Topo

Motivo de discórdia entre peregrinos, Guaratiba era temida e desejada ao mesmo tempo

Toldo foi colocado em área alagada do terreno do Campus Fidei, em Guaratiba, zona oeste do Rio - Marcelo de Jesus/UOL
Toldo foi colocado em área alagada do terreno do Campus Fidei, em Guaratiba, zona oeste do Rio Imagem: Marcelo de Jesus/UOL

Julia Affonso

Do UOL, no Rio

25/07/2013 18h45

Com a aproximação do fim de semana, a ideia de Guaratiba --bairro da zona oeste do Rio que receberia tanto a vigília quanto a missa de envio da JMJ (Jornada Mundial da Juventude)-- se tornava cada vez mais real para os peregrinos que vieram à capital fluminense para participar do evento com a presença do papa Francisco.

Antes e depois do anúncio da mudança do local dos dois maiores eventos da JMJ --com a chuva e o frio que atingem o Rio, a organização decidiu que o Campus Fidei não tem condições de receber os fiéis católicos--, Guaratiba era desejada e temida pelos peregrinos que circulavam por Copacabana.

Este é o mesmo bairro da zona sul, que já receberia os primeiros eventos com Francisco na Jornada, que foi escolhido para sediar os eventos que aconteceriam em Guaratiba. Saiba o que os peregrinos --razão de ser do evento--, falam sobre o "ex-futuro palco" da JMJ.

"Anônimos", voluntários dizem que Guaratiba virou "Campus Lamen"

Segundo dois voluntários da JMJ que não quiseram se identificar, o cancelamento da vigília em Guaratiba provocará um cuidado redobrado em Copacabana.

"Aqui o evento perde em tamanho, porque o espaço vai ser reduzido. Mais gente vai querer vir para Copacabana e vamos ter que ter um cuidado redobrado", disse um dos voluntários.

Segundo ele, durante os treinamentos para a Jornada, nunca se falou sobre a possibilidade de transferência do evento, em caso de chuva. "É um prejuízo [de dinheiro], porque a estrutura já estava montada. Por que não pensaram que poderia chover? Virou o Campus Lamem".

Ateus usam secador para "desbatizar" durante visita do papa

Para peregrinas libanesas, estado do local não importa

Um grupo de cinco peregrinas do Líbano afirma que não deixaria de ir a Guaratiba para a noite da vigília.

"Obstáculos não nos pararão. Não importa como estará o local, Deus estará conosco. E também não somos crianças e nem idosos, somos jovens. Vamos conseguir", diz a arquiteta Cynthia Akiki, 26. "Na Jornada de Madri, choveu e ficamos todos molhados. Não haverá problema".

Jovem peregrina do Rio diz que mudança foi "péssima"

Para uma jovem peregrina carioca, que não quis se identificar, Guaratiba teria mais estrutura do que a praia de Copacabana.

"Prefiro ficar lá com a lama do que em Copacabana. Estou há horas andando para conseguir um lugar para ver o papa e só me afasto do palco. Lá, nós ficaríamos bem mais próximos dele. Aqui não vai dar para ver nada", diz ela.

Outra estudante, que também preferiu manter o anonimato, disse que a organização deveria ter feito um plano B que impedisse o evento de ser levado para Copacabana.

"Aqui vai ser muito ruim, desorganizado. Lá estava tudo pronto, tinha que ter continuado em Guaratiba, mesmo com a lama. [A vigília] É um momento de todos ficarem juntos. Aqui vai ser disperso", afirmou a jovem.

Filipinos pediam sol para "secar a lama"

"Não sei como vou chegar à Guaratiba e nem com o que esse lugar se parece, mas ouvi dizer que está alagado. Espero que o sol apareça amanhã e seque a lama em Guaratiba", disse o irmão Vincent Celeste, 32, da igreja Maristas' Brothers (Irmãos Maristas), da cidade de Manila, nas Filipinas.

O religioso chegou ao Rio de Janeiro na terça-feira (16) com um grupo de mais três pessoas da igreja. Ele espera levar uma mensagem de "grande inspiração" para as Filipinas.

"Há uma grande discussão entre o governo e a Igreja Católica, em nosso país, sobre o uso de contraceptivos para controlar a natalidade e sobre o aborto. Não queremos que as pessoas façam isso. As pessoas precisam entender o significado da vida", diz ele, que viu o papa durante alguns segundos, antes de ele entrar no Hospital São Francisco de Assis, na Usina, zona norte.

"Esperei três horas para vê-lo e durou tão pouco. Mas tudo bem, já está bom".

Antes de saber da mudança, grupo de Londrina temia lama de Guaratiba

Um grupo de 40 peregrinos de Londrina que participam da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, planejava passar a noite de sábado (27) para domingo (28) em claro, em Guaratiba, zona oeste da cidade, onde ocorrerá a vigília. Por conta do mau tempo, o Campus Fidei, local onde os peregrinos passarão a noite do fim de semana, está alagado.

"Se a gente dormir no saco, nós vamos afundar naquela lama, então, vamos ficar acordados. Antes de chegar lá, nós vamos fazer a peregrinação de 13 km e o saco vai fazer peso. Para levar e não usar, melhor não levar", diz a farmacêutica Renata Consenvan, 42, que está hospedada com o grupo em uma Paróquia em Maria da Graça, zona norte da capital fluminense.

Para a estudante Carolline Costa, 16, que também veio com o grupo, a estrutura da Jornada em Copacabana, zona sul, e no Centro estão boas. Sobre Guaratiba, ela não sabe o que esperar."Não sabemos como vai ser, estamos indo na cara e na coragem. Acho que eles deveriam ter se preparado melhor. Pensando nas possibilidades em caso de chuva, de neve, de tudo", diz a peregrina.

Entre peregrinos brasileiros, espaço para satisfação e indiferença

Para o estudante Maicon Prestes, 21, de Maringá, no Paraná, a mudança não modifica em nada o planejamento para a vigília. "Para nós não faz diferença. A organização perde todo o trabalho que eles tiveram montando o palco", disse.

O comerciante Edgar Ferreira, 45, de Brasília, gostou da mudança. "Em Copacabana é muito melhor, mais perto. Estava muito preocupado sem saber como eu ia chegar lá e como ia ficar com toda a lama", afirmou.

Usuários do metrô se revoltam com pane e atrasos no Rio