Topo

Peregrino cospe no rosto de manifestante da Marcha das Vadias

Manifestantes realizam "Marcha das Vadias" na praia de Copacabana, Rio de Janeiro - Júlio César Guimarães/UOL
Manifestantes realizam 'Marcha das Vadias' na praia de Copacabana, Rio de Janeiro Imagem: Júlio César Guimarães/UOL

Rodrigo Bertolotto

Do UOL, no Rio

27/07/2013 14h27

Um peregrino cuspiu no rosto de uma manifestante que participava da Marcha das Vadias, realizada neste sábado (27), no posto 5 de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro. Em resposta à agressão, as mulheres rebolaram, mostraram os seios e a bunda.

O protesto é contra a política da Igreja Católica sobre o aborto e pedem por um "verdadeiro" Estado laico.  Um dos gritos que elas entoavam perguntava pelo morador que sumiu da Rocinha, na semana passada: "Papa levanta o seu vestido, quem sabe aí embaixo está o Amarildo?"

Um grupo de aproximadamente 50 peregrinos da França, do Chile e da Itália, que participam da Jornada Mundial da Juventude, se sentiram ofendidos com o ato e iniciam um bate-boca com as participantes do ato.

O incidente mais forte foi o encontro com um grupo católico que começou a entoar coros para o papa e a igreja. Logo surgiu uma troca de ofensas e gestos obscenos. Tirando isso, muitos peregrinos observaram a manifestação e alguns estrangeiros, sem perceber,  até se meteram no meio dos manifestantes.

A passeata feminina, porém, tomou direção de Ipanema, saindo do Posto 5 de Copacabana, enquanto os peregrinos rumavam para o Leme, na outra ponta da praia, que virou uma catedral nesses dias de Jornada Mundial  da Juventude.

A marcha usou de muito humor para fazer alusões às posições da igreja em relação ao aborto e aos métodos de anticoncepção. Uma manifestante carregou uma cruz com preservativos colados. Já um ativista se vestiu de papa, jogando purpurina como incenso, e soltou frases como “Olha só que legal, até o papa tem nome social”,  “A nossa luta é por respeito, mulher não é só bunda e peito” e “Se o papa fosse mulher, o aborto seria legal”.

Havia garotas com véu de freira na cabeça, sutiã à mostra e uma calcinha como venda. Outros seguravam placas com dizeres como “Chupai uns aos outros” e “Deus perdoa o estupro, mas nós não”, “A Barbie não me representa” ou “Tire seus conselhos dos meus pentelhos”.

A organização batizou o ato de “Jornada Mundial das Vadias”. Havia também faixa com trocadilhos como a sonoridade da sigla do evento católico JMJ: “Xota em mi xota”.

A Marcha das Vadias surgiu em Toronto (Canadá) e se espalhou pelo mundo como uma nova forma de congregar os diversos grupos feministas e dos direitos LGTB.

Havia no ato também mulheres católicas que são a favor do aborto, do sacerdócio feminino e dos padres casados. A passeata, em ritmo de Carnaval e funk, com direito a bateria e naipe de metais, seguiu na contramão da peregrinação.

Segundo Rogéria Peixinho, ativista da AMB (Associação de Mulheres Brasileiras), a visita do pontífice a capital fluminense tem  como "contraponto a livre manifestação de outra juventude", na rua, "protestando contra a opressão e o controle da vida e da sexualidade das mulheres".

"A presença do papa e os recursos públicos alocados para a visita de um líder espiritual colocam em xeque a laicidade do Estado. (...) Esse tema está dentro dos eixos da marcha, assim como o direito ao corpo, as denúncias sobre os casos de estupro que estão aumentando principalmente no Rio, e a formulação de políticas públicas de proteção às mulheres", disse ela.