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Manifestantes decidem passar madrugada em frente à rua onde mora Cabral, no Leblon

Cerca de 40 manifestantes ocupam faixa da avenida Delfim Moreira, na orla do Leblon, zona sul do Rio de Janeiro, em frente à rua onde mora o governador Sérgio Cabral (PMDB) - Gustavo Maia/UOL
Cerca de 40 manifestantes ocupam faixa da avenida Delfim Moreira, na orla do Leblon, zona sul do Rio de Janeiro, em frente à rua onde mora o governador Sérgio Cabral (PMDB) Imagem: Gustavo Maia/UOL

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

29/07/2013 01h16

Manifestantes que protestaram novamente contra o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), neste domingo (28), na frente da rua onde ele mora, no Leblon, zona sul do Rio, resolveram passar a madrugada no local e ocupar novamente o trecho da avenida Delfim Moreira, na orla, próximo à rua Aristídes Espínola.

Ao contrário da primeira ocupação, que ocorreu entre os dias 21 de junho e 2 de julho, e foi encerrada por intervenção da PM (Polícia Militar), os ativistas decidiram não armar um acampamento - pelo menos até a manhã desta segunda-feira (29). O objetivo foi evitar nova repressão da polícia.

Por volta das 23h, o capitão Paulo Rattes, que disse estar à frente do 23º BPM no momento, disse aos cerca de 40 manifestantes que permaneceram na via que a montagem de barracas ou estruturas físicas na rua ou na calçada não é permitida por lei e seria reprimida. Policiais do Batalhão de Choque ficaram desde o início do ato, por volta das 17h, na rua onde mora o governador, mas não foram acionados. Cerca de 100 pessoas participaram do protesto. Mesmo com a ocupação, o trânsito da Delfim Moreira foi liberado por volta das 0h30 desta segunda (29). Apenas uma faixa continuou ocupada.

Manifestantes comparam protesto à vigília da JMJ

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Como argumento para justificar o ato, os manifestantes lembraram o acampamento dos peregrinos da JMJ (Jornada Mundial da Juventude) -- da noite do sábado (27) para o domingo -- no bairro de Copacabana, também na zona sul. "A JMJ não fez vigília, procissão? Por que os peregrinos acampam e não são reprimidos e a gente vai ser?", questionou uma ativista mascarada. Desconcertado, o PM respondeu que o protesto "é uma outra questão" e que "lá [em Copacabana] era um evento oficial".

A advogada Eloisa Samy, 44 anos, foi voluntariamente prestar assistência jurídica aos manifestantes e resolveu continuar acompanhando o grupo até a manhã da segunda. "Estou aqui para ajudar a garantir o direito à livre manifestação. Até o tempo que aguentarem ou quiserem", declarou. Habituada a participara de outras manifestações, Eloisa lamentou o número de pessoas no ato. "A baixa adesão é uma tristeza, mostra que a psicologia do medo está funcionando", opinou.

O grupo de manifestantes se reuniu com frequência, em círculo, para discutir o movimento. Cada integrante teve a oportunidade de expressar opinião sobre o rumo das manifestações iniciadas em junho. No início da madrugada, eles chegaram a um consenso sobre os pontos da pauta de reivindicações do grupo: desmilitarização da polícia, impeachment de Cabral, CPI dos ônibus, liberação dos "presos políticos" e a solução do sumiço do pedreiro Amarildo, morador da favela da Rocinha desaparecido desde o último dia 14, depois de ser levado por policiais da UPP da comunidade.

"A gente quer respostas e a gente vai continuar", resumiu Luiza Dreyer, uma das manifestantes, que participou da primeira ocupação.

Apoio

Diversos motoristas que passaram pelo outro lado da avenida Delfim Moreira, na orla, buzinaram em apoio ao protesto. Alguns chegaram a gritar contra o governador Sérgio Cabral. Em outro sinal de aprovação ao ato, moradores do bairro foram até o local da ocupação levar pizzas, frutos e garrafas de água. Embalagens dos produtos doados logo viraram cartazes. A frase "não vai dar em pizza" foi escrita em caixa de pizza.

A atriz e produtora de teatro Mariana Guimarães Nicolas, 33, que é moradora do Leblon, foi uma das pessoas que levou alimentos para os manifestantes. "Fiz isso porque concordo com a pauta de reivindicações", explicou. "Vim mais cedo, mas não pude ficar. Depois, quando cheguei em casa, acompanhei pela Mídia Ninja e vi que o pessoal ia ficar aqui, para dormir. Por isso resolvi dar uma força de alguma maneira", afirmou Mariana.

A mensagem em uma placa fincada em um jardim no canteiro central da avenida Delfim Moreira deu mostras de que os protestos ainda devem continuar a tomar as ruas da cidade: "As manifestações não vão parar... Habemus força".