As pessoas em geral não conectam as declarações religiosas com a morte das Travestis e Transexuais, com as agressões físicas à lésbicas e homossexuais. Como se as violências físicas não encontrasse nos discursos religiosos que atacam as nossas sexualidades o respaldo moralista", explica.

Os organizadores do "beijaço LGBT" afirmam ainda que o medo de uma maior repressão policial por conta da JMJ é o mesmo de repressões homofóbicas sofridas todos os dias.

"O cotidiano do LGBT é repleto de incertezas e inseguranças. Porque além da violência sofrida por qualquer cidadão, assalto e etc, temos um tipo de violência específica que ataca diretamente a nós, que é pelo fato de não nos enquadrarmos nos perfis hetenormativos que esperam da gente", explica um dos líderes.

Jornada Mundial da Juventude tem 300 mil inscritos

De acordo com a organização, cerca de 300 mil se inscreveram para a Jornada Mundial da Juventude, que acontece entre os dias 23 e 28 de julho. O maior número de peregrinos é do Brasil, seguido da Argentina, Estados Unidos, França, Venezuela, Itália, Chile, Equador, Paraguai e Peru.

Todos pagaram por pacotes que se dividem em três grupos: semana completa, fim de semana ou vigília - este último é o evento que ocorrerá no Campus Fidei, em Pedra de Guaratiba, na zona oeste, com missa celebrada pelo novo papa. 

O pacote mais caro para a semana toda custa R$ 608 e inclui alojamento, alimentação, transporte, seguro e kit peregrino (mochila, camiseta, boné, garrafa, guia do peregrino, livro litúrgico). O mais barato para todos os dias sai por R$ 288 - somente com seguro, transporte e o kit, comum em todos os pacotes.

A organização diz que os valores são variados por causa dos trabalhos de logística, orientação e informatização, pois a hospedagem é gratuita. Os jovens peregrinos vão ser hospedados em casas de voluntários, escolas e paróquias. Para o transporte, os participantes vão receber um Bilhete Único, com o qual poderão andar de ônibus e metrô.

Para entreter os participantes, a organização do evento vai realizar o Festival da Juventude entre os dias 22 e 26 de julho. Do grafite à arte sacra, além de shows de música, cinema, dança e exposições, além de atos religiosos e culturais que acontecerão em vários espaços espalhados pelo Rio e também por Niterói.