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Quase metade dos acidentes fatais com ciclistas em SP acontece em avenidas

Ricardo Ampudia

Do UOL, em São Paulo

18/09/2013 06h00

Em média, 45% dos acidentes fatais com ciclistas em São Paulo acontecem em avenidas. Em 2010, foram 24 vítimas neste tipo de via; em 2011, 21, e no ano passado, 20. Os dados obtidos pelo UOL junto à CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), via Lei de Acesso à Informação, dão conta de que as vias rápidas são mais perigosas aos ciclistas da capital, em especial nas periferias da cidade.

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De acordo com o engenheiro de tráfego Sérgio Ejzenberg, as ruas paulistanas não são seguras em especial pelo estreitamento que sofreram ao longo dos anos. “Nas periferias, as ruas são estreitas e sobrecarregadas, sobrando cada vez menos espaço para compartilhar com a bicicleta”, diz.

Segundo ele, São Paulo tem cometido há anos o equívoco de pensar que a solução para mobilidade se baseia em asfalto. “Fomos cortando canteiros, comendo calçadas, para fazer caber mais carros nas ruas. Isso gerou faixas de 2,5 metros. Com um carro tendo dois de largura, como compartilhar a faixa com a bicicleta e ainda manter uma distância segura de um metro e meio? Não dá”, explica.

Para o superintendente de planejamento e segurança no trânsito da CET Ronaldo Tonobohn, as soluções cicloviárias variam. “Em vias arteriais, com maior volume de veículos e velocidade, é incompatível o trânsito com bicicletas, aí é preciso segregar em ciclovias. Nas vias coletoras de menor movimento, com velocidade mais baixas, de 30 km/h ou 40 km/h, entendemos que o compartilhamento é possível, com ciclofaixa ou ciclorrota”, afirma.

Avenida controversa

Centro financeiro e cartão postal de São Paulo, a avenida Paulista já foi palco de dois acidentes bastante conhecidos. Em 2009, a cicloativista Márcia Prado, 40, morreu ao ser atropelada por um ônibus.

Dois anos depois, a bióloga Juliane Dias, 33, também perdeu a vida também ao ser atropelada por um ônibus, próximo à estação de metrô Trianon-Masp.

Mais recentemente, a perigosa relação entre ciclistas e a avenida Paulista voltou às manchetes, quando David Santos, 21, teve o braço amputado quando foi atingido pelo estudante de psicologia Alex Siwek, 22, que fugiu sem prestar socorro.

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Para os especialistas, é possível melhorar a Paulista para receber as bicicletas. “Tecnicamente existem soluções possíveis para qualquer grande avenida, mas tem de ser claro e discutido com a sociedade”, diz Tonobohn, que ainda afirma que São Paulo perdeu a oportunidade de discutir os usos da Paulista, durante sua última reforma, em 2009.

Ejzenberg, no entanto, acredita que possam haver soluções melhores para o trânsito de bicicletas na região. “Uma das alternativas é restringir o estacionamento de carros nas alamedas Santos e Campinas e focar na Paulista o fluxo de ônibus. Você afasta o ciclista do trânsito pesado, longe dos corredores, e ainda o coloca em uma via mais arborizada, com menos trânsito, menos poluentes”, explica.

O especialista ainda alerta para pensar uma política que contemple todo o sistema de trânsito, para que a solução seja efetiva. “A bicicleta é um elemento complementar. Estamos em uma metrópole de 11 milhões de habitantes, que não vai se resolver com bicicleta. A solução depende de pararmos de fazer obras inúteis que privilegiem o automóvel, para fazermos obras para privilegiar pessoas”, critica.

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