Os protestos do último 7 de Setembro foram marcados por menos manifestantes e mais prisões e registros de violência que aqueles realizados em junho -- quando o país viveu uma onda de manifestações.
Nas 11 principais capitais, 335 pessoas foram presas no último sábado (7). Em São Paulo e Belo Horizonte, 19 pessoas permaneciam detidos nesta segunda-feira (9).
O número de prisões cresceu significativamente de junho para agora. Em São Paulo e Brasília, por exemplo, foram registradas seis prisões (três em cada cidade), enquanto no Rio não houve registro, em compensação, o número de manifestantes desabou em comparação a junho. Em São Paulo, por exemplo, foram apenas 2.000, contra 110 mil, no dia 20 de junho --auge das manifestações, quando um milhão de pessoas foram às ruas no país.
Segundo o diretor-executivo da Anistia Internacional no Brasil, Átila Roque, o país vive um momento de "tensão" e pode estar diante de um "retrocesso injustificável" causado pela suposto abuso de autoridade policiais e criminalização pelo Estado dos integrantes de protestos nas ruas do país.
Análise
O cientista político e professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Cláudio Couto afirma que a redução no número de manifestantes tem ligação direta com o aumento da violência nos atos de rua.
População reclama de violência em protestos
"O que a gente verificou no feriado foi desdobramento de movimentos anteriores. Até mesmo pela estratégia de atuação --e aí particularmente falo dos black blocs--, outros grupos foram afastados. E sobra nessas manifestações quem é mais violento", disse.
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Couto, porém, diz que e impossível prever se as manifestações seguirão com tendência violências e cada vez mais vazias.
"No curtíssimo prazo, talvez seja a tendência [dos black blocs], mas enquanto eles se manifestam, outros setores são espantados do processo. Difícil afirmar de maneira categórica [se essa é a tendência]. Isso pode ocorrer, mas pode haver um esfriamento desses black blocs. Isso vai depender do clima do país, como os próprios políticos vão reagir", completou.
O sociólogo e professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Michel Zaidan Filho, diz que, desde junho, houve uma mudança de foco dos protestos, associada ao medo de confrontos.
"Aquelas primeiras foram muito espontâneas, e as pessoas com os mais diferentes objetivos. Agora houve uma radicalização, e muita gente não foi pela criminalização policial dos protestos. A maioria não quer enfrentar polícia, bombas", disse.
Para o sociólogo, as medidas que deram mais poder à polícia foram de "arbitrariedade imensa". "A polícia não tem critério algum. Estamos no momento muito crítico, de quase um estado declarado de exceção. Os governos se valem de um pretexto de máscaras, bombas, depredações, mas no fundo é uma tentativa de proibir as manifestações, de desestimular a população de ir à rua protestar", assegurou.
A mudança de comportamento, segundo Zaidan, ocorreu também porque o não mais o apoio generalizado da população, nem a visibilidade que ocorria em junho.
"É mais fácil reprimir assim. Você isola, estigmatiza e bate em cima. Quantas vozes vão se levantar contra? É um momento muito delicado", disse.
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