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Contradições com primeiro réu marcam depoimento de major em júri do Carandiru

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

31/07/2013 22h29

O segundo réu que aceitou falar em interrogatório no júri de policiais militares do Carandiru, na noite desta quarta-feira (31), contradisse informações do comandante de tropa que invadiu o terceiro pavimento do presídio. Ao todo, 25 policiais são julgados desde a última segunda-feira (29) pela morte de 73 presos do local.

Tenente à época do massacre, o hoje major Marcelo González Marques começou a ser interrogado por volta das 18h30 e negou ter visto presos mortos ou decapitados no pátio da antiga Casa de Detenção. A declaração havia sido dada mais cedo pelo coronel Valter Alves Mendonça, quem interrogado, disse ter atirado diante de “clarões e estampidos” –mesmo sem ter visto, admitiu, armas nas mãos de detentos.

Marques é um dos PMs transferidos do Comando de Choque da PM pela Secretaria de Segurança Pública para o CPC (Comando de Policiamento da Capital), na última sexta (26), três dias antes do júri

DRAUZIO VARELLA

Bruno Pedersoli/UOL
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Segundo Marques, que trabalhava na retaguarda da tropa de 30 homens que agiram no terceiro pavimento, ao entrar no presídio era possível ver “presos que estavam no pátio e correram para a parte interna do pavilhão”. Mais cedo, o comandante da tropa havia dito que, além de presos mortos, vira um decapitado –informação que, destacou a acusação, nunca foi trazida à tona pelo coronel em depoimentos prestados nos últimos 20 anos.

O réu contradisse o primeiro interrogado também ao negar ter visto policiais retirando armas das mãos dos detentos. Conforme Mendonça, que alegou ter atirado ante clarões, “duas ou três armas” foram recolhidas por ele próprio em uma das celas do pavimento. Indagado sobre o mesmo fato, Marques negou.

“Fui esfaqueado no braço, e, instintivamente, disparei contra o que vinha”, afirmou, para reforçar: “Um dos presos me esfaqueou e eu revidei, atirando”, declarou, frisando não ter olhado para dentro das celas. “Atirei em diagonal [no corredor, em direção ao preso supostamente armado]”, concluiu.

Ao contrário de declarações de testemunhas de acusação –tais como a do diretor de disciplina do Carandiru, Moacir dos Santos --, o major refutou que a entrada dos policiais do Choque no pavilhão tenha sido atabalhoada ou desordenada. Santos, por exemplo, chegou a dizer que os PMs quase atropelaram o diretor do presídio, Ismael Pedrosa, e entraram “como se comemorassem um gol”.

“[O trabalho de intervenção] Era coordenado”, disse. “O que fomos fazer era nossa missão. Cumprimos a ordem, que dizia respeito à nossa atividade. E não era a primeira vez que a Rota participava desse tipo de intervenção”, disse, referindo-se a rebelião em presídio e com confronto armado em relação à polícia.