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Comando da PM afasta policiais que abordaram auxiliar dois dias antes de sua morte em Santos (SP)

Rafael Motta

Do UOL, em Santos

14/08/2013 09h19

Os três policiais militares que abordaram um auxiliar de limpeza que trabalhava para a Unifesp (Universidade Federal Paulista), em Santos (72 km de São Paulo), dois dias antes de seu assassinato foram afastados preventivamente do trabalho nessa terça-feira (13). Ricardo Ferreira Gama foi morto com oito tiros diante de casa, no bairro Vila Mathias, no último dia 2.

O comandante geral da PM paulista, coronel Benedito Roberto Meira, tomou a decisão quatro dias após o anúncio de que a corporação reabriria investigação interna para apurar a eventual participação de policiais na morte de Gama. A apuração recomeçou depois da divulgação de um vídeo no qual a vítima aparecia sangrando após abordagem policial, em 31 de julho.

Onde fica Santos

  • Santos está a 72 km de São Paulo

O afastamento, por tempo indeterminado, foi confirmado pelo secretário estadual de Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, em entrevista concedida ao jornal “A Tribuna”, de Santos, publicada na edição desta quarta (14). Ele disse que a medida deverá facilitar a investigação do homicídio – há a suspeita de que os PMs participantes da abordagem a Gama tenham relação com a morte.

Nessa terça, o delegado Ricardo Barbante Trentini, do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, da Polícia Civil), esteve em Santos para acompanhar a apuração do crime, sob responsabilidade do 4º DP (Distrito Policial) da cidade. Ele conversou com a mãe da vítima, Elvira Ferreira da Gama, e com testemunhas que dizem ter visto PMs agredindo o auxiliar.

Uma equipe do DHPP ficará em Santos por prazo indefinido e enviará relatórios diários das investigações ao secretário. “Não aceito abusos. Se estiver confirmada a participação dos PMs no crime, eles serão devidamente punidos. […] Quero saber, inclusive, por que não houve lavratura de boletim de ocorrência quando Ricardo foi apresentado no 4º DP [no dia 31]”, disse Vieira ao jornal.

O crime

Em 31 de julho, Ricardo Ferreira Gama foi interpelado, diante da unidade central da Unifesp por três PMs que apuravam uma denúncia de tráfico de drogas. Testemunhas afirmam que Gama – que tinha antecedentes criminais por esse crime e já havia cumprido pena – respondeu a uma ofensa feita por policiais e, depois disso, foi agredido.

Após a abordagem, estudantes da universidade foram informados, no 4º DP, de que PMs e Gama tinham ido ao Pronto-Socorro vizinho à Santa Casa de Santos para tratar dos ferimentos decorrentes da abordagem. Gama não registrou BO (boletim de ocorrência) contra os policiais.

Uma mulher que conversou com Ricardo Gama na Unifesp no dia 1º, por volta das 20h, declarou ao UOL, sob anonimato, ter perguntado ao auxiliar de limpeza se pretendia prestar queixa contra os policiais. “Ele me respondeu: 'Não, não vou fazer nada. Já avisei 'pra' polícia [que não registraria BO], eles sabem'. À 1h30 [do dia 2], ele foi assassinado”.

Após uma investigação interna, o comando da PM na Baixada Santista havia descartado que os policiais tivessem relação com a morte, pois “estavam em outros locais” no momento do homicídio. Porém, no dia 9, após a veiculação de um vídeo no qual Gama aparecia ferido dentro de uma viatura da PM, a corporação informou que reabriria as apurações.