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Vídeos sobre violência envolvendo policiais encerram penúltimo dia de júri do Carandiru

Gabriela Fujita e Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

01/08/2013 22h33

O penúltimo dia de julgamento de policiais militares acusados pela morte de 73 presos do Carandiru foi encerrado nesta quinta-feira (1º) no Fórum Criminal da Barra Funda (zona oeste de SP) com a exibição de vídeos sobre crimes praticados por policiais e contra a corporação.

Tanto a defesa quanto a acusação, após a apresentação do material, abriram mão da leitura de partes do processo pelos sete jurados, etapa que também era prevista para hoje. Os 25 PMs réus acompanharam da plateia do plenário a exibição feita em um telão.

Por parte da acusação, com 37 minutos, foi mostrada uma série de reportagens em vídeo sobre condutas criminosas de policiais militares em São Paulo e em outros Estados.

As reportagens elencadas traziam depoimentos de familiares dos presos assassinados no Carandiru, registrados tanto à época do massacre quanto no aniversário de duas décadas dele, em outubro de 2012, além de reportagens sobre crimes cometidos por policiais.

A promotoria lançou mão também de áudio de uma entrevista coletiva concedida pelo então governador Luiz Antônio Fleury Filho, em 7 de outubro de 1992 -- cinco dias após o massacre --, no qual afirmara a possibilidade de ter havido “uma violência desnecessária” dentro do presídio. “Que houve uma ação criminosa, eu não tenho dúvida”, disse, à época, perguntado por um repórter se havia ocorrido fuzilamento no pavilhão 9.

DRAUZIO VARELLA

Bruno Pedersoli/UOL
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Nas reportagens sobre violência policial, o Ministério Público exibiu um compilado de material sobre execuções comandadas por policiais militares e flagradas por câmeras escondidas.

Pela defesa, foram exibidos em 35 minutos trechos de vídeos incluindo um discurso do comandante-geral da Polícia Militar (abril/2012 a novembro/2012) Roberval Ferreira França, na Assembleia Legislativa de São Paulo, em que o comandante pedia mais reconhecimento ao trabalho de proteção e combate ao crime.

A maior parte do tempo de exibição foi destinada a depoimentos de um ex-carcereiro e de um ex-preso sobre a rotina na Casa de Detenção. Não foi indicada a data das gravações, mas os depoimentos teriam sido feitos após o massacre.

“Não é um massacre. Onde você tem uma população de nove mil pessoas, morreu (sic) cem, não morreu ninguém. Isso aí foi uma briga que começou por causa de uma bicha, um cara mexeu com a bicha do outro”, disse o ex-carcereiro.

“Todos os presos tinham seu espaço digno, tinham uma cama. Isso aqui em relação aos distritos é um paraíso”, citou o ex-presidiário.
Na parte final, foram exibidas cenas do funeral de um policial militar da Rota e um trecho do que seria um depoimento de um detento do presídio de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, que cita a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), ironizando quem tomava seu depoimento.