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'Sem pessoas como eu, estaríamos num eterno papai-e-mamãe', diz Oscar Maroni

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

06/09/2013 18h01

O paulistano é aberto para discutir sexo --prova disso são os "inferninhos" e casas de massagem de freguesia cativa e os classificados em que esses serviços são anunciados. Mesmo assim, está cheio de "hipocrisias morais e sexuais" que precisam ser superadas. A opinião é do empresário Oscar Maroni Filho, 62, proprietário do Bahamas Club, localizado na zona sul de São Paulo.

"Por isso que ele precisa de gente como eu, ou como um Larry Flynt [editor da revista pornográfica ‘Hustler’, dos EUA]: para afrouxar um pouco essas hipocrisias. Senão, estaríamos num eterno 'papai-e-mamãe'".

Fechado desde 2007 por conta de uma briga travada dentro e fora da Justiça com a administração do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), o Bahamas se tornou uma espécie de meca do sexo no país e está próximo de ser reaberto: Maroni aguarda para os próximos dias o alvará provisório que possibilitará a reabertura da casa como "hotel e balneário".

Por sinal, foi no futuro hotel e balneário que o empresário, que também é psicólogo, falou com a reportagem do UOL sobre o Dia do Sexo, comemorado neste dia 6 de setembro. Maroni garante que o tema é "uma das maiores fontes de sofrimento e também de prazer do ser humano" e que julga dominar. "Já dormi com mais de 2 mil mulheres", gaba-se.

"As três maiores fontes de sofrimento do ser humano são o preconceito, o sexo e o amor. Se você não tem preconceito, as duas maiores fontes de satisfação passam a ser o sexo e o amor. Se o sujeito sente desejo, isso só pode ser extremamente saudável", analisa.

"Por que sexo tem que ser visto como algo indecente?"

Irreverente, Maroni permeia a entrevista com uma meia dúzia de "licença, senhora repórter" antes de cada palavrão. Prefere os jargões populares aos órgãos sexuais do homem e da mulher à terminologia politicamente correta. Justifica: "por que esse preconceito com a sexualidade humana? Por que isso, ou por que sexo tem que ser visto como algo indecente? Sexo deve ser encarado como fonte de equilíbrio emocional, de afeto, de autoestima", diz.

Se a sociedade paulistana aprendeu a lição que ele, Maroni, acredita ter sobre sexo? "Se não tivesse aprendido, não tínhamos tantas casas de massagem, boates, inferninhos como há nessa cidade. Algumas chegam a ter média de 200 mulheres e 300 homens por noite, é uma loucura. A sexualidade existe, a população não é preconceituosa. Mas alguns valores precisam ser revistos", afirma.

"Entre os valores [a serem revistos] está o que se vale da religião para justificar que o homossexualismo não pode ser naturalmente aceito", acrescentou

"Sou o oposto do Feliciano"

"Sou o oposto do [deputado federal Marco] Feliciano (PSC-SP). Dizer que as coisas que são proibidas estão assim definidas na Bíblia, um livro que foi escrito há mais de 2.000 anos? Desculpe, mas tenho minhas dúvidas", afirma.

Eleito este ano presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Feliciano causou furor em grupos de direitos humanos ao fazer críticas consideradas preconceituosas contra negros e homossexuais. Mesmo assim, foi ovacionado na Marcha para Jesus 2013 –megaevento evangélico que, este ano, reuniu cerca de 200 mil pessoas em São Paulo, segundo o instituto Datafolha.

"Meu papel é questionar essas hipocrisias. E se não fosse assim, nem os sex shops existiram", diz.

Empresário foi inocentado de favorecer prostituição

Condenado em outubro de 2011 a 11 anos e oito meses de prisão pelos crimes de favorecimento e exploração de casa de prostituição, Maroni foi absolvido em abril deste ano pelo Tribunal de Justiça paulista, que aceitou o recurso da defesa e entendeu que o Bahamas Club não se enquadra na atividade de casa de prostituição.

"Tenho minha honra lavada hoje; foi feita justiça", afirmou Maroni, que classifica o Bahamas como "um local para entretenimento de adultos". Entretenimento para o qual, por sinal, parecem não faltar candidatas: ele pega o celular e mostra à equipe de reportagem as fotos das garotas de programa interessadas na reabertura do estabelecimento.

Entre loiras, morenas, despidas e vestidas, os tipos são variados. "Isso aqui parece seleção de Big Brother. Mas eu não exploro essas mulheres –elas vêm, e, se quiserem ir para as suítes com o cliente, não sou eu que vou bater na porta para saber o que estão fazendo ou deixando de fazer”.